(ɪᴍ)ᴘᴇʀғᴇɪᴛᴏs, ᴍɪᴏᴛᴇʟᴀ

𝖈𝖆𝖗𝖙𝖆𝖘 III

"Minha Ana Flávia,

Eu estou aqui, mais uma vez. Eu disse que tinha a sensação de que isso iria acontecer novamente, não disse?

Da última vez que eu escrevi para você, comentei que estávamos distantes e agora, você acabou de sair após a nossa primeira briga após o distanciamento.

Eu errei. Me desculpe.

Não vou falar o que fiz, não porque eu quero colocar meus erros debaixo do lençol, e sim porque não quero relembrar nada disso após vinte anos. Na semana passada, quando estávamos na sua mãe, tivemos um momento no seu quarto após uma conversa minha com a sua irmã.

E então, tive a comprovação que precisava. Você parece me curtir muito mais quando não estamos em nosso apartamento, você fica mais carinhosa, retribui meus beijos. Mas quando chegamos em casa, uma nuvem preta surge em cima de nós dois. Algo nos impede.

O Brasil deve nos achar o casal mais carinhoso que conhecem, em público, estamos sempre nos tocando. Devem achar que nossa vida privada deve ser ainda mais afetuosa.

Mas não é. Nossa vida se estagnou. E não estou reclamando, Ana Flávia. Não casei com você apenas pelos anos bons. Não casei com você apenas pela química incrível que temos. E seria ridículo pensar que nosso casamento duraria uma eternidade sem os momentos difíceis.

E por mais que as vezes eu me sinta frustrado, porque sinto que o meu sonho de ser pai está cada vez mais distante, eu prometo que nunca irei deixar de te amar. Nunca mesmo.

Eu preferia mil vezes abrir mão da paternidade do que abrir de você. Eu caminharia sobre o fogo para ver você feliz, daria tudo o que tenho para ver um sorriso genuíno em seu rosto, deixaria de comer nosso macarrão com molho e queijo favorito apenas te ver bem.

Faria tudo isso e muito mais, eu nunca vou desistir de você. E espero que você nunca desista de mim também.

Eu amo você, Ana Flávia. Já se foram três cartas deprimentes e espero que essa seja a última. Tenho esperanças de que na próxima carta, eu escreva coisas boas-novas.

Ate lá, vou continuar a te amar e mais cada obstáculo enfrentado do que te amava quando tudo era perfeito."

- Gustavo.

...

"Minha Ana Flávia,

As coisas pioraram entre nós dois.

Há um mês atrás, conseguimos nos resolver na fazenda perto da casa de seus pais, mas então, tudo se transformou novamente.

Eu sei que estou te decepcionando. Talvez tenha sido autossabotagem, ou quem sabe, eu não seja o homem que pensei que poderia ser pra você. De qualquer forma, estou muito decepcionado comigo mesmo. Principalmente não por estar lhe dando a vida que merece ter.

Eu te amo muito mais do que minhas ações têm demonstrado.

Você tem desconfiado de mim também, tem achado que eu tenho outra pessoa. Mas é impossível, Ana Flávia. Você é a única em minha vida. Apenas. Não há razões para eu procurar em outras mulheres o que não tem em você , pois você é tudo o que eu preciso.

Essa é a primeira vez que escrevo essa carta tendo uma possível certeza de que talvez vamos precisar de um divórcio.

Acredito que me senti assim na noite do aniversário da minha mãe. Suponho que poderia chamar de epifania, mas soa como uma palavra bonita, e palavras bonitas não irão descrever o que eu senti naquela noite. Aconteceu no momento em que você disse que eu estava mentindo para você quando perguntou onde eu estava.

É, eu realmente estava conversando com a Maria Ísis.

Mas não, não era da forma em que você pensa ou pensou que seria. Conversei com ela por quinze minutos antes de você chegar, estava lhe falando sobre a ideia de gravar um novo DVD, queria apresentar um novo visual.

Mas então, chegamos em casa e você disse coisas horríveis para mim. Coisas que jamais imaginei saindo de sua boca, e quando as saiu, eu percebi que aquilo era apenas mais um dos seus pensamentos de raiva. Eu senti como se tivesse fracassado.

Nem sei como chegamos a esse ponto. Sou incapaz de analisar nosso casamento em retrospecto e apontar odia em que meu amor passou a ser algo do qual você se ressentia, e não algo que apreciava. Costumava acreditar que, se você ama muito alguém, esse amor pode enfrentar qualquer coisa. Desde queduas pessoas continuem apaixonadas, então nada pode separá-las. Nem mesmo uma tragédia.Mas agora percebo que uma tragédia pode destruir até mesmo a mais forte das coisas.

Não sei se você percebeu, mas eu parei de perguntar sobre os seus sonhos também. Há alguns dias, quando acordou, perguntei o que eu havia perdido enquanto você dormia. Você meencarou com uma expressão vazia.

você nunca me encarou dessa forma antes.

Talvez essa seja a última carta, e diferente de oito anos atrás, hoje penso que iremos abri-la em uma emergência. Por mais que eu não queira.

Eu sei que temos enfrentado muitos problemas e que nossas diferenças às vezes parecem intransponíveis. No entanto, meu amor por você é inabalável, e o desejo de lutar por nós é mais forte do que qualquer dificuldade que possamos enfrentar. Cada lembrança que tenho de nós dois, desde os momentos mais simples até os mais significativos, me lembra do que significamos um para o outro e do que ainda podemos significar.

Sinto que talvez não tenha expressado o quanto você é vital para minha vida da forma como realmente deveria. Talvez eu tenha falhado em demonstrar o quanto valorizo cada aspecto de você e o quanto nossa vida juntos tem sido um presente para mim. O pensamento de perder isso me faz sentir uma dor indescritível.

Por favor, considere esta carta como uma expressão honesta do meu amor e da minha vontade de lutar por nós. O futuro é incerto, e não posso prometer que será fácil, mas posso prometer que meu amor por você é profundo e verdadeiro. Estou aqui, pronto para enfrentar o que vier e determinado a lutar por nós até o fim.

Ainda não fomos derrotados, Ana Flávia. E não importa o que tem acontecido desde que fechei essa caixa, ou o que vai acontecer quando aabrirmos, prometo amá-la custe o que custar.

Prometo amá-la mais quando estiver magoada do que quando se sentir feliz.

Prometo amá-la mais quando formos pobres do que quando estivermos nadando em dinheiro.

Prometo amá-la mais quando você chorar do que quando sorrir.

Prometo amá-la mais quando estiver doente do que quando estiver saudável.

Prometo amá-la mais quando me odiar do que quando me amar.

E prometo... Juro... que se escolher terminar tudo entre nós, vou amá-la mais e mais...

Espero que escolha o caminho que a faça mais feliz. Mesmo que não seja uma escolha que eu ame, vou sempre amar você. Quer eu seja parte de sua vida ou não. Você merece ser feliz mais que qualquer pessoa queconheço.

Amo você. Pra sempre.''

- Gustavo.

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Chegamos ao final das cartas...

Próximo já será um capítulo normal.