Capítulo 36 : Destroços

19 6 11
                                    


Adam Gray

- O que você vai querer? - O homem atrás do balcão perguntou, me encarando com uma expressão curiosa analisando meu rosto, que estava coberto por uma mistura estranha do meu sangue com o sangue de Jason e mais uma porção de suor e lágrimas.

- Um uísque duplo. - Respondi, ignorando seu olhar.

Ela nunca te amou. A vozinha soava venenosa e repetitiva nas partes sombrias da minha mente. E por mais que doesse, tudo que eu podia fazer era concordar.

- Aqui está. - O homem atrás do balcão disse, empurrando a primeira dose de muitas.

- Você está péssimo, rapaz. Precisa de uma bolsa de gelo?

- Preciso beber, apenas isso.

- Seja lá o que tenha acontecido com você essa noite, parece ter sido bem ruim. - Ele disse, secando um copo.

- E porque foi. - Encarei o copo nas minhas mãos, balançando o líquido.
- Achei que tinha perdido a mulher da minha vida. - Murmurei. - Mas aí eu percebi. Não se pode perder algo que nunca foi seu.

- E como sabe que ela nunca foi sua?

- Porque ela escolheu o marido. - Virei o líquido de uma só vez e então o encarei, vendo-o engolir seco.

- Tem certeza?

- Eu estava lá, sei o que vi.

O barman balançou a cabeça compreendendo e então, sem dizer mais nada, ele caminhou para longe, indo atender outro homem.

Fechei os olhos, respirando profundamente. Mas então, como se eu estivesse sendo punido, seu rosto veio à minha mente, invadindo e devastando.

- Mais uma dose. - Acenei para o homem.

Nós dois, parecia tão real...

Mas nem tudo é o que parece. - meu subconsciente me alertou.

Ergui as mãos cobrindo meu rosto. É tudo minha culpa. Eu nunca devia ter me aberto para ela. Baixei a guarda e, na primeira oportunidade, ela me apunhalou.

Era pra ser só um caso, nós havíamos combinado. Mas eu quebrei aquele acordo que fizemos no vestiário, pouco a pouco, dia após dia, até que fosse tarde demais.

Outra dose. Virei o líquido de uma vez só, sentindo a queimação na garganta.

O que foi que Jason disse mesmo?

Apenas um brinquedo útil, mas descartável.

- Mais uma! - Bati o copo contra o balcão.

Eu tenho que esquecê-la.

Eu não posso esquecê-la!

Eu posso, mas não consigo.

Eu posso, mas não quero.

Merda!

Com os cotovelos apoiados no balcão e a cabeça pendendo entre os ombros, escuto a música familiar se infiltrando nos meus nervos, trazendo mais das malditas lembranças.

- Acredita em destino? - Ela perguntou.

- Não sei. - Respondi honestamente. - Mas se o destino é o que trouxe você para este bar, para este exato momento, então talvez eu possa começar a acreditar.

- Isso é uma cantada? - Ela perguntou, com uma das sobrancelhas arqueadas em desafio.

- Talvez. - Dei de ombros, sorrindo. - Funcionou?

Balancei a cabeça tentando afastar aquelas memórias.

Outra dose.

Mais uma.

Sentimentos ProibidosOnde histórias criam vida. Descubra agora