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Algumas horas se passaram e nada do apetite chegar, então não pedi comida naquele dia. Tudo foi, aparentemente, o mesmo de antes logo após a saída do rapaz, mas a onda de emoções não estava nos planos. Era como se, naqueles instantes, tudo o que estava acontecendo nos últimos dias fosse um sonho distante, uma vida que não fosse a minha.

Em poucas horas, tudo havia se tornado tão real...

Eu estive a um passo da morte, fui procurada por uma das gangues mais conhecidas da região e agora a pessoa que eu via todos os dias estava morta. Poderia ter sido eu naquela vala, ou só Deus sabe onde eu poderia estar naquele momento. Se eu era um acerto de contas, não iriam simplesmente me matar, iriam? Talvez um acordo, uma venda (e o meu corpo como produto) teria sido algo bem mais vantajoso.

Em pouco tempo, me encontrei em um estado de fragilidade que eu não me via desde anos atrás. Enquanto assistia aos filmes (ou ao menos deixava a TV ligada com a falsa impressão de que aquilo me distraia), me pegava abraçando a mim mesma, como se aquilo melhorasse. Bom, não melhorou.

Tentei ir para a cama mais cedo, lutando contra as imagens do corpo de Isaac que insistiam em permanecer na minha mente da mesma forma que uma mancha não abre mão de ficar no tecido. Fiquei vivendo no automático por tanto tempo, tendo a sobrevivência como objetivo, que havia esquecido da minha humanidade e que ela existia fora da dança. Ali, ela se revelada mais forte do que nunca. Talvez seja porque eu não estivesse precisando me preocupar com comida, ou onde tomar banho antes de ir para o centro, ou até mesmo a própria correria para o centro. Sem o peso das preocupações cotidianas sobre mim, eu tinha tempo livre para me permitir sentir coisas normais, mas o normal não estava sendo nada agradável.

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Senti meu corpo pesado ao acordar no dia seguinte. A tentativa de dormir antes do que eu estava acostumada foi tão desastrosa que virei quase a noite inteira acordada tentando lidar comigo mesma. Quando os primeiros indícios do sol nascente despontaram na janela, o sono veio, então eu acordei no início da tarde.

Arrumei a cama e coloquei minhas próprias roupas, já que eu estava tão mentalmente cansada que havia dormido com a própria blusa de Jongin. Esperava estar sozinha outra vez, mas lá estava ele, tirando a gravata no meio da sala, com os olhos cravados em mim.

- Vejo que alguém dormiu bastante.

- Sinto como se não tivesse sido nada. - Meu objetivo era ir até o banheiro para uma ducha revigorante, mas me sentia tão pesada que simplesmente me sentei na cadeira que estava quase diante de mim. - Conseguiu falar com a polícia?

Ele assentiu enquanto suspirava, parecendo tão cansado quanto eu. Puxou a cadeira e ficou diante de mim, a postura geralmente reta estava completamente desleixada. Não pareciam boas notícias.

- De acordo com os informantes, os Filhos do Aço não procuram por você.

O meu corpo logo se endireitou e minha mente recebeu a notícia com uma euforia a qual não foi totalmente revelada no externo. Minha voz apenas pareceu um pouco menos mórbida ao dizer:

- Então estou livre? Ninguém vem atrás de mim?

- Não, ninguém.

Balancei a cabeça em afirmação, com um ínfimo sorriso de quem teria que recomeçar. Fiz uma rápida análise da situação: estava sem roupa, sem parceiro, sem garantia de que ainda teria vaga no casebre, sem dinheiro, apenas com a roupa do corpo e o cordão que mantinha escondido ao máximo. Não tinha muita coisa, aquilo era um fato, até me arriscaria dizer que não tinha nada, mas, assim como em todos os outros dias dos 5 anos nesse estado, eu ia sobreviver.

- Bem... então é isso. Meu tempo aqui acabou. - Me preparei para levantar, mas fui interrompida por sua voz me pedindo para esperar. - Fala.

Ele soltou mais um suspiro, e manteve a postura de quem carregava notícias ruins. Seus olhos, que estavam direcionados para o chão, me encararam profundamente, e naquele olhar eu vi... Aflição?

- Eles estão atrás de você - conclui assim que minha mente juntou as peças de todo o quebra cabeça. Jongin tinha me ajudado. Poderia ter sido possível que os homens que estavam com Isaac naquela noite o tivessem reconhecido, e poderiam ir atrás do homem que arruinou todos os seus planos.

- Não, não é isso. Esse pesadelo acabou de vez, eu garanto. Eu só... eu pensei que talvez você pudesse... morar... aqui.

A frase, que começou com total convicção e terminou a um fio de voz, causou em mim duas reações de imediato: atenção e tentação. Jongin ainda era um desconhecido. Nos dias em que eu fiquei aqui, trocamos poucas palavras e ele esteve ausente por tempo demais para que eu tirasse alguma conclusão sobre sua índole. O tempo de convivência foi escasso demais para que eu pudesse confiar minha vida a alguém por sei lá quanto tempo.

Mas ele também não me dera motivos para desconfiar, e para alguém que terminou com menos do que começou, a ideia de ter outras preocupações além da minha sobrevivência diária pareciam tentadoras.

Era o orgulho e o instinto contra o desejo de sair de uma vida quase primitiva.

- Eu sei que você ainda não confia em mim - ele prosseguiu diante do meu silêncio - mas minhas intenções permanecem as mesmas: ajudar. Podemos conseguir um emprego para você, assim pode se reestabelecer pouco a pouco e ficar aqui o tempo que for preciso para recomeçar, mas que seja o bastante para ganhar uma vida além da que você tinha nas ruas.

Ele não estava aflito, e sim nervoso pela forma a qual eu reagiria à proposta.

Fiz minha análise outra vez de maneira ainda mais rápida, chegando novamente a conclusão de que eu não tinha nada. Eu tinha meu orgulho, mas eu poderia mantê-lo enquanto trabalhava duro para sair daqui o mais rápido possível sem precisar de casebre, apresentações sobre o sol quente (que não eram úteis em dias de chuva), risco de fome, nada disso. Quanto ao meu instinto, ele se tranquilizava com a ideia de que eu continuaria a observar Jongin bem de perto.

Vi as esperanças de uma resposta positiva se perderem pouco a pouco enquanto eu preenchia cada segundo com o meu silêncio, mas bastou uma frase para as íris castanhas se reacenderem:

- Tudo bem, eu aceito.

O que a insônia não faz com a gente, não é mesmo?? kkkkkkkkkkk mais de 1000 palavras em um momento só, sem pausa

A última frase podia ter sido pra pedido de casamento logo? podia, maaaaas nada de emocionados por enquanto rs

Não canso de desejar que estejam gostando do upgrade na história, e eu só vou saber se vcs curtirem e comentarem então FALEM COMIGO PELAMOR

bjs e até a próxima att ♡

Dance with me - KaiOnde histórias criam vida. Descubra agora