Os pontos pretos que se formavam na minha vista me impediam de ver exatamente por onde eu estava indo, mas meus pés descalços pareciam ter tanta convicção que não me dei ao luxo de parar até chegar ao meu destino. Os espelhos que cobriam toda a superfície das paredes e do teto da sala VIP não só testemunhavam quanto me revelavam o meu estado decadente. Eu sentia que era capaz de emitir ondas de desespero a cada batida de coração.
Me sentei, rendida ao meu estado físico mas ainda em confronto pesado com o meu emocional. Enquanto tentava reconstruir minha própria fortaleza interna, me questionava em que momento abaixei a guarda. Na conversa sobre nossos passados? Ou naquela noite que percebi que ele se tratava de um raio de um homem bonito?
Um homem bonito que estava indo ao meu encontro, por sinal.
- Nita! - Jongin corria diretamente para mim, mas algo o fez parar a alguns passos de distância e eu não tinha nem cabeça para pensar no motivo.
Talvez porque da última fez que vocês se tocaram você correu, sua tonta!
- Tudo bem? O que aconteceu?
Ele se abaixou tão devagar que pareceu um ano inteiro dentro de poucos segundos. Estava sendo cauteloso, como um domador agiria perto de um animal selvagem. Ainda assim, como em um súbito de coragem, ele colocou uma mecha fugitiva no seu devido lugar. Tentei me distrair com o pensamento de que aquela mecha havia me traído depois do tempo dedicado a colocar todas no lugar. Em vão.
- Lembrei de algo que não queria, só isso. - Não me orgulhava de ter mentido, mas não tinha o que dizer. Se eu dissesse que estava tudo bem, seria outra mentira, e descarada ainda por cima. A mão que estava no meu cabelo encontrou um novo repouso em meu joelho.
- Vou pegar seus sapatos para a gente ir pra casa, okay?
Assenti, já pensando no alívio que seria tomar um banho, ficar sozinha e esquecer de tudo o que eu senti e que não passou de mera ilusão momentânea. Ainda seguia invicta e, se começasse a duvidar de mim nesse ponto, investiria no celibato.
Eu não estava apaixonada por Kim Jongin. Não, não estava. Foi apenas um surto maluco o qual eu me livraria no dia seguinte sem esforço algum. Simples. Ponto.
ㅡ // ㅡ
"Você é linda."
"Anseio pelo dia em que vou te conhecer de verdade."
Já tinha perdido a conta de quantas vezes me revirei na cama enquanto essas frases vinham na minha cabeça, juntamente com os fragmentos de memória do El Dorado. A tormenta era tanta que até trocar o lado do travesseiro eu já tinha feito, mesmo não sendo supersticiosa. Como era previsto, nada mudou, e eu continuava uma idiota trouxa que carregava o rosto de um homem na memória.
Será que ele gostava de mim?
Levei um susto como se meu pensamento tivesse sido dito em voz alta por outra pessoa. Cansada de lutar contra mim mesma, levantei da cama, vestindo apenas uma camisa (a camisa dele, por sinal. Ótimo jeito de se esquecer alguém). O sol era apenas uma fina linha alaranjada no horizonte. Mal amanhecera e minha mente já estava me pregando peças.
De nada adiantou tentar abrir a porta devagar. Enquanto eu havia optado por me manter acordada e beber alguma coisa, ele já teve essa ideia fazia tempo, provavelmente nem havia cogitado ficar na cama. Parece que toda a aura viva se esvaia a cada suspiro que ele dava, o encanto jovial dando lugar a um corpo tenso e cansado. Ele também tinha seus problemas.
- Parece que eu não fui o único a brigar com a cama.
- Não. Não foi.
Então ele também teve problemas com sua mente, afinal. Se era o trabalho, eu não sabia, mas afastava ao máximo a chance de que ele estaria pensando no mesmo que eu.
