Capítulo 03 : Adrenalina

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Sienna Cameron

Eu não o conhecia, não conhecia sua história e tão pouco sabia seu nome. Mas sabia que a textura dos seus lábios com o gosto do nosso último drink ficaria impressa na minha cabeça pelo resto da minha vida.

Seus lábios me devoravam com urgência. Era como se eu fosse o último frasco de oxigênio existente e ele estivesse prestes a morrer por falta de ar. Uma de suas mãos ainda se mantinha firme na minha cintura, mas a outra tinha seus dedos enrolados na minha garganta em um aperto que não era forte, mas me mantinha imobilizada. E mesmo sem poder tocá-lo, acompanhei com destreza cada movimento de seus lábios contra os meus. Me banqueteando com cada uma das sensações que ele me proporcionava.

Mas fora da pequena bolha que nós dois havíamos criado, o som abafado de uma garrafa de vidro sendo arremessada chegou aos meus ouvidos me fazendo despertar do torpor e perceber o que eu estava fazendo.

Estava não só bêbada como também estava beijando um estranho.

É muito pior

Eu estava gostando.

Com um movimento rápido me desvencilhei do seu aperto, espalmando seu peito e o empurrando para trás.

Ofegante, encarei percebendo que suas íris castanhas que até pouco tempo atrás eram banhadas de puro fogo, agora pareciam envoltas de sombras que transformavam não só seus olhos como sua face, o tornando mais uma vez frio e distante.

Então eu percebi.

Eu havia o tocado.

E aquilo parecia ter acabado de soltar todos os seus demônios enjaulados. Eu quase podia vê-los dançando ao seu redor.

Levei minha mão até o peito, sentindo meu peito subindo rápido demais por conta da minha respiração descompassada, e pude sentir meu coração batendo como louco, à beira de um colapso.

— Eu...eu preciso respirar. — as palavras escaparam trêmulas dos meus lábios, cortando o contato visual com ele enquanto me esquivava, quase correndo em direção às portas do bar. Meu coração batia descompassado enquanto eu me movia pela pequena multidão, de rostos suados e sorrisos que pareciam alheios à tempestade que se formava dentro de mim. Ao empurrar as portas duplas de madeira, o caos sonoro do bar foi substituído por um silêncio opressor, tão denso que quase podia ser tocado. Fechei os olhos, deixando a brisa noturna acariciar meu rosto, bagunçado meus cabelos loiros.

Eu queria acreditar que, ao abrir os olhos, estaria mais calma. Que, estando aqui do lado de fora, longe daqueles olhos que me atormentavam, finalmente estaria a salvo. No entanto, a verdade é que ele não era o único que tinha demônios. É eu sabia que os meus também estavam aqui, ao meu lado, e mesmo fora do bar, eles não me deixariam em paz.

E se Jeson já estiver em casa? E se ele estiver bêbado? Oh, Deus, por favor, não. Sem mim para absorver sua ira, ele descontaria em Caleb. Meu Deus, eu trouxe meu celular? — Minhas mãos trêmulas vasculharam os bolsos da calça jeans, apenas para confirmar o esquecimento do aparelho. — O pânico começou a me engolir, mas então me lembrei da chave extra que fiz para o quarto do meu filho, sempre trancado quando eu o acordava para a escola. — Um suspiro de alívio escapou, mas foi efêmero, pois os pensamentos continuavam a me assaltar, implacáveis e frenéticos. — E se Jeson descobrir? E se... Minha cabeça girava, e ao tentar inspirar, o ar se recusava a entrar. Era como se meus pulmões tivessem virado pedra. Uma mão foi instintivamente ao pescoço, buscando o oxigênio que teimava em não chegar. Eu precisava me acalmar, precisava...

Num gesto desesperado, puxei a blusa de frio amarrada na cintura, enfiando as mãos nos bolsos. Meus dedos encontraram o maço de cigarros e o isqueiro, e num movimento quase automático, acendi um. A fumaça tóxica invadiu meus pulmões, e a nicotina percorreu meu sistema nervoso, trazendo um alívio momentâneo. Traguei mais uma vez, e outra, e outra, até que o cigarro se reduziu a nada.

Sentimentos ProibidosOnde histórias criam vida. Descubra agora