18. Os olhos da alma

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Depois de dias caminhando pela selva, finalmente avistamos o acampamento dos Iruá. Meu coração batia acelerado no peito, uma mistura de ansiedade e um reconhecimento inexplicável. Como se eu já conhecesse o lugar. O vento quente da Amazônia soprava suave, quase como se nos saudasse. E então, ali, no centro da aldeia, estava o Pajé.

Parece que ele já esperava por mim. Mas como poderia?
Seus olhos eram penetrantes, como se enxergassem muito além da superfície. Ele me observava em silêncio, enquanto eu tentava processar que estava finalmente de volta ao lugar onde fui encontrada, tantos anos atrás.
Me aproximei,  mas quando eu estava prestes a cumprimentá-lo...

— O Espírito das Águas te trouxe até nós - ele disse, sem qualquer introdução, sua voz profunda como um trovão distante.

Meu corpo inteiro gelou. As palavras de Laureta ecoaram na minha mente. O Espírito das Águas. Então era verdade. Eu não era apenas uma órfã perdida; algo muito maior estava em jogo.

— O Espírito nos pediu para te proteger até que estivesse pronta para a verdade, mas infelizmente não conseguimos te manter conosco, as leis dessa terra são cruéis, mas assim como você se foi, algo maior te trouxe  de volta — continuou o Pajé. — E agora, o tempo chegou. Você não pertence a este mundo. Sua origem é de outro lugar, uma terra antiga, onde os quatro elementos reinam. Mas agora, essa terra, assim como o nosso mundo, está em perigo. Eu sei que você já começou a sentir.

Eu tentava absorver tudo o que ele dizia, mas era como tentar segurar água com as mãos. Outro mundo? Elementos? E eu, no centro de tudo isso?

— Como posso impedir algo que nem entendo? — perguntei, a voz tremendo com o peso de sua revelação.

Ele deu um passo à frente, seu olhar nunca deixando o meu.

— Dentro de você, há um poder adormecido, um poder que pertence a outra terra. Mas, para despertá-lo, você deve primeiro encontrar o caminho de volta. Precisa entender sua verdadeira natureza antes de lutar contra o mal que ameaça os dois mundos.

O Pajé fez um gesto, e uma tigela de madeira esculpida foi trazida até nós, cheia de um líquido espesso, de cor avermelhada. Ele a ofereceu a mim, com uma expressão séria.

— Beba. Esta é uma bebida sagrada, feita para abrir os olhos da alma. Ela te levará até a terra de onde veio e te mostrará o que está por vir.

Hesitei, olhando para Alexis, que me deu um olhar firme e encorajador.

- Coragem amiga, já está na hora de você assumir o controle de sua vida. Estou aqui para te ajudar. - ela disse.

Sabia que estava diante de algo que mudaria minha vida para sempre. Fechei os olhos e bebi. O gosto era forte, amargo, e imediatamente senti uma onda de calor se espalhar pelo meu corpo. O mundo ao meu redor começou a se dissolver.

Quando abri os olhos novamente, já não estava mais na aldeia. Estava em um lugar diferente, uma terra vibrante, onde os elementos reinavam de forma pura e poderosa. Montanhas de fogo ao longe, florestas que sussurravam com o vento, rios de água cristalina que corriam com vida própria, e vastas planícies onde a terra pulsava sob meus pés. Eu podia sentir cada elemento ao meu redor, como se fizessem parte de mim.

Mas havia algo mais. Uma sombra, uma escuridão profunda que pairava ao longe, ameaçando consumir tudo. Ela rastejava, corrompendo a terra, um mal que parecia tão antigo quanto o próprio mundo.

Uma voz, suave e poderosa, ecoou dentro da minha mente.

— Você é a chave, Talia. Só você pode deter essa escuridão. Mas, primeiro, deve despertar o poder dentro de si.

De repente, fui puxada de volta à realidade, com o som da fogueira crepitando ao meu redor. O Pajé me observava com atenção. Eu estava tremendo, ainda sentindo a conexão com aquela terra vibrando em minhas veias.

— Agora você sabe — ele disse, com um tom grave. — O tempo está se esgotando. O mal está crescendo. Você deve encontrar o caminho de volta a aquela terra e descobrir seu verdadeiro poder, ou ambos os mundos serão destruídos.

Olhei para Alexis, que ainda estava ao meu lado, seu rosto preocupado, mas firme. Sabia que não seria fácil, mas também sabia que não estava sozinha.

Eu tinha uma missão. E agora, estava determinada a encontrar o meu caminho.

Tribo Iruá

Tribo Iruá

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