Segunda Temporada - Capítulo 33

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"Isso a desgasta...

Isso a desgasta...

Isso a desgasta...

Isso a desgasta..."

No alto do obelisco, a 36 metros do chão, suspenso por um guincho, Hyunjin estava agachado e olhava a paisagem enquanto cantava baixinho. Seus olhos percorriam as luzes da cidade que beijavam a noite tranquila.

O vento desregulado soprava os cabelos de Hyunjin que se soltavam do rabo de cavalo. A fumaça do cigarro de cravo que ele fumava se espalhava por todo lado.

"Ela vive com um homem quebrado

Um homem de poliestireno rachado

Que apenas se esfarela e queima [...]"

Ele se levantou e se virou para encarar Max amarrado com arame ao pilar. As roupas do homem estavam sujas de sangue que escorria por conta do arame farpado que o apertava sempre que ele se contorcia. E bom, ele se contorcia bastante e gemia bastante também. Mas Hyunjin não compreendia os sons porque a boca dele estava amordaçada com lenços.

"Ele costumava fazer cirurgias

Para garotas nos anos oitenta

Mas a gravidade sempre vence [...]"

Hyunjin pressionou a bituca do cigarro ainda aceso na bochecha de Max e ele se contorceu ainda mais. As lágrimas dele escorriam por toda a face se misturando com o sangue que escorria de sua cabeça. As rosas desenhadas com sangue nas roupas dele criavam um ar sombrio.

Hyunjin olhou para a cena e achou até atraente, não no sentido sexual, jamais acharia aquilo digno de sua atração. Mas as texturas dos líquidos frente à face chorosa criavam uma imagem até que interessante para ser reproduzida em pintura. Entretanto, aquele que fará isso não será ele, Hyunjin não perderia seu tempo com aquilo.

"E isso o desgasta...

E isso o desgasta...

E isso o desgasta...

Isso desgasta..."

— Sabe... Você se autodeclarou meu pai, o que foi engraçado, para dizer o mínimo. Mas veja só onde você está, na mesma situação em que meus pais estiveram. Minha mãe morreu quando nasci, meu pai morreu quando eu o esfaqueei. — Hyunjin sorriu encarando Max. — E logo mais você também morrerá.

Hyunjin parou de sorrir e o encarou.

— Se você gritar, eu vou cortar sua língua.

Ele retirou os lenços da boca do homem sem nenhuma delicadeza. O homem o encarou em desafio, mas não gritou. Hyunjin tirou um papelzinho do bolso traseiro da sua calça de alfaiataria preta, o abriu e o leu mentalmente mais uma vez.

"Queime, incendeie, pereça

Queime até nada mais restar

Carbonize, agonize, desapareça

Carbonize até seu nome apagar"

— Agora, vamos lá.

Amarrou o papelzinho em um pedaço miúdo de madeira com uma linha. Com a mão esquerda segurou o queixo de Max e o puxou para baixo forçando a abertura da boca. Com a mão direita empurrou o papel com a madeira pela garganta dele, ele se engasgou, mas Hyunjin empurrou com até que não saísse mais.

Max tentou vomitar, mas não conseguiu. Hyunjin sorriu mostrando seus dentes e pôs os lenços de volta na boca dele. E ainda sorrindo tirou o isqueiro de dentro do seu bolso do colete vinho que compunha o terno sem paletó. O acendeu e Max voltou a se contorcer. Sem muitas delongas, ele aproximou o isqueiro aceso nos lenços e imediatamente o tecido carbonizou. As chamas se espalharam sem demora.

Hyunjin se afastou um pouco e o observou queimar por um tempo, seus olhos não desviaram das chamas nem por um minuto. Olhou para seu relógio e viu que ele precisava correr. Ele se virou, olhou para a cidade mais uma vez e depois pulou.

O Olho da RaposaOnde histórias criam vida. Descubra agora