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A noite já começava a dar as caras quando me coloquei a caminho do apartamento. Eu não conseguia mais chamar aquele lugar de casa, muito menos de lar. Nao fazia ideia para onde iria, mas eu precisava sair dali. O problema é que, antes de sair, eu precisava pegar minhas coisas. Torci para que o lugar estivesse vazio quando eu chegasse. Não fazia ideia do que dizer caso Aeun perguntasse por algo. 

Então, sabe seu namorado? Ele te chifrou. Comigo, por sinal. E não sei como você sabe quem eu sou porque eu não fazia ideia da sua existência até algumas horas atrás. Eu sou apaixonada por ele, por isso não posso mais ficar aqui, sabendo que fui enganada, acreditando que era recíproco (porque veja bem, ele que me beijou, me elogiava e tudo, tá?). Enfim, boa sorte com o seu alecrim dourado, mas eu não posso ficar. Prazer em te conhecer, eu acho. 

É, não era uma bom discurso a se fazer. Não sei se tacar uma cadeira na cabeça dele era o suficiente para transmitir o recado a ela. Para ele, talvez. Não era uma ideia a ser descartada. 

Desci no ponto perto do prédio, passando por um bar no caminho. Me pareceu tentador, mas não era muito de beber. Preferia lidar com a situação sóbria de qualquer jeito. Era pegar as coisas e sair. 

Prestei atenção se havia vozes antes de entrar no local. Silêncio. Devem ter saído para aproveitar a chegada da jovem. Adentrei o apartamento, encontrando apenas uma figura solitária jogada no sofá com uma garrafa de cerveja que eu já sabia que tinha na geladeira. Ele parecia péssimo. 

Jongin olhou para mim em câmera lenta antes de voltar a prestar atenção no vazio. 

- Aeun foi visitar uma amiga. 

- Não lembro de ter te perguntado alguma coisa. 

Antes que uma discussão se iniciasse ali, parti para o quarto. Parecia um sinal do universo que eu tivesse comprado uma mochila grande para o trabalho naqueles dias. Coloquei o que pude nela, priorizando o essencial. Coloquei as roupas que tinha comprado naquele dia também. A maioria das coisas que eu tinha foram presentes dele quando eu cheguei aqui. Não queria levar nada que ele tivesse comprado, mas precisei colocar coisas essenciais na mochila e na outra bolsa grande que tinha. 

Enxuguei algumas lágrimas no processo, me assegurando de que não restara nenhuma enquanto eu me preparava para cruzar a sala. Ajeitei a mochila nas costas, coloquei a carteira na bolsa e me levantei. Ele não havia saído do lugar e falou apenas quando entrei no seu campo de visão. 

- Está indo embora?

- O que você acha? Tirar férias nos Andes que eu não vou. 

- Não está esquecendo nada? 

Olhei para trás, percebendo que tinha algo em seus dedos. Ele virou o cartão branco, revelando minha foto no documento. Minha identidade. Gelei. 

- Onde achou? - minha voz estava falha e eu nem me preocupei em tentar disfarçar. Seu olhar de arrependido havia desaparecido, sendo substituído por íris cortantes e frias. Ele estava irreconhecível. 

Coloquei a mochila e a bolsa no chão. Seria uma longa conversa. 

- Na sua carteira, dentro da bolsa com a gravata. Como ela estava aberta, fui fechar e me deparei com o nome de ninguém mais, ninguém menos que a aguardada Herdeira Perdida. - Sua fala era lenta e cheia de autoridade. Agora ele tinha uma carta na manga. 

- Eu menti para me proteger. - Me permiti aumentar alguns tons na voz. Queria me livrar desse sentimento de uma vez por todas. - Pelo menos eu não brinquei com os sentimentos de ninguém, não é mesmo? Ou pior, de duas pessoas. Eu não sou a única com a vida dupla aqui. 

Dance with me - KaiOnde histórias criam vida. Descubra agora