A primeira luz da manhã penetrou pelas janelas, mas ninguém na casa havia realmente dormido, como se o próprio sono os rejeitasse. O silêncio era sepulcral, exceto pelo som ocasional da muleta de Peter. A morte de Charlie pairava sobre eles, um peso invisível, apertando o peito de cada um.
Peter foi o primeiro a se levantar, seus olhos inchados, e seu corpo doía mais do que nunca, não tanto pelos esforços físicos, mas pela culpa. Ele havia colocado Charlie naquela situação, mesmo que indiretamente. O sentimento de traição, tanto contra Charlie quanto contra si mesmo, o sufocava. Quando se aproximou da cozinha, algo estranho o atingiu: o cheiro familiar de comida.
Um aroma forte e aconchegante enchia o ar, como se fosse uma manhã normal em um lugar comum. Ele parou no corredor por um momento, tentando entender de onde vinha. Ao chegar à cozinha, seus olhos se arregalaram.
A mesa estava coberta de comida — mas não qualquer refeição. Lá estava, espalhado diante deles, um banquete completo, meticulosamente preparado. Um grande pedaço de brisket defumado ocupava o centro da mesa, ainda soltando vapor. Ao lado, tigelas de feijão texano, porções de cornbread dourado e perfeitamente macio, e uma travessa de coleslaw. E, como se isso não bastasse, uma generosa fatia de torta de noz-pecã esperava como a sobremesa. A última refeição de Charlie, escolhida por ele antes de partir para a morte certa.
Tim apareceu ao lado de Peter, olhando em choque para a mesa.
— Isso... Isso é o que o Charlie teria comido. — disse Tim, a voz quase um sussurro.
— Eles estão zombando de nós... — Peter perguntou, sentindo o estômago revirar.
Peter balançou a cabeça, sentindo o estômago roncar de fome. O próprio cansaço e a frustração eram evidentes em cada movimento dele. Apesar de a comida parecer quase uma provocação, seu corpo estava em frangalhos e ele lutava contra a fraqueza que o consumia.
— Não vou comer isso — disse Peter, a voz fraca.
Katy, que havia entrado na cozinha, observou Peter com uma expressão de preocupação. Ela sabia o quanto Peter estava exausto e o quanto essa situação estava pesando sobre ele. Ela se aproximou e colocou a mão no ombro dele, falando com um tom de voz que misturava gentileza e firmeza.
— Peter, você precisa comer alguma coisa. Você está fraco e sem energia. Se não comer, não vai conseguir pensar direito. Precisamos de você.
Peter hesitou, o olhar passando da comida para Katy. Seus olhos estavam cansados, e o peso da culpa e do desespero era evidente. Ele balançou a cabeça, mas Katy continuou, seu tom mais urgente.
— Olhe para você mesmo. Está à beira de desmaiar. Não é só por você. Se você não estiver bem, não conseguirá ajudar o grupo. Precisamos de você forte.
Peter respirou fundo, lutando contra a dor e a fome. Finalmente, a realidade de sua condição e o estado do grupo o levaram a ceder. Ele deu um último olhar para a mesa, vendo os colegas observando-o com uma mistura de expectativa e preocupação.
— Se importam de agradecermos antes?
— Claro que não — respondeu Katy, a compreensão em seu tom.
— Antes de começarmos... — Tim interrompeu, levantando a voz com uma sensação de urgência. — Eu gostaria de sugerir que fizéssemos uma promessa.
— Uma promessa? — Ethan apareceu à porta, interrompendo com um tom desafiador.
Todos voltaram os olhares para ele, seus rostos expressando desprezo e amargura.
— Saia daqui, Ethan, por favor — pediu Katy com firmeza.
— E por que eu sairia? — Ethan replicou com desdém.
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Sharks Island
Science FictionEm uma remota e isolada casa no lago, oito estranhos são reunidos para um experimento científico que promete revolucionar o mundo da medicina. A pesquisa envolve tubarões dos mais diversos, geneticamente modificados, pois seu DNA revelou mutações qu...