Caminho dos Sonhos- A Terra Secreta

23. É um Sonho?

Após acordar do sonho com o Rio de Prata, onde o Espírito das Águas me disse que o caminho de volta à terra mãe estava dentro de mim, a sensação de confusão e responsabilidade pesava sobre meus ombros. Como poderia encontrar esse caminho se tudo dentro de mim parecia um labirinto? Havia tantas perguntas sem respostas. Alexis me olhava com expectativa, ansiosa para saber o que havia acontecido no sonho, mas meus pensamentos estavam tão distantes quanto as estrelas.

- Talia, o que foi? Fala comigo - Alexis disse, percebendo meu olhar perdido.

Contei-lhe tudo: o sonho, a voz do Espírito, o rio brilhante, e a certeza de que minha jornada não era apenas física, mas também interna e espiritual. Eu teria que encontrar algo dentro de mim, mas como? Eu sempre fui tão apegada à razão, às coisas que podia ver e tocar. Alexis me ouviu com atenção, seus olhos sempre tão focados, e quando terminei, ela não hesitou.

- Acho que devemos falar com o Pajé. Talvez ele possa te guiar.

Concordei. Eu não tinha outra escolha. Não sabia por onde começar, e qualquer ajuda seria bem-vinda. Alexis e eu fomos ao encontro do Pajé, que estava sentado à sombra de uma grande árvore. Sua presença sempre me trazia uma sensação de calma, como se o mundo parasse ao redor dele. Contamos a ele sobre o sonho, sobre o Rio de Prata e minha necessidade de encontrar o caminho de volta à terra de onde, aparentemente, eu vinha.

Ele ficou em silêncio por um momento, depois me olhou com seus olhos profundos, que pareciam ver além da superfície.

- Talia, você sempre foi apegada demais à lógica das coisas - disse ele com sua voz grave e pausada. - Mas o que você precisa encontrar não está nas respostas racionais. Está na aceitação de quem você realmente é. Durante toda a sua vida, você acreditou ser inferior, menos digna de amor e respeito, por causa das ofensas e da falta de afeto que sofreu. Mas essa é uma mentira que você carregou consigo.

As palavras dele tocaram uma ferida antiga, algo que eu mantinha bem escondido. Sempre carreguei esse sentimento de inadequação, de que nunca seria boa o suficiente. Sempre me comparando aos outros, achando que algo estava errado comigo.

- Você precisa aceitar que é capaz - continuou o Pajé. - A verdade que você procura já está em você. Mas precisa abandonar o medo e abraçar quem você realmente é.

Eu não sabia o que dizer. Aquelas palavras me atingiam profundamente, como se ele estivesse desnudando uma parte de mim que eu não queria encarar. Alexis, sempre ao meu lado, colocou a mão no meu ombro, oferecendo seu apoio silencioso.

- Vamos caminhar - o Pajé sugeriu. - A floresta pode te ajudar a se reconectar com as forças da natureza. Elas te mostrarão o caminho que sua razão não pode ver.

Aceitamos o convite, e começamos a andar pela floresta. O som das folhas sob nossos pés, o farfalhar suave do vento nas árvores e o cheiro fresco da terra me envolviam. Aos poucos, eu me sentia mais leve, como se o peso do mundo começasse a se dissipar.

Após algum tempo de caminhada, chegamos a um penhasco. Era muito alto, o vento parecia uivar ali. Um lugar que causava arrepios, mas também era lindo. Havia um rio correndo lá embaixo, brilhando com a luz suave da lua. O cheiro das flores noturnas era doce e envolvente, e círculos de pedras brancas estavam espalhados ao redor. Havia algo sagrado naquele lugar, como se o tempo não existisse ali.

O Pajé parou à beira do penhasco e se virou para mim.

- O caminho está no seu coração, Talia. Aceite quem você é.

Antes que eu pudesse responder ou entender completamente o que ele quis dizer, ele me empurrou. Eu senti o vento chicotear meu rosto, o vazio embaixo de mim se aproximando rapidamente. O que ele fez? Eu não sabia nadar direito, e o pânico tomou conta do meu corpo enquanto caía na água brilhante.