Dance with me - Kai

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O novo dia veio com raios de sol saudosos, tão calorosos quanto a memória da noite passada seria para mim.

Depois da nossa conversa, Jongin se rendeu e partiu para a cama. Fiz o mesmo, mas, diferente dele, não preguei os olhos por um instante, cogitando uma ideia maluca que insistia em ficar na minha mente, mesmo que, naquela noite mesmo, eu já tivesse dito que era uma loucura insana que poderia me levar para a morte outra vez. Ainda assim, talvez fosse o melhor a se fazer.

Esperei o sol subir mais um pouco no céu para me levantar, escolher uma roupa (um vestido azul escuro com um all star branco) e partir para o chuveiro. O dono do apartamento ainda estava no décimo sono, então tive tempo para cuidar do cabelo, preparar um café da manhã e dar início à uma maquiagem que eu só concluiria depois de comer. De vez em quando, devido ao nervosismo, minha mão ia diretamente para o pingente do cordão, como se fosse um pedido de ajuda silencioso aos meus pais. Como se eles pudessem aparecer de repente e me ajudar com toda essa situação. Mas não podiam. Ninguém podia. Essa era uma decisão que eu tomaria por mim mesma.

Instantes seguintes, Jongin apareceu da mesma forma que estava na noite passada e isso incluía a ausência de blusas ou de qualquer tipo de tecido que tampasse seu abdômen. Uma visão atraente, mas sem tempo para isso.

- Uou, parece que ganhei uma surpresa.

- Não se acostume - tentei manter a postura ao revirar os olhos, mas o leve sorriso em minha face me traiu. Em algum momento daquela noite uma chave virou. Não por completo, apenas pela metade, mas eu já não era a mesma com Jongin. Ainda tinha meus bloqueios, anos de rua não são apagados totalmente da noite para o dia, mas uma confiança e uma possível amizade já começavam a ter início. Isso parecia óbvio para ambos, mesmo sem falar sobre o assunto diretamente.

O cheiro do queijo derretido dentro das arepas frescas me fez ter orgulho dos meus breves dotes culinários, e ele também parecia tentado, de modo que não resistiu e pegou uma antes mesmo de sentar. A satisfação era nítida.

- ¡Ay, sí! Está perfeita. Não quer mesmo fazer todo dia??

Apenas o encarei numa falsa seriedade que o fez rir. Sua risada ecoou pelos quatro cantos do pequeno apartamento até reverberar dentro de mim, fazendo com que eu me sentisse bem de uma maneira totalmente nova.

Mal me sentei e ele, assustado pela hora, pulou da cadeira imediatamente procurando suas vestes, bebericando um pouco do café e dando uma mordida na arepa quando passava pela mesa durante sua correria. Era uma cena tão habitual que eu estava cogitando dar umas aulas a ele sobre atraso, mas ainda não havíamos chegado nesse nível de proximidade. Estava no meu processo e iria respeitá-lo até o fim.

Semi pronto, ele saiu do quarto com a gravata ainda desfeita ao redor do pescoço, segurando suas pontas como se perguntasse a si mesmo o que fazer. A ideia era estranha, considerando que ele sempre fazia os nós com perfeição.

Okay, ser detalhista demais é um tanto estranho.

- Nita, pode me ajudar? Queria fazer um nó diferente, mas não faço ideia de qual.

Um outro detalhe que havia notado naquele instante (mesmo que acontecesse sempre) era que, mesmo que eu tivesse contado que meu nome todo era Anita, ele sempre me chamava pelo apelido. Curioso, eu diria, mas deixei passar, assim como a curiosidade quanto a opção de um nó diferente naquele dia. Eu estava me revelando mais curiosa do que o normal, ainda mais quando se tratava dele, mas podia entrar na lista de coisas a serem ignoradas.

Deixei a mesa tentando lembrar de algum nó que eu tenha visto a minha mãe fazer no meu pai. Segurei as pontas com um em mente, mas, por algum bug no meu sistema interno, olhei para cima, para ele, e (curiosamente) ele olhava para mim. A curiosidade chegou a um ponto extremo, onde eu me perguntava qual seria a textura de sua pele, ou dos seus cabelos. Estava perto demais, e um toque seria o bastante para responder tudo isso.