Os primeiros raios de sol acariciaram meu rosto, quase que como uma tentativa de consolo pela dor interna que retomava junto com a consciência. Levei alguns segundos para perceber, com surpresa, que eu não estava mais no sofá, e sim que tinha sido transportada quase magicamente para o quarto. Me senti como uma criança de novo, e se forçasse ainda mais a memória eu conseguiria ouvir a voz dos meus pais além da porta.
Apesar de toda a confusão me acompanhar no despertar, o tornozelo passou no teste e já estava menos dolorido. Testei ficar de pé e dar alguns passos perto da cama. A dor era como um eco distante, nada muito comprometedor. Com essa segurança, avancei para fora do cômodo, me deparando com uma casa vazia e silenciosa. Aproveitei o momento para observar cada detalhe daquele lugar que, em tão pouco tempo, tinha se tornado minha casa.
Por quanto tempo?
A pergunta, junto com todas as indagações da noite anterior, aumentaram gradativamente o som de suas vozes dentro de mim. Respirei fundo, tentando silenciá-las, enquanto uma parte minha, a que foi responsável pelo meu escudo emocional e psicológico, insistia que aquilo não era uma boa ideia. Aquietei essa parte também, ciente de que ela não havia executado bem o seu trabalho. Eve resistiu, e Nita era apenas um outro nome agora, e não mais um completo pseudônimo. Não tinha como voltar atrás.
Então porque eu ainda não queria revelar meu nome verdadeiro? O que me impedia tanto de finalmente ser a Eve?
Quase pude ouvir uma risadinha debochada do meu interior. Eu ainda tinha medo. Por mais que meus pés estivessem firmes, eu ainda tinha medo. Aconteceram coisas demais e eu não sabia até quando a reação seria me proteger, até quando eu poderia suportar se tudo desmoronasse mais uma vez. O único conforto era que eu não era a única no enredo a esconder algo. Jongin também tinha algo oculto. Revelaremos no tempo certo. Essa foi minha desculpa.
Longe do desejo de me manter no tédio, dei uma olhada pela cozinha para ver o que precisava ser comprado. Anotei a lista em um pequeno bloco e fui até o quarto dele, procurando em sua mesa de cabeceira o cartão que ele havia mencionado para casos como esse. Ao abrir a gaveta, no entanto, meu olhar foi prontamente atraído para um circunferência prateada que deslizou em minha direção. Um anel.
- Mas o que... - Deixei escapar uma parte do meu pensamento. Sim, eu não deveria me meter, eu sei, mas segurar aquele objeto em minha mão foi inevitável. Ele não era de usar anel e aquele parecia do tamanho exato de seu dedo. Não se tratava de um objeto qualquer.
Procurei alguma frase ou nome gravado em seu interior. Uma inicial se revelava sob a incidência da luz. Um solitário "A" se fazia presente, e aquela pequenina letra foi o suficiente para me estremecer por completo. De quem era essa inicial?
Querendo fugir o mais rápido de qualquer hipótese (como se fosse possível fugir da própria mente), peguei o cartão no fundo da gaveta, troquei de roupa e saí em disparada para fora daquele lugar, tentando deixar ali qualquer chance de verdade que pudesse repousar naquele simples anel.
Andei apressada pelas ruas, ainda esbaforida pela descoberta, ignorando a leve dor no tornozelo que eu havia quase esquecido da existência. Um lampejo de pensamento passou pela minha cabeça. A de Anita. Poderia ser para mim. Me condenei na mesma hora por ter pensado aquilo, ainda que tenha sido rápido demais. Não fazia sentido, não poderia...
Outro pensamento colidiu com a minha cabeça, e o meu corpo paralisado pela ideia colidiu igualmente com o de outra pessoa. Não pude sequer ter força para pedir desculpas, só queria algum lugar para sentar enquanto as minhas pernas começavam a se tornar tão fortes quanto gelatinas.
A. A de Amanda.
Me sentei na cadeira da área externa de uma cafeteria, torcendo, em meio a ideias confusas, para que nenhuma atendente tentasse chegar perto de mim naquele momento. Percebi tardamente que eu murmurava sem parar uma única frase:
- Não, não pode ser... Não pode ser...
Eles eram próximos, mas pensei que era por conta de Chanyeol. O rei do El Dorado tinha um passado que se recusava a deixar para trás, mas e se Amanda também tivesse? No caso, se tivesse alguém que ainda não foi capaz de tirá-la da cabeça por conta de um afastamento forçado?
Ele sabia português porque ela ensinou, e inclusive ele reproduziu um elogio. Um elogio que ele pode ter ouvido dela ou falado para ela com base em seus ensinamentos. E aquele olhar de reprovação quando ela soube que ele tinha dito a frase... E o Cristo Rey...
"Amanda adora esse lugar". Será que era um lugar onde eles costumavam ir?!
- ¡Buenas Tardes! Gostaria de pedir algo?
Me forcei a agir com naturalidade diante da atendente que se achegou apesar das minhas preces silenciosas. Até forcei um leve sorriso. Ela não tinha culpa do meu caos.
- Não, obrigada. Estou de saída.
Dei os primeiros passos, ainda hesitante. As peças se encaixavam, mas ainda não tinha certeza. E se era tão doloroso assim para ele ainda lembrá-la (doloroso ao ponto de sequer conseguir ter um novo relacionamento), por que se mantinha próximo? Pela amizade com o Chanyeol? Muitas perguntas e nenhuma resposta... Apenas o desejo de que as compras no mercado fossem tempo suficiente para silenciar o pandemônio na minha cabeça.
Oiiiiii! Dei a doida e apareci
Sei que é um cap praticamente sem diálogo, mas eu queria compartilhar com vcs as paranoias da Eve. Será que ela está certa? Será que não? O que acham?
Bem, vocês tem até a próxima att pra pensar (mas n sei se devo revelar no próximo cap, calma...).
Aproveitei o retorno para fazer umas mudanças por aqui... troquei de user e tudo! Quero saber se vocês gostaram também da nova capa.
Bem, até a próxima!
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Dance with me - Kai
FanfictionYoon Eve, mais conhecida como Nita, é uma moradora de rua. Por meio do seu parceiro de dança e da salsa, sua herança de família, ela luta para sobreviver todos os dias, até que essa luta por sua vida se torna urgente. Nessa mudança brusca e com sua...