24. Druvinya? Onde Estou?

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A escuridão me envolveu quando Zaalthos murmurou aquelas palavras estranhas, e não senti mais nada. Ao abrir os olhos, não sabia quanto tempo havia passado.
Estava deitada em uma cama de madeira maciça e rústica, cercada por paredes de pedra grosseiramente trabalhadas. O ar carregava um cheiro de ervas e madeira queimada, com uma leve umidade. Não era o tipo de lugar que eu esperava estar, lembrava algo saído de um conto medieval, como se eu tivesse sido transportada para um tempo esquecido.

O quarto era pequeno, iluminado apenas pela luz que vinha de uma janela alta e estreita, onde pesadas cortinas de tecido grosso bloqueavam o vento frio. A cama em que eu estava tinha um colchão de palha coberto por um tecido simples e um cobertor pesado, que parecia ter sido feito à mão. Nas paredes, vi prateleiras cheias de frascos e pequenos potes, possivelmente de poções e ervas medicinais. O chão era de pedras frias, e havia um som leve e contínuo de madeira estalando em uma lareira, que aquecia o ambiente. Era quase aconchegante, mas havia algo de inquietante naquele lugar.

Tentei me levantar, mas um calafrio de dor percorreu meu corpo, especialmente o pé, que latejava intensamente. Antes que eu pudesse me forçar a ignorar a dor, uma mulher alta e esguia, de cabelos grisalhos presos em um coque baixo, se aproximou e tocou meu ombro com suavidade.

- Não se levante ainda, querida. Você está muito fraca, e o corte no seu pé ainda está bem feio. Precisa de tempo para se recuperar.

Observei seu rosto, que exibia rugas finas e gentis. Ela tinha uma voz suave, mas firme, o tipo de voz que você sente que pode confiar. Com um sorriso gentil, ela me ofereceu uma tigela fumegante de sopa e um pedaço de pão escuro.

- Coma. Isso vai lhe dar forças - disse, entregando-me a tigela.

A fome me atingiu com força, aceitei a sopa sem hesitar. Era simples, mas quente e reconfortante, com pedaços de raízes e legumes. Mastiguei o pão devagar, enquanto a mulher observava atentamente.

Depois de alguns minutos, consegui perguntar:

- Eu me chamo Tália, e a Senhora?

- Me chamo Ysolde, menina. - Disse com um sorriso gentil.

- Onde... onde estou? E quanto tempo eu dormi?

Ysolde inclinou a cabeça, como se estivesse ponderando a melhor forma de responder.

- Dormiu por dois dias menina. E você está em Eslora, no vilarejo de Druvinya - respondeu, como se fosse uma resposta evidente.

Aquela informação apenas aumentou minha confusão. Nunca ouvira falar de Eslora, muito menos de Druvinya. Era como se eu tivesse sido lançada em outro mundo.

- E... e o homem que me encontrou? - perguntei, hesitante, lembrando-me vagamente da figura de Zaalthos antes de eu desmaiar.

Ela assentiu, compreendendo a quem eu me referia.

- O príncipe Zaalthos pediu que eu cuidasse de você. Ele é quem a trouxe aqui, mas raramente permanece no castelo. Está sempre por aí, rondando suas terras, garantindo a segurança dos vilarejos e das pessoas. Foi numa dessas rondas que ele a encontrou, desacordada perto do rio.

O príncipe Zaalthos? Ele é um príncipe?Isso ecoou em minha mente, trazendo uma estranha mistura de fascínio e medo. Eu não conseguia lembrar direito o que havia acontecido, mas havia algo de magnético naquele homem. Parecia quase sobrenatural.

A mulher observava meu silêncio com curiosidade, e por fim perguntou:

- Mas... como você foi parar lá, tão longe? Sozinha e com um ferimento assim?

Tentei buscar respostas em minha mente, mas tudo parecia enevoado, confuso. A lembrança do Pajé e de seu olhar implacável flutuou em minha memória. Havia algo sobre um rio, sobre uma água fria e escura me engolindo. A sensação de afundar, de ser envolvida por sombras.

- Eu... não sei - respondi, sentindo um nó de frustração e insegurança no peito. - Lembro-me apenas de ter sido empurrada... pelo Pajé, e depois caí no rio. Depois disso, tudo ficou turvo.

A mulher assentiu com compreensão, mas também com uma pitada de curiosidade, como se tentasse entender como uma jovem como eu poderia ter chegado até ali.

- É normal não se lembrar de tudo após um trauma - disse ela, tentando me tranquilizar. - E talvez seja melhor não forçar a memória agora. O importante é que você está a salvo.

Olhei ao redor mais uma vez, tentando absorver os detalhes do ambiente, mas havia algo de surreal naquela situação. Estava claro que este não era o mundo que eu conhecia. Algo em meu íntimo me dizia que tudo era estranho demais para ser uma coincidência. E se aquilo fosse apenas mais um sonho? Ou, pior ainda, se eu tivesse realmente sido levada para outro lugar, para outra dimensão?

- Quando poderei falar com ele? Com o príncipe Zaalthos? - perguntei, esperando alguma resposta que trouxesse algum senso de realidade para o que estava vivendo.

A mulher, pacientemente, pousou a mão em meu ombro.

- Zaalthos saberá a hora certa - respondeu, com uma calma que parecia ser sua marca registrada. - Ele cuida de tudo com muito zelo, e tenho certeza de que, quando for o momento certo, ele estará aqui para responder suas perguntas.

Respirei fundo, tentando me acalmar, mas minha mente continuava inquieta. Eu estava cheia de perguntas e de uma angústia crescente. Aquela mulher podia me oferecer sopa e palavras gentis, mas não conseguia responder a questão principal que gritava dentro de mim: onde eu realmente estava?

DRUVINYA

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Caminho dos Sonhos- A Terra SecretaOnde histórias criam vida. Descubra agora