13. Encare a Realidade

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Saio da delegacia, entro no carro, paro por alguns segundos olhando para o vazio. Despois de um tempo organizando as ideias, ligo o carro e vou para meu destino.
Quando chego ao café, ela já está lá.

- Oi, demorei?

- E quando é que você foi pontual? - ela responde.

- Mas gente... Mulher, tenha calma - digo, sorrindo para ela.

Ela me olha com preocupação.

- Vamos, sente aí. Deixa eu ver!

Olho para Alexis, e um peso se instala no meu estômago. Sinto calafrios só de lembrar do pesadelo que tive e da marca que ele me deixou. Estendo o braço esquerdo - exatamente o mesmo braço que os desaparecidos são marcados, e mostro o hematoma.

- Isso são escamas? - ela pergunta. - Parece ser marcas de escamas, como se tivessem apertado aí - Alexis fala.

Tento pensar em uma resposta lógica, mas é impossível. Então conto o que aconteceu:

- No meu pesadelo, eu estava em um lugar que parecia meu quarto, mas as paredes eram cinzas. O lugar parecia frio. A cama era diferente, parecia muito maior que a minha...

Paro de falar por um instante, tentando não sentir o medo novamente ao lembrar.

- Os lençóis eram pretos e pesados. Eu sentia que alguém me olhava, mas eu não conseguia mover um músculo para ver quem estava lá. Eu só ouvia a respiração, sentia o calor de um corpo próximo ao meu. A pessoa ou coisa, não sei o que era, encostava o nariz no meu cabelo e cheirava.

Parei novamente. Minhas mãos estavam geladas. Alexis me olhava com um olhar de angústia.

- Você quer continuar falando? Está se sentindo bem? - ela perguntou.

- Sim, eu preciso... - E continuei: - Eu não conseguia me mover, mas em um determinado momento essa pessoa ou coisa se afastou de mim. Então, eu consegui me mexer. Eu me sentei na cama e observei o quarto. Parecia o meu, mas era totalmente diferente. Não sei te explicar como pode ser isso, a sensação era de estar na minha cama.

Então, eu vi uma criatura entrando pela janela. Era uma mulher, mas também uma cobra da cintura para baixo. Eu tentava sair da cama em completo desespero, mas não conseguia. Ela rastejou até mim, segurou meu braço, e eu senti um calor naquele lugar. Então ela disse: - "Basta dizer sim, ele vai cuidar de você. Você sempre foi dele."

Alexis deu um pulo da cadeira e quase gritou:

- Você não foi louca de dizer sim!!! Eu arranco seus cabelos mulher!!

Dou uma risada sincera - só ela para me fazer rir nessa situação.

- Não, eu disse não. E nesse momento eu acordei desnorteada, sem entender onde estava. E o meu braço ficou com esse hematoma.

- Tália, eu já te falei um milhão de vezes...Você precisa entender o que aconteceu com você quando era bebê. As histórias só são lendas porque é mais fácil para as pessoas acreditarem que não existe nada além dessa realidade. Mas, desde que eu te conheço, essas coisas acontecem com você, e agora está ficando pior.

- Eu sei, Alexis...

- Não, você não sabe! Se soubesse, já teria pegado suas coisas e ido para o lugar onde te encontraram quando bebê. Porque eu tenho certeza de que as respostas estão lá, com as pessoas que te acharam. Você fica se escondendo da realidade, como se isso fosse resolver. ACORDA PRA VIDA MULHER!!!

Ela me olha indignada, como se a resposta estivesse na minha cara.

- A reportagem que você achou! O pajé disse que tinha que te proteger das serpentes de fogo. Será que você não vê?

- Alexis... Você quer que eu vá pro meio da Amazônia procurar por uma tribo que diz que a voz da água me deu pra eles! Você percebe que isso não faz o menor sentido?

- Sim, eu quero que você vá. E faz sentido tudo o que você passou até aqui? Os pesadelos, as visões, os espelhos... faz algum sentido?

- Alexis, eu...

- Olha, Tália, quando você resolver encarar a realidade e finalmente descobrir o que aconteceu com você, eu estarei aqui para te ajudar. Mas faça essa escolha logo, porque sua aura continua faltando um pedaço, e o que está aí está enfraquecendo. Me dá sua mão!

Eu estendo a mão para ela.

- O rio de prata, Tália! Tudo muda pra você, menos o rio. Você viu água no pesadelo?

- Não, dessa vez não teve água.

- Você tem que achar o rio.

O telefone dela toca. Ela atende, fala por alguns minutos e então desliga.

- Eu preciso ir, minha avó precisa de mim. Mas pensa no que eu te falei. As coisas estão ficando perigosas.

Ela se despede e sai da cafeteria. Eu ainda fico ali sentada por alguns minutos, olhando para minha mão e para a marca arroxeada no meu braço. Eu realmente não sei o que fazer...Nem na minha vida pessoal, e nem com o caso que estou investigando. A única coisa que sei é que de alguma forma, tudo está conectado.

ALEXIS

ALEXIS

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Caminho dos Sonhos- A Terra SecretaOnde histórias criam vida. Descubra agora