O quarto tinha tons de um amarelo bem claro, o que contrastava o armário e a cabeceira de madeira escura. A pequena cama de solteiro parecia macia demais, mas poderia ser impressão minha, já que fazia um bom tempo que eu não dormia em uma.
Fui me sentando devagar, colocando os dedos nas ataduras presentes na garganta e na testa. Eu não estava no hospital, isso era fato. Nem as alas VIPs eram daquela forma. Nem foi necessário esforço para me lembrar da noite passada: Yixing, os Hijos del Acero, a fuga, o homem de olhos castanhos....
O homem de olhos castanhos!
Ele foi a última pessoa que eu havia visto. Eu estava no carro dele antes de parar ali!
Ouvi um som do outro lado da porta. Busquei com os olhos algo que eu pudesse usar como arma, mas não tinha nada. Me levantei silenciosamente, pegando um travesseiro e me colocando ao lado da porta. Assim que ela abriu, joguei o travesseiro no rosto do homem, fazendo-o recuar o bastante para conseguir escapar. No entanto, o ataque não durou muito tempo, então ele logo conseguiu me pegar pelo pulso como na noite anterior.
- Guerra de travesseiros? - Ele perguntou, divertido, enquanto eu tentava puxar meu braço mais uma vez. - Se vai escapar, pelo menos deve comer alguma coisa. No seu estado, não vai cruzar a esquina.
- Acredite, já fiquei mais tempo sem comer. Sei que não desmaiei por isso.
- Você desmaiou por excesso de adrenalina, mas a fome também pode influenciar. Agora você tem a opção de comer. - Ele sorriu, os dedos deslizando pela minha pele até que não houvesse contato algum. Naturalmente, virou de costas e se sentou, enquanto eu permanecia parada. - Sente-se, fique à vontade. Não sabia do que você gostava, então fiz torradas com café. Se quiser, tem leite na geladeira.
Me mantive parada, analisando a situação e procurando alguma coisa que denunciasse a ele, mostrando que não era digno de confiança. Nenhuma tatuagