Dance with me - Kai

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Os raios de sol que entravam pelas frestas da cortina me obrigaram a acordar contra a minha vontade. Havia sido uma noite sem sonhos, o que me deixava aliviada já que eu não sabia o quanto a minha mente poderia ir longe considerando os riscos que me envolviam. A cama ainda parecia macia demais para mim, mas ainda era sinônimo de conforto, o que me deixava grata.

A noite anterior após a conversa no carro foi marcada por poucas conversas e comida por delivery, uma vez que Jongin estava cansado demais para cozinhar alguma coisa, e eu atribuia parte desse cansaço à pequena aventura a qual ele se envolveu comigo. Ele comeu no quarto enquanto eu estava no sofá, vendo algum filme e ao mesmo tempo com a mente longe. Depois, fui para o banho e direto para a cama, também exausta. Jongin parecia estar respeitando o meu espaço ou apenas sendo extremamente cauteloso quanto a mim, tomando todo o cuidado para não fazer nada que despertasse a minha desconfiança.

A minha calça de moletom e minha camiseta (ambas gastas, porém limpas) não combinavam com o calor que estava no dia, mas eram as únicas peças de roupa que eram minhas e que cabiam em mim. Havia mais no casebre, mas eu não tive tempo de pegar já que estava fugindo e não poderia voltar e muito menos pedir para que Jongin fizesse isso. Seria um risco de qualquer forma.

No bolso da calça, encontrei a única herança que me restava: o cordão dourado dos meus pais. O pingente do casal dançando era uma representação do amor que surgiu por meio da dança. Coloquei-o no pescoço, feliz por não tê-lo perdido também, e fui para fora do cômodo, me deparando com uma blusa perfeitamente dobrada que acompanhava um bilhete:

"Bom dia! (ou boa tarde, se você tiver dormido demais)
Tive que sair depressa, mas na mesa tem dinheiro para pedir comida, caso estiver morrendo de fome. Devo demorar, então tem a casa para você o dia todo. Divirta-se!
P.S: caso esteja muito calor para usar calças, use essa blusa para se sentir confortável. Vou bater 3x na porta para você não ser pega de surpresa
Ass: Kai"

Não pude deixar de sorrir um pouquinho quanto a sua preocupação em relação ao meu conforto em dias quentes. Obviamente isso não significava guarda baixa: o fato de eu não conhecê-lo de fato me deixava assustada, tão indefesa quanto eu me senti aos 19 anos, mas eu não era totalmente pessimista, e uma parte de mim, ainda que pequena, queria acreditar que aquele rapaz poderia me fazer bem.

Talvez ainda haja bondade no mundo, afinal.

Aproveitei enquanto ainda estava vestida apropriadamente para pedir a comida. Assim que chegou, tomei um banho (detestava a ideia de comer sem me sentir ao menos limpa), fui para o sofá e fiquei vendo um filme atrás do outro. Precisava me atualizar depois de 5 anos sem ter esse privilégio. A noite veio e Jongin veio com ela, cumprindo o acordo, embora não fosse necessário porque ele havia chegado quando eu já estava me preparando para dormir no quarto.

O dia que veio após este foi a mesma coisa: outra blusa, mas a mesma rotina de pedir comida, assistir TV e ir para a cama. Era bom ter algo parecido a uma vida normal, mas confesso que era um pouco entediante comparado ao que eu vivia antes. A ausência de dança era marcante e dolorosa até, como uma ferida que se recusasse a cicatrizar.

Gostaria de que, assim como eu fazia com a maioria dos meus problemas, eu pudesse esquecer, mas foi então que eu percebi que o que me fazia esquecer tudo era justamente a salsa. Era como buscar um remédio para o remédio, mas eu não tinha a receita.

Acordei no outro dia me sentindo previamente entediada com tudo aquilo, já que eu tinha certeza de que seria mais do mesmo.