Capitulo 14

14 1 0
                                    

O sol da manhã filtrava-se através das janelas da casa, criando um contraste perturbador com o clima de luto que envolvia o grupo. O dia seguinte trouxe um silêncio pesado e um sentimento de desolação, como se a própria casa estivesse de luto pela perda de Robert. O grupo, ainda marcado pela brutalidade do que haviam testemunhado, levantava-se para um novo dia, com alguns sem vontade de viver esse novo dia.

Elizabeth estava sentada na varanda, observando o lago com os seus olhos fixos no vazio. Charlie e Tim estavam tomando café na cozinha, enquanto Peter cortava lenha em uma tentativa de se concentrar em algo, qualquer coisa, para escapar do peso da culpa que sentia.

Katy foi a última a acordar e ao entrar na cozinha para tomar um café, algo lhe chamou a atenção. Parou abruptamente ao ver algo inesperado sobre a mesa. No centro, sobre uma toalha branca limpa, repousava travessas de vidro cuidadosamente arrumadas, com a comida disposta de forma meticulosa. Era a última refeição escolhida por Robert, a mesma que ele havia mencionado durante a entrevista com Lory, quando lhe foi perguntado qual seria o seu último prato se soubesse que estava condenado à morte.

Katy se aproximou da mesa com passos hesitantes, seus olhos marejados ao ver a comida. O banquete era composto por uma variedade de pratos que Robert havia descrito: uma lasanha de carne suculenta, batatas assadas, salada fresca e uma torta de maçã que ele adorava. Cada prato estava perfeitamente preparado e ainda quente, como se tivesse sido feito minutos antes.

- O que é isso? - perguntou Charlie, aproximando-se.

- É o último prato que Robert escolheu - respondeu Katy com a voz embargada, apontando para a mesa.

O grupo se reuniu em torno da mesa, todos surpresos e confusos. A visão do banquete contrastava com o luto pesado que sentiam, como uma cruel ironia.

- Não podemos simplesmente comer isso - disse Elizabeth, sua voz cheia de dor. - Isso é um insulto.

- Talvez seja uma mensagem deles, uma maneira de zombar de nós - sugeriu Tim, seu tom carregado de frustração.

- Ou talvez seja uma tentativa de nos distrair - completou Charlie. - De qualquer forma, isso não vai trazer Robert de volta.

O grupo estava dividido. Alguns queriam ignorar o banquete, enquanto outros estavam tão famintos que não sabiam como proceder. Katy, com o rosto molhado de lágrimas, sentou-se à mesa e começou a servir os pratos.

- Eu... eu vou comer. Se isso foi o que Robert queria, então eu vou honrar a sua memória desta forma - disse ela, sua voz tremendo.

Peter, Elizabeth, Tim e Charlie trocaram olhares, e, relutantemente, começaram a comer. O ato de comer, embora amargo e carregado de dor, parecia uma forma de conexão com Robert, um gesto de respeito pela pessoa que havia sido.

Enquanto o grupo estava concentrado na refeição silenciosa, um novo silêncio pairava na casa. A perda de Robert ainda era muito real, mas o banquete ofereceu um momento de comunhão inesperada em meio à tragédia.

Após a refeição, o grupo começou a limpar a mesa e a casa, tentando se reorganizar e lidar com a dor. A rotina de tarefas aparentemente normais parecia um esforço em vão, mas era uma tentativa de recuperar alguma sensação de normalidade.

No final da tarde, o grupo se reuniu para fazer uma despedida a Robert. Reunidos no espaço ao ar livre, próximo ao lago, eles formaram um círculo em torno de uma pequena fogueira improvisada. Cada um fez um breve discurso, compartilhando lembranças e sentimentos sobre Robert, tentando encontrar alguma forma de paz em meio ao caos.

Peter, com a voz embargada, falou por último, suas palavras carregadas de arrependimento e dor.

