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A tarde estava levemente nublada, o que era um alívio para os dias quentes. Me senti grata pelo vento que me acolhia ao pé do morro.

Já haviam se passado dois dias desde o último incidente. Depois que os dois colocaram roupas secas, Jongin e eu decidimos assistir a um filme juntos, desta vez, em casa. Ele fez a pipoca enquanto eu colocava as roupas para lavar. Ousaria dizer que pareciamos um casal em sua rotina, mas estávamos sendo apenas amigos que moravam juntos. Ou ao menos tentávamos. Estávamos de volta ao normal e, ao mesmo tempo, não estávamos. A química (por Deus, é sério que eu estava usando essa palavra? Tô pior que romance clichê) ainda estava presente, como uma força invisível que lutávamos para ignorar. Meio desconfortável, mas valia a pena.

Bem, o problema da amizade secretamente declarada é que isso envolvia intimidade, e com ela....

- Então quer dizer que você é mesmo virgem? - Kai perguntou naturalmente no meio do filme, colocando mais uma mão cheinha de pipoca na boca.

- Sim, e não compreendo a sua curiosidade quanto a minha vida sexual. Que é inexistente, aliás - completei, sem olhar para ele, assim como ele fez comigo.

- Só fiquei curioso. Não é normal as meninas da sua idade serem virgens. Voto de castidade?

- Não. Só não tive o momento certo.

- Arriscaria dizer que nunca namorou, então.

- Já, eu já namorei - falei, meio entediada. Na verdade, fazia a menor ideia do motivo daquela conversa, e essa falta de explicação que me deixava incomodada. - Só nunca quis. Nunca foi muito atrativo para mim, até mesmo nas fases hormonais.

- Interessante - ele concluiu, ou ao menos pareceu uma conclusão naquele momento. Não demorou muito para mais um ponto atiçar a chama de perguntas. - O Isaac foi seu namorado?

Olhei para ele instantaneamente, mais pela lembrança de Yixing do que pela pergunta em si. Quando eu me lembrava da dança, seu nome parecia estar sob uma janela embaçada da minha memória, como se fosse algo distante, de uma vida passada, ou de uma vida que não fosse minha. Fiquei escandalizada comigo mesmo pela facilidade que esqueci de seu nome, ou de sua face, ou de coisas nossas do cotidiano. Talvez tenha sido assim porque ele nunca foi real, sempre uma farsa. E estava morto. A segunda parte era ainda mais difícil de se acreditar.

Kai pareceu perceber minha expressão e respondeu com outra que revelava arrependimento.

- Desculpa, não devia ter tocado no nome dele. Foi um erro meu.

Pisquei um pouco os olhos, fazendo de cada segundo um momento em que Yixing, Isaac e todas as suas mentiras voltavam para a parte mais remota da minha mente, onde ele não poderia mais me ferir.

- Tudo bem. E não, não namoramos nem nada do tipo. Éramos apenas parceiros e nada mais.

Ele assentiu, ainda meio acuado por ter entrado nesse assunto. Eu estava decidida a quebrar o clima estranho, mesmo que isso arriscasse a minha dignidade, talvez.

- E você?

- Eu o quê? - A ponta de vivacidade na sua voz me deixou mais leve.

- Virgem?

- Não. Também não poderia me dizer "o pegador" porque nunca gostei desse status, mas já foi para além de uma pessoa. Não em uma única vez, por Dios - acrescentou tão rápido que quase não pude entender. - Mas é isso.

- E namoro? Já namorou?

O jeito que ele respirou fundo com os olhos fechados revelou a dor que esse assunto trazia. Assim como eu havia lançado Yixing no mar do esquecimento, também esqueci de que ele estava ferido por alguém do passado. Coloquei a mão sobre o seu ombro como uma forma de consolo.

Dance with me - KaiOnde histórias criam vida. Descubra agora