08. Lembranças

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Um sono pesado se abateu sobre mim. Era doloroso manter os olhos abertos, a visão escurecendo aos poucos. Enquanto lutava para mantê-los abertos, vi luzes piscando ao meu redor. 
— Que luzes são essas? - Pensei, brigando com minha mente.

Eu precisava entender o que estava acontecendo no meu quarto. 
Me esforcei para abrir os olhos e, quando consegui, as luzes piscantes me cegaram. Fechei os olhos novamente, mas algo estava diferente. Eu estava deitada em algo úmido, com o cheiro de terra molhada preenchendo o ar. Então, ouvi minha própria voz, como um grito: 

— ABRA OS OLHOS AGORA... CORRA!

Abri os olhos em agonia. O ar gelado invadiu meus pulmões, e me vi em um lugar cercado por árvores densas, que bloqueavam toda a luz do sol. O ar pesado dificultava a respiração, enquanto uma névoa espessa pairava sobre o chão. Senti as folhas úmidas sob meus pés. O silêncio era opressor, interrompido apenas pelo som de passos pisando em galhos e folhas, e pelo assobio do vento nas árvores. 
— Onde estou? - Pensei, assustada. 

Então, ouvi uma voz ao longe: 

— Venha... venha para mim... VENHA AGORA.

Corri na direção oposta, meus pés afundando na terra macia, meu coração querendo saltar do peito. A névoa embaçava minha visão, fazendo com que cada sombra parecesse se mover em minha direção. A energia massiva do lugar arrepiava todos os pelos do meu corpo. Eu me sentia presa, envolvida por algo sombrio.

— Venha... venha... 
A voz continuava a me chamar. Eu não conseguia ver, apenas ouvir.

Tentei fugir, mas a floresta parecia se estender infinitamente, com os caminhos se fechando e mudando à minha frente, como um labirinto vivo. Senti como se olhos estivessem me observando.

— Venha... venha! - A voz repetia, mais próxima.

Eu precisava acordar. 
— Acorde, por favor, acorde... - Implorava a mim mesma.

Os galhos das árvores estalavam e se fechavam atrás de mim. Eu não ia conseguir escapar. 

— Corra, Tália.  Pensei desesperadamente.

Avistei uma luz no horizonte. Meus passos se tornaram mais rápidos, apesar do cansaço pesando nas minhas pernas. Eu estava chegando perto da luz. 

— Não adianta correr... - A voz disse novamente, fria.

Cheguei à origem da luz, uma pequena clareira cercada pela escuridão. Mas não havia nada ali. De repente, as luzes começaram a piscar diante dos meus olhos, e perdi a consciência, caindo em um abismo.

Quando abri os olhos, me sentei num rompante, o grito sufocado na garganta. Ainda sentia o cheiro daquele lugar, e minha respiração estava pesada. 
— Onde estou...?

Minha visão estava desfocada, e uma luz forte machucava meus olhos. Então, vi minha mãe, assustada, diante de mim. 

— Você está bem Tália? Estava gritando por socorro. 

— Acho que tive um pesadelo...

— Sei... vá até a cozinha e tome um copo de água com açúcar. Isso ajuda.

Fiz o que minha mãe mandou e voltei para o quarto. Não conseguia mais dormir, pensando no pesadelo que acabara de ter. Eu estive lá! Senti os pés na terra, o cheiro, o frio... Estava cansada como se realmente tivesse corrido. Não foi um sonho, ou foi?

Peguei um caderno na escrivaninha e comecei a anotar tudo sobre o pesadelo. Eu precisava lembrar de cada detalhe para pesquisar depois. Quando terminei, senti o sono me abraçando novamente. Guardei o caderno e caminhei até a cama. Ao me sentar, olhei diretamente para o espelho em frente à cama. Meu coração quase parou quando vi que ele estava todo embaçado, com uma escrita que dizia: 

**"Eu avisei."**

Imediatamente, lembrei do homem de olhar amedrontador no carro. Levantei-me às pressas, peguei um lençol e cobri o espelho. 

— O que está acontecendo comigo? Preciso de ajuda...

Não consegui mais dormir. Sentei no chão, do outro lado da cama, como se a distância do espelho pudesse me proteger de algo. Quando o sol começou a ensaiar seus primeiros raios da manhã, finalmente peguei no sono.

Caminho dos Sonhos- A Terra SecretaOnde histórias criam vida. Descubra agora