15. Sombras do Passado

8 1 31
                                    

Pego o carro e sigo para a casa da minha mãe. Preciso dos contatos e de toda a informação que ela puder me dar sobre a minha adoção.
Sei que até agora tentei negar muitas coisas que aconteceram comigo. Cheguei a buscar ajuda médica, mas nada resolveu.

Quando completei 18 anos, por alguma razão as vozes no espelho pararam, mas os pesadelos se intensificaram, seguidos pelas visões.
Muitas vezes achei que estava enlouquecendo. Na verdade, ainda acho.
Mas agora, esse caso que estou investigando parece ter uma ligação direta comigo.

— Eu vou descobrir o que está acontecendo com essas pessoas. E se no processo descobrir o motivo de tantas coisas estranhas acontecerem comigo, será um bônus — digo para mim mesma.

Estaciono o carro, vou em direção a entrada da casa, ainda tenho a chave da casa. Entro e ouço vozes na sala. Para meu desprazer, minhas tias estão aqui.

— Olha quem está aqui! A delegada da família! — diz tia Lidiane.

— Desde que saiu de casa, até esqueceu que tem família. Só vem assim, quando quer alguma coisa — fala tia Letícia, destilando seu veneno.

— Pois é, tia. É que cobra a gente não visita. E, para sua informação, eu falo sempre com meus pais.

— Você nunca prestou Tália. Sempre se fazendo de boa moça, mas todos sabemos que seu sangue tem coisa ruim... Mais uma prova disso é que está aqui esfregando sua ingratidão na cara da sua mãe, pedindo informações sobre sua adoção. Está querendo encontrar os "paizinhos" que te largaram para morrer? — Letícia vomita as palavras.

— Letícia, por favor! — fala minha mãe.

— Qual o seu problema tia? Por que é tão amarga? Nunca te pedi nada! Nem afeto, nem nada. Você é tão infeliz que precisa machucar os outros?

— Meu problema foi você ter entrado nesta família! Você provavelmente é filha de alguma prostituta que se deitou com qualquer um. Por isso te deixaram lá para morrer. E agora vem ofender sua mãe e seu pai pedindo informações desses porcos sujos... Você não nega o sangue.

Meu sangue ferve. A raiva e a revolta me consomem, e minha mão cria vida própria. Quando dou por mim, minha mão já está marcada no rosto da minha tia.

— Como ousa...? — Ela grita.

— Tália, pelo amor de Deus! — minha mãe grita. — Você sabe que nada disso é verdade! Por que enfrentar sua tia?

— Mãe, alguma vez na vida você pensou em me defender de algo? Sabe mãe, amor não é só não deixar faltar nada. Sou muito grata por tudo que fez, mas você nunca olhou para mim de verdade. Eu precisava de mais do que coisas, precisava ser vista pela senhora. Mas sempre fiquei à sombra da filha que você perdeu.

Meu rosto arde com o tapa que levo da minha mãe. As lágrimas correm pelas minhas bochechas e minha garganta arde com o bolo de emoções que tento engolir.

— E eu sinto muito por não ter sido o que você esperava quando me adotou. Sinto ainda mais por ter tentado sempre ser a filha que não erra, a filha boazinha, a filha que tira boas notas, tentando ganhar o mínimo de atenção. Eu precisei de você tantas vezes, mas você não estava lá. Não viu como eu era maltratada na escola, não me abraçava quando tinha pesadelos, nunca me defendeu das minhas tias... Eu era seu trabalho, não é? A responsabilidade que você assumiu para ocupar o tempo e não lembrar dela — as lágrimas escorrem doloridas dos meus olhos, e sinto a pele arder onde passam.

— Tália, o que você veio buscar está na mesa da cozinha. Pegue e vá embora. Deixe a cópia da chave na mesa — diz minha mãe, controlando qualquer tipo de emoção na voz.

Olho incrédula. Sem mais o que dizer, caminho até a mesa, pego as coisas, deixo a chave e vou em direção à porta.

— Tália! — minha mãe chama.

Eu olho em sua direção.

— Você não foi um trabalho, mas a dor me impediu de ser a mãe que eu deveria ter sido. A única maneira que encontrei de suportar foi cuidar das suas necessidades, te dar o melhor. Sinto muito se isso não foi suficiente.

Sem responder, sigo para o carro, coloco os papéis no banco e finalmente deixo o choro sair.

— Por que minha vida tem que ser assim? O quão errada eu sou para que as pessoas não consigam me amar?

As lágrimas descem em cascatas dolorosas. Por que ainda espero algo?
Em meio às lágrimas, ouço meu celular tocar. Olho para o visor e vejo o nome de Paulo.
Limpo as lágrimas e tento atender sem deixar que a voz embargada denuncie meu choro.

— Alô... Paulo, algum problema na delegacia?

— A senhora tem que vir agora! Mais duas vítimas foram encontradas. Um homem e uma mulher.

Suspiro cansada e respondo:

— Já estou a caminho.

Desligo o telefone. Encosto a testa no volante, tentando organizar as ideias. Uma raiva toma conta de mim e começo a socar o volante.

— Merda... merda... merda... Que bagunça a minha vida se tornou!

Ligo o carro e dirijo o mais rápido que posso para a delegacia.

Caminho dos Sonhos- A Terra SecretaOnde histórias criam vida. Descubra agora