16. Não pode fugir do seu destino

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Não consigo impedir que a sensação incômoda cresça em mim. De alguma forma, essas pessoas com as personalidades alteradas têm as respostas. E, quanto mais busco entender, cada pista parece apontar não apenas para o responsável pelos desaparecimentos, mas também para a minha própria história.

Chego à delegacia e sigo para tentar falar com as novas vítimas.

Estou na sala de interrogatórios, observando o homem sentado do outro lado da mesa. Ele me encara com olhos inexpressivos, como os outros. Sua voz rouca não demonstra qualquer emoção, mas as palavras que ele disse minutos antes ecoam na minha cabeça:

- Você pertence a ele. E ele virá buscá-la.

Essas palavras me fazem estremecer, mas mantenho a fachada de calma.

- Quem é ele? - pergunto, minha voz cortando o silêncio.

Ele sorri. Não um sorriso comum. Havia algo de animalesco, como se o homem estivesse escondendo uma verdade terrível.

- Você vai descobrir... em breve. Ele viu você. Por que você correu?

Então, ele levantou a manga do casaco, revelando a marca gravada a fogo no braço: uma serpente.

Levanto-me, tentando controlar a pulsação acelerada. Preciso de respostas. Não apenas sobre o caso, mas também sobre mim mesma. Preciso começar a investigar o orfanato e parar de ignorar as lacunas do meu passado.

Nos dias seguintes, afundo-me na investigação, movida tanto pelo dever quanto por uma necessidade pessoal de compreender.

Minha mente fervilha. Sinto que o tempo está se esgotando. O número de vítimas tem aumentado consideravelmente, e a pressão dos meus superiores só cresce. Pego o telefone e digito o número que o orfanato me passou, depois de muita insistência. A pessoa que estava lá na época em que fui adotada já não trabalha mais na instituição. O telefone chama algumas vezes:

- Alô... - alguém atende.

- É a Dona Laureta?

- Sim, quem deseja?

- Aqui é Tália. Fui adotada na época em que a senhora estava à frente do orfanato, e gostaria de tirar algumas dúvidas.

- Oh, minha filha, não tenho mais acesso aos documentos, mas, se eu puder ajudar em algo...

- Sim, sim... eu sou a menina que foi encontrada pelos índios.

- Ahhh... Você é a Amanaci! Nunca esqueci o nome que eles te deram. Você foi achada pelo povo Iruá.

- A senhora tem alguma informação sobre eles?

- Claro, menina! O Pajé da tribo, sempre que me vê, pergunta sobre você. Ele acha que tem algum tipo de obrigação com você.

- Dona Laureta, a senhora pode me dar informações sobre como posso chegar até essa tribo?

- Claro que posso. Mas, por telefone, é complicado. Vou te passar o meu endereço. Você me procura, e eu te ajudo a chegar até eles.

- Ah, muito obrigada, de verdade.

Desligo o telefone e já penso em ligar para a Alexis para contar, mas sinto algo estranho, uma sensação ruim. Então, ouço o primeiro ruído. Um estalo, quase imperceptível, vindo do andar de baixo, seguido de um arrastar lento, como se algo estivesse sendo puxado pelo chão. Instintivamente, meu corpo congela, mas me forço a levantar e pegar minha arma. Desço as escadas, passando pela sala e me aproximando da porta, com os sentidos em alerta. O som aumenta, como se estivesse logo do lado de fora. Paro diante da porta, segurando a respiração, tentando controlar o pânico.

A maçaneta gira sozinha.

A porta se abre com um rangido lento, e a luz da rua ilumina três figuras com marcas no braço, seus rostos familiarmente inexpressivos, mas os olhos, de alguma forma, predatórios. O homem à frente fala em um tom monótono, quase como um cântico:

- Ele a quer de volta.

Minha pele se arrepia. Sabia que estavam falando de mim, mas o que queriam dizer com "de volta"? Meu coração dispara, e o pânico ameaça tomar conta, mas forço-me a manter a firmeza.

- Quem é ele?- pergunto novamente, sabendo que a resposta pode mudar tudo.

A única resposta que recebo é o movimento rápido de um deles, avançando em minha direção.

Ergui a arma e atirei no primeiro que entrou, e a bala atingiu seu peito e ele cambaleou para trás, mas não parou, os outros dois vieram logo atrás. Eu atirei de novo e de novo, mas era como se eles fossem imunes. Eles só continuavam, com seus olhos mortos fixos em mim.

Dei um passo pra trás, tentando pensar rápido. Meu coração martelava, e minha mente estava um caos. Não havia jeito de vence - los do jeito tradicional. Eu preciso sair daqui, criar uma distância. Corri para a escada, mas um deles agarrou meu braço com força, dei uma cotovelada em seu rosto, e senti os ossos quebrando sob o impacto, mas ele não recuou. Senti a adrenalina em cada poro do meu corpo.

- Você não pode fugir do seu destino. - Falou o outro se aproximando

Eles estavam ganhando terreno, faltava pouco para me dominarem por completo. É agora ou nunca. Com um movimento rápido chutei o segundo que se aproximava e ele caiu, derrubando o que segurava meu braço. Corri escada acima, e me tranquei no quarto.

Ouvia os passos lentos subindo as escadas , eles estavam vindo e agora estavam do outro lado da porta , tentando derrubá-la.

Meu coração batia como se fosse explodir . Eu precisava pensar em algo. Sabia que a força deles vinha de algum lugar... o mago. Se eu caisse nas mãos dele , o que quer que ele tenha planejado começaria. Um arrepio percorreu minha pele. Há algo errado nessa conexão. Tenho certeza que minhas investigações o irritaram. Mas o que ele quer comigo? Porque eu?

Antes que eu pudesse formular alguma resposta, a porta começou a ceder.

Eu só tinha duas opções: fugir, ou ser levada.
Eu precisava sobreviver para descobrir o que estava acontecendo, para parar esse pesadelo. Corri até a janela e sai pela escada de incêndio.

Desesperada, corri pelas ruas, tentando achar alguém para me ajudar, mas estava tarde e as ruas estavam desertas.
Continuei correndo e, por sorte, avistei uma viatura da polícia militar. Respirei aliviada; eu estava a salvo. Pelo menos por enquanto.

Caminho dos Sonhos- A Terra SecretaOnde histórias criam vida. Descubra agora