A cozinha só tinha 2 paredes: a que delimitava o apartamento e uma menor, que não cruzava o espaço, e que ficava ao lado da porta de entrada. Como a mesa era de frente para a parte aberta, ele tinha total visão de mim. Talvez o conhecimento disso causasse a impressão de que, em alguns momentos, ele erguia os olhos por trás das lentes para mim. Talvez não fosse uma impressão. De qualquer forma, eu estava ocupada demais procurando o que queria para fazer minha bebida noturna favorita: leite com mel e canela. Não levava muito tempo, apenas o bastante para o leite ferver, mas era o suficiente para me manter falsamente entretida.
Finalizado sob o mais puro silêncio, coloquei o bastante na minha caneca, satisfeita com o cheiro que acompanhava a leve fumaça. Pega de surpresa, uma mão foi para cima da minha cabeça, pegando o item que estava na prateleira. Me virei com a leiteira ainda em mãos. Por pouco não encostou nele e o queimou. Ele a pegou e se serviu, colocando-a na pia e mantendo sua caneca estampada de caras de ursinhos na mão. Me mantive quieta, esperando que ele fosse sair.
Mas não saiu.
Levou alguns segundos para que a caneca dele encontrasse apoio na bancada atrás de nós, mas eles não foram curtos o bastante para que sua proximidade física não causasse algum efeito em mim. Causou, e muitos. Minhas pernas pareciam manteiga derretida e eu tinha a total certeza que meus divertidamentes estavam em desespero. Suas digitais pareciam ir além do tecido onde suas mãos tocavam minha cintura. Estava ali, outra vez, perto demais do Sol, mas eu não tinha para onde correr, tinha?
Okay, vamos ser sinceros aqui: nem correr eu queria! Estava querendo enganar a quem!?
E estavamos tão perto que, se meu corpo se mexesse sozinho por um susto ou sei lá o que, aconteceria ali, naquele momento.
E eu vi. Ele queria. Ele queria tanto quanto eu. Se por um surto de loucura ou de carência, quem se importava? Ele queria!!
Até que ele arregalou os olhos, como se um raio tivesse acabado de passar na frente dele e matar alguém, deixando-a inconsciente aos seus pés.
Sua testa colidiu no meu ombro de tal maneira que chegou a doer um pouquinho. As mãos subiram e os braços se cruzaram, formando um abraço desajeitado.
- Não tive chance de te parabenizar corretamente pelo seu emprego. Estou feliz por você.
Então era isso??? Tuuuuudo aquilo foi só pra....pra.... AAAAAAAAARGH. Que saco!!!
- Obrigada. - Minhas palavras foram igualmente vazias. Não que eu suspeitasse que ele estava feliz pela minha conquista, mas não naquele momento, quando sua mente tinha outra coisa dominando. Nem havia percebido que eu apertava as bordas da bancada atrás de mim quando ele suspirou no meu pescoço, logo no ponto mais fraco que ele poderia alcançar.
Numa atuação com falhas e defeitos, ele voltou a me encarar com uma distância respeitável e uma alegria mais falsa que a teoria da terra plana.
- Que tal sair para comemorar? Preciso de um tempo em todo esse trabalho.
Assenti apenas, sem disposição para emtrar no mesmo jogo, e mesmo assim ele continuou, sorrindo mais até voltar à mesa com sua caneca em mãos. Peguei a minha e fui para o quarto. As lembranças do calor que seu corpo transmitia persistiam enquanto o do sol atingiam o quarto.
Agora deu ruim de vez.
Oioioiiiii
Sei que o cap foi curto mas eu não queria deixar vcs sem att. Parece que as coisas estão começando a se agitar..... hehehehehehe
Como vcs estão ultimamente? Como ta sendo a quarentena pra vcs? Me contem!! Quem quiser desabafar tbm, fique a vontade
Beijos e até a próxima att ♡
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Dance with me - Kai
FanfictionYoon Eve, mais conhecida como Nita, é uma moradora de rua. Por meio do seu parceiro de dança e da salsa, sua herança de família, ela luta para sobreviver todos os dias, até que essa luta por sua vida se torna urgente. Nessa mudança brusca e com sua...