Cheguei à rua sem fôlego, com o peito queimando. A adrenalina me impeliu a continuar correndo; nem olhei para trás. Meus sentidos estavam em alerta máximo. O som de sirenes ao longe foi uma âncora de esperança. Virei a esquina e lá estava uma viatura. Meus pés ganharam novas forças.
— Ei! Socorro! — gritei, acenando desesperada.
Os policiais desceram, confusos, mas sem hesitar. Expliquei tudo, atropelando as palavras, e eles concordaram em me levar para casa. Eu tremia tanto que mal conseguia falar direito.
Assim que chegamos à minha casa, entramos com cautela, ainda movidos pela adrenalina. Revirei cada canto, esperando encontrar algum sinal da invasão, uma pista, uma marca, qualquer coisa. Mas não havia nada.
A sala estava completamente organizada. Nenhum sinal de luta ou invasão. Nem uma gota de sangue.
Os policiais trocaram olhares rápidos entre si. Um deles tentou me tranquilizar com uma expressão neutra, mas eu conhecia aquele olhar. Era o olhar de quem lida com alguém que eles acham estar à beira de um colapso.
— Delegada, não tem nada aqui. Talvez tenha sido o estresse. Esses casos estão pesando, não é? — sua voz era cuidadosa, como quem fala com uma criança que acabou de acordar de um pesadelo.
Abri a boca para protestar, mas as palavras morreram na minha garganta. O que eu poderia dizer? Que fui atacada por pessoas possuídas por magia e fugi pela janela do meu prédio? Quem acreditaria? Eles não viram o que eu vi. Apenas suspirei, já cansada de toda aquela situação.
No dia seguinte, a bomba veio. Fui chamada à delegacia pelos meus superiores. Disseram que estavam preocupados com o meu bem-estar, que eu estava trabalhado demais.
— Talia, talvez um tempo fora do caso seja o melhor para você — disse o delegado-geral.
Eu queria gritar. Queria bater na mesa e exigir que me ouvissem, mas permaneci em silêncio, com a raiva e a frustração fervendo dentro de mim.
Eles acham que estou perdendo o controle. Que estou imaginando coisas. Afastaram-me do caso mais importante da minha carreira, como se eu fosse frágil, como se o estresse estivesse me quebrando.
Mas eu sei o que vi. E vou continuar investigando. Não importa o que digam. Eu não vou parar. Não posso parar.
O mago das serpentes está à solta. E seu exército também.
PESSOA DO CASO DAS PERSONALIDADES ALTERADAS
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Depois de ser afastada do caso, decidi que este era o momento para continuar a investigação por conta própria. Estou mais determinada do que nunca a desvendar o mistério das pessoas transformadas. E sei exatamente por onde começar.
Peguei o telefone e liguei para Alexis: — Chegou a hora. Você vem comigo?
— Só me diz quando!
Alexis aceitou ir comigo rumo à Amazônia. Ela sempre acreditou que minhas origens poderiam estar profundamente conectadas a esse enigma. Juntas, embarcamos nessa jornada arriscada em busca de respostas, cientes de que o caminho pode revelar segredos tanto sobre o caso quanto sobre minha própria vida.
Chegamos ao aeroporto e seguimos as instruções que Laureta nos deu para encontrar seu endereço. A floresta ao nosso redor parecia respirar, viva e pulsante, enquanto Alexis e eu nos aventurávamos mais fundo na Amazônia.
— O que você acha que vai descobrir quando encontrarmos os Iruá? — Alexis perguntou, sua voz suave cortando o silêncio.
— Não sei... — respondi, olhando para as árvores densas ao redor.
— Mas algo dentro de mim sempre me disse que a resposta está com eles. Há uma razão para tudo o que acontece com você, e você precisa entender o porquê — disse ela, séria.
Finalmente, depois de dias de viagem, chegamos à pequena vila onde Laureta vivia. O calor do dia fazia o ar vibrar, e o som constante dos insetos preenchia o ambiente. Quando bati à porta de madeira gasta, ouvi passos lentos se aproximando. A porta se abriu com um ranger suave, revelando Laureta. Seus olhos se estreitaram ao me ver, e, por um momento, ela parecia estar diante de um fantasma.
— Talia... — ela murmurou, como se testasse a realidade do que via.
— Sim... — respondi, tentando manter a voz firme. — Vim por respostas. Preciso entender o que aconteceu comigo e o que os Iruá sabem.
Laureta nos convidou a entrar. A casa era simples e aconchegante. Ela se sentou à nossa frente, suas mãos enrugadas descansando no colo. Fui direto ao ponto, explicando o motivo da nossa busca e o que eu já sabia.
— Laureta, os Iruá me encontraram quando eu era apenas um bebê. Eles disseram algo sobre isso, sobre de onde eu vim? — perguntei ansiosa.
Ela hesitou, seus olhos vagando pelo passado antes de finalmente responder:
— Os Iruá nunca contaram tudo, mas o que me disseram sempre me assombrou. Eles acreditavam que você foi dada a eles pelo Espírito das Águas.
Meu coração deu um salto.
— Espírito das Águas?!
Laureta assentiu lentamente.
— Diziam que você apareceu misteriosamente nas margens de um rio sagrado, em uma noite de lua cheia, quando as águas brilhavam com uma luz incomum. Para eles, você não era uma criança comum. Eles acreditavam que o Espírito das Águas te trouxe para que eles cuidassem de você.
Fiquei em silêncio, absorvendo tudo. Espírito das Águas? Isso explicaria por que tantas coisas inexplicáveis sempre me aconteceram? Como as pessoas alteradas , ou a estranha conexão que eu parecia ter com o mundo espiritual? Alexis estava ao meu lado, quieta, mas seus olhos estavam cheios de perguntas.
— Eu sempre soube que havia algo mais — murmurou Alexis para si mesma. — Sempre senti que faltava um pedaço de você. Sua aura falta uma parte. Você precisa encontrar os Iruá Tália — disse ela.
Laureta se inclinou para a frente e acrescentou:
— Os Iruá acreditam que você tem uma ligação especial com o sobrenatural. Sim, você precisa encontrá-los para entender completamente o que isso significa. Mas saiba que essa jornada pode te levar por caminhos que você nunca imaginou.
— Estou pronta — respondi, com mais confiança do que realmente sentia. Eu tinha que estar pronta. Havia muito em jogo.
Ela nos deu instruções para encontrar a tribo. Seria uma jornada difícil, mas necessária. Quando Alexis e eu saímos da casa de Laureta, a floresta parecia ainda mais viva ao nosso redor, como se estivesse esperando por mim. Não podia deixar de sentir que essa viagem nos levaria não apenas à origem do meu nascimento, mas também às respostas para os mistérios que sempre me seguiram.
Agora, mais do que nunca, eu precisava descobrir quem eu realmente era.
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Caminho dos Sonhos- A Terra Secreta
FantasyOlá querido leitor... Eu me chamo Tália, e estou aqui para contar a minha história. Você encontrará nas linhas a seguir muito drama, aventura, suspense , um pouco de terror e ódio e também amor . Afinal de contas é assim que se desenrola a vida . ...