Segunda Temporada - Capítulo 15

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Aquela varanda foi a melhor aquisição para a casa deles, a ideia foi de Jisung. Hyunjin se sentou em uma cadeira de balanço e colocou o estojo ao lado da mesinha. Estava quase amanhecendo, a claridade atravessava a janela grande com fumê. Ele começou a rabiscar e a pensar.

Chen gritou sobre o sofá assustando Hyunjin, o mais novo correu para vê-lo e viu que ele ainda dormia. Tentou acordar o mais velho, mas este apenas se debatia exasperado.

— Hey, Chen. Acorda. — chamou.

O mais velho abriu os olhos agora úmidos e vermelhos, ele estava todo suado, seu rosto e seu pescoço estavam vermelhos. O que quer que fosse ele não estava fingindo, muito pelo contrário, ele parecia bem assustado.

— Eles virão atrás de mim. — Chen murmurou chorando.

— Quem? — Hyunjin perguntou preocupado.

— Eles vão me machucar.

Chen chorava alto, Hyunjin o puxou para um abraço acolhendo o rapaz em crise. Ele chorou muito por longos minutos até se acalmar.

— Está tudo bem. — Hyunjin disse acariciando as costas do outro.

— M-me desculpe.

O mais velho se afastou limpando as lágrimas, ele ainda tremia, mas não chorava mais.

— Você quer que eu pegue um copo com água para você?

— Não precisa, já passou.

— O que aconteceu com você, Chen? — perguntou com um semblante preocupado.

— Tanta coisa, Jin. Tanta coisa...

— Você vai me contar?

— Meus pais são podres, para dizer o mínimo.

— Hum, suspeitei um pouco quando você disse que eles te trancaram dentro de casa.

— Me trancar dentro de casa foi a coisa mais gentil que eles já fizeram comigo. Eles são horríveis mesmo, monstros. — Chen respirou fundo. — Eles buscavam uma criança digna, com capacidades especiais, para adotar e substituir o filho morto deles e assim eles passarem a herança e valores da família.

— Ok, isso é estranho. Explica isso melhor.

— Eles tinham um filho, ele era da minha idade e vivia sempre muito doente, ele ficava em um quarto de hospital improvisado dentro de casa. Os médicos deram para ele poucos anos de vida, ele nem deveria estar vivo quando eu cheguei em casa. — Chen olhou para o nada. — O rapaz era diferente, ele tinha uma mentalidade diferente, meio superdotado, meio perverso. Quando cheguei lá e o conheci foi assustador, ele dizia coisas sobre mim, dizia que eu era apenas um substituto fracassado.

— Que filho da puta.

— É. Mas os pais dele eram ainda piores. Eles queriam que eu fosse perfeito, ou perfeito do jeito que eles achavam que o filho era. Tive que estudar muito, não somente coisas escolares, mas etiqueta, boas maneiras, regras da alta sociedade. — o mais velho começou a tremer. — Sempre que eu cometia uma falta eles me batiam, sempre que eu me saía mal eles me espancavam, me deixavam sem comer, me trancavam no quarto ou pior, me trancavam no quarto com o filho deles.

— Eu sinto muito, Chen. — Hyunjin apertou a mão do outro.

— Os adultos do orfanato diziam que crianças exigentes são castigadas. Talvez este fosse meu castigo, eu sonhava em ser adotado por uma família e sair de lá. Eu comemorei quando fui adotado, eu estava radiante porque estava indo embora. Mesmo sabendo que você estava triste porque iria ficar sozinho de novo, eu fiquei feliz por ir embora. Eu sinto muito, Jin, eu sinto muito. — Chen voltou a chorar, mas dessa vez seu choro era de remorso e dor.

— Está tudo bem, Chen. — o mais novo sorriu meio triste. — Todo órfão sonha em ser adotado, sonha em ser amado. É normal isso, a gente quer que alguém nos acolha, uma família perfeita e tudo mais.

— Você não sonhava com uma família.

— Porque eu já sabia que não seria adotado por ninguém, ninguém iria querer adotar o menino estranho que brincava com facas e ainda esfaqueou o diretor do orfanato. — Hyunjin deu de ombros. — E hoje tenho uma família. Ela não é muito adequada para os padrões sociais, nem de longe — ele riu baixinho —, mas eles são tudo o que eu tenho e eu amo muito todos eles.

— É irônico isso tudo. — Chen ainda chorava.

— Sim, realmente é. — Hyunjin se encostou no sofá e olhou para o teto. — Achei que estávamos lidando com gente meio estranha e de índole duvidosa, mas essas pessoas são piores do que imaginei. Chegam ao nível do banqueiro.

— O que pretende fazer?

— Isso não vai ser fácil, de forma alguma. Não sei nem se planos a curto prazo vão funcionar. Acho que vou continuar me metendo na alta sociedade e procurar uma brecha.

— Por favor, me digam o que vão precisar. Estou disposto a fazer qualquer coisa.

— Oh, gostei de ver.

— Eles não podem mais me atingir, não mais do que já me atingiram esses anos todos. Eu só peço para que vocês não os subestimem, eles são loucos, mas são inteligentes de verdade e não têm medo de nada, especialmente o pai.

— Vou manter isso em mente. — Hyunjin se levantou. — Vou passar um café, você quer?

— Acho que sim.

— Enquanto isso você me conta mais sobre seus pais, a casa deles, pontos fracos, sobre esse filho morto também... Me conte tudo.

— Tá, conto sim.

Os dois foram para a cozinha e preparam o café da manhã. Eles conversaram muito e nem perceberam as horas passando, quando se deram conta os outros da casa começaram a acordar também e a se juntar a eles.

Os outros ouviram com atenção sobre a vida de Chen dentro da casa dos pais adotivos, foi inevitável não se sentir sensível ou triste por conta dos relatos pesados. O único que não demonstrou muita simpatia foi Jeongin, ele não se sentia a vontade com o mais velho e o evitava a todo custo, o que foi notado por todos, mas ninguém o forçou a parecer simpático ou coisa do tipo.

Passados algumas semanas, Chen ainda estava no estúdio de tatuagem. Os seguranças ainda buscavam por ele, o procuravam por toda parte, mas a gangue deu um jeito de atrapalhar a vida deles colocando-os para seguir pistas falsas. Enquanto isso a gangue também continuou o plano de entrar na alta sociedade e destruí-la por dentro, Hyunjin continuou indo nos eventos e atividades de gente rica, mas dessa vez sem a presença de Yixing, que não queria muita conversa. Assim, Hyunjin respeitou a decisão dele e não é como se eles fossem amigos de fato.

Mas não quer dizer que eles não fossem aproveitar a oportunidade que Yixing lhes deu. O aniversário de Yixing estava chegando e prometia ser um grande evento, os pais de Chen também iriam para a grande festa, assim a gangue se prontificou a ir. Chris, Lino, Changbin e Hyunjin iriam com seus convites; Jisung, Seungmin e Jeongin iriam disfarçados como funcionários da festa. Nem Felix e nem Chen iriam porque ainda estavam escondidos, e Felix seria aquele que ficaria para trás caso alguma emergência ocorresse.

O Olho da RaposaOnde histórias criam vida. Descubra agora