Não demoramos muito na delegacia. Por mais que Amanda não tivesse comentado mais nada sobre o caso nem tivesse esboçado reação, senti como se ela, de alguma forma, tivesse ficado mais leve. Por mais que eu não tivesse vontade de pensar em Jongin (mas a minha mente ainda insistia no assunto, olha só que maravilha!), não pude deixar de agradecê-lo il vezes em minha mente por ter convencido Amanda a denunciar Sofia, deixando com ela o cartão de um advogado que poderia ajudar com o caso. Me coloquei como testemunha do ocorrido.
A delegacia não era longe do El Dorado, então foram apenas alguns poucos minutos de silêncio até a gente descer do carro. Colocamos as compras em nossos respectivos quartos, nos encontrando na sala logo em seguida.
- Hoje o dia foi longo... - ela disse, se jogando no sofá. Não pude deixar de concordar. Foram muitas emoções e ainda eram 14h. - Como você está?
- Acho que eu deveria fazer essa pergunta, não?
- Eu tô bem, fica tranquila. Bem, tive que segurar muito a raiva, mas já aprendi que dar a eles esse gosto não resolvia nada. Não quero perder meu réu primário tão cedo. - Ela deu uma risadinha, e não pude deixar de acompanhar enquanto admirava ainda mais minha nova velha amiga. - Mas eu quero saber de você.
- Eu... tô lidando. Ainda é difícil, assumo, mas eu tenho outros assuntos para me preocupar agora, não é mesmo?
- Falaaaando nisso... - Amanda se endireitou no sofá. - Pensei em te apresentar hoje oficialmente como rainha do El Dorado.
- Já?! - me assustei, quase dando um pulo onde eu estava.
- Se você não quiser, tudo bem. Sei que parece cedo demais, mas é porque te esperamos por tanto tempo! E a casa esperou junto de nós, sabe?
- Mas eu não sei nada da administração ainda! Se não fosse por amor aos meus pais e à posição que eles deixaram para mim, até permaneceria como bartender sem problemas. Fico confortável lá. - Senti a minha voz afinando pouco a pouco, revelando um certo desespero. E com razão: por mais que eu já esperasse assumir meu lugar um dia, a ideia de tocar um negócio ainda era de muita responsabilidade para mim. Quando eu quase revelei minha identidade da primeira vez, não pensei nisso, assumia. Naquele instante, não podia evitar o sentimento.
- Eu sei, mas a gente vai te ensinar com calma. Você é esperta, acreditamos em você, e não digo isso para fazer pressão, mas para que você tenha confiança em si mesma. E outra: vamos estar juntos nessa o tempo todo! Pode ficar tranquila.
Assenti com a cabeça devagar, ainda com medo. Era coisa demais para se pensar: material, fornecedores, contas, contratação e demissão... Me limitei a respirar fundo apenas uma vez. Não que fosse tirar os problemas como um passe de mágica, mas para impedir algum surto em meio a tudo isso.
- Inclusive, tenho duas coisas para você. - Ela se levantou, me deixando sozinha enquanto retorcia as mãos e levava uma delas ao cordão logo em seguida. Mãe, pai, por favor, me ajudem nisso. Amanda voltou assim que terminei a prece silenciosa, com uma caixa e algo que não consegui identificar. - Primeiro, a caixa.
Peguei o embrulho de cetim perolado perfeitamente bem conservado. Olhei para Amanda, que mal conseguia conter sua empolgação e batia palminhas com ansiedade. Assim que abri, me deparei com um belo vestido de salsa. Dourado, claro. Pedras brilhantes se misturavam a diversos desenhos do sol ao longo do corpete. Na saia, fitilhos cintilantes refletiam a luz em meio a outros fitilhos mais apagados. O vestido era no formato "tomara-que-caia", mas haviam feixes um pouco abaixo dos ombros, no estilo de roupa cigana, também com desenho do sol, mas algumas estrelas da mesma cor também. Um vestido digno de realeza.
Antes que eu pudesse dizer algo, também notei um arco com flores igualmente douradas, mas que se estendia um pouco para trás, unindo um outro arco com estrelas. Havia também um salto pequeno e da mesma cor da caixa. Era tudo lindo demais. Mas o que me surpreendeu ainda mais foi a foto encontrada ao fim de tudo isso.
- Eram da sua mãe - dizia Amanda, enquanto eu contemplava a fotografia um pouco apagada pelo tempo. Ela vestia as roupa que estava sobre o meu colo e o cordão que eu usava. Parecia jovem, apesar de ter passado dos 45 quando a foto foi tirada. Uma verdadeira rainha. Não era para menos. - Ela deixou conosco quando o seu pai faleceu. Temos guardado bem desde então. Uma relíquia, eu diria.
Toquei os desenhos do vestido, como se pudesse tocar a ela igualmente. Mesmo na pós vida, ela jamais deixava de me surpreender. O orgulho de ter sido filha de uma mulher tão incrível inflou no meu peito, tirando qualquer dor do luto.
- Queremos que use hoje a noite, na sua apresentação.
Confirmei com a cabeça, ainda incapaz de dizer algo mais. Com esforço, sussurrei um "obrigada". Aquilo foi o suficiente para arrancar um sorriso de Amanda, que pegava o segundo item.
- Isso também é para você. - Apenas quando ela estendeu, percebi que se tratava de uma caderneta de poupança. Folheei algumas páginas que indicavam a movimentação na conta (sempre entrando dinheiro, nunca saindo), até chegar no valor final. Eu apenas arregalei os olhos quando ela complementou: - Esse dinheiro é seu.
- É O QUE?! Ma-mas tem muito dinheiro aqui! Tipo, Amanda, você já viu? Isso é dinheiro demais, pelo amor de Deus.
- Eu sei, eu ajudei a manter a conta - ela respondeu, com a maior tranquilidade do mundo. Não é possível que a gente esteja falando da mesma conta. - Isso é referente à sua parte desde que seus pais faleceram. Claro, tem impostos e afins, senão teria beeem mais aí.
Eu olhava para a caderneta e para ela, sem acreditar. Com o dinheiro que tinha indicado no documento, eu poderia voltar à minha vida de antes. Não, eu teria condições ainda melhores! Mas aquilo não me atraia. Uma única ideia se passava pela minha cabeça. Duas, na verdade: procurar um conselheiro financeiro e repor ao Jongin as despesas que ele teve comigo.
- E aí? Pronta para começar sua jornada nesse império?
Respirei fundo mais uma vez. Eu precisava conseguir. Corações partidos e paixões adolescentes não levariam minha vida para frente. Era hora de eu mesma definir meu destino, mesmo que um certo alguém não tivesse um espaço nele. Seria melhor assim.
- Pronta.
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Dance with me - Kai
FanfictionYoon Eve, mais conhecida como Nita, é uma moradora de rua. Por meio do seu parceiro de dança e da salsa, sua herança de família, ela luta para sobreviver todos os dias, até que essa luta por sua vida se torna urgente. Nessa mudança brusca e com sua...