- Robert era mais do que um colega, ele era um amigo. A gente não conseguiu fazer nada para impedir o que aconteceu, mas vamos nos lembrar dele da melhor forma possível. Esse é o nosso momento de dizer adeus.

Katy, com lágrimas nos olhos, decidiu compartilhar suas memórias.

- Conheci Robert na faculdade - começou Katy, a voz embargada. - Ele era professor de medicina, especializado em traumas. Era um excelente professor e um médico incrível. Eu me lembro de uma viagem que fizemos juntos para a África do Sul, onde fizemos um mergulho em jaula com tubarões brancos. Ele estava tão animado, tão apaixonado pelo que fazia... e agora, é irônico, não é? Ele morreu da mesma forma que vivemos aquele momento, com tubarões. É como se o destino estivesse zombando de nós.

Charlie se aproximou de Katy e passou sua mão esquerda pelo ombro da colega.

- Ele morreu por minha culpa...

- Não Katy, não foi... - disse Peter ao ser interrompido por ela.

- É sim! Eu que o chamei para fazermos parte desse experimento... Ele não tinha tomado conhecimento da existência dele... Se eu não o tivesse envolvido nisso... Droga, ele tem filhos caralho, filhos seus maníacos malditos! - gritou Katy ao virar-se para o lago. - E eu... Eu... - gaguejou Katy colocando a mão na região abaixo de sua barriga.

O grupo ouviu em silêncio, sentindo a tristeza e a ironia da situação. A despedida foi um momento de conexão emocional, um esforço para encontrar um pouco de consolo em meio ao luto.

Quando a noite caiu, o grupo estava se preparando para dormir, tentando encontrar algum conforto na rotina.

Charlie, enquanto fazia uma última verificação ao redor da casa, avistou algo nas margens da praia da ilha. Ele parou, os olhos fixos no ponto distante. Havia uma figura indistinta e imóvel na areia, e, apesar da escuridão, parecia que alguém estava ali.

- Pessoal, venham rápido! - gritou ele, o pânico evidente em sua voz.

O grupo se reuniu ao redor de Charlie, seus corações acelerando com a expectativa e o medo, onde encontraram o corpo de um homem caído, inconsciente e aparentemente em estado crítico.

- Precisamos levá-lo para dentro e cuidar dele - disse Peter, tentando manter a calma. - Não sabemos quem ele é, mas ele precisa de ajuda.

O grupo carregou o homem para dentro da casa, posicionando-o em um local onde pudesse ser examinado com mais cuidado. Sem saber quem ele realmente era, o grupo tentou se concentrar em ajudar o homem da melhor forma possível. Eles não tinham ideia de que ele era um estagiário do laboratório responsável pelo experimento, e que sua presença oferecia uma nova peça crucial no enigma que enfrentavam.

O grupo colocou o corpo do homem em uma área improvisada para cuidados, usando os poucos recursos disponíveis na casa para verificar seus sinais vitais e garantir que ele estivesse seguro. Katy, com sua formação médica, assumiu a liderança no cuidado do homem, avaliando seu estado com cuidado e tentando estabilizá-lo.

- Ele parece estar com sinais vitais fracos, mas está respirando - informou Katy, tentando manter a calma apesar da situação angustiante.

Enquanto Katy trabalhava, Elizabeth e Tim procuraram entre os poucos itens médicos disponíveis na casa, enquanto Peter e Charlie observavam o homem e tentavam entender quem poderia ser e o que havia acontecido com ele. A noite estava silenciosa, exceto pelo som da respiração do homem e pelas conversas baixas do grupo.

Após os primeiros socorros serem prestados, o homem foi deixado no sofá para descansar e terminar de se recuperar.

- Deixe-o ai, amanhã terminamos de lidar com ele. - disse Peter.

- Ok - respondeu todos, e assim o fizeram.

Sharks IslandOnde histórias criam vida. Descubra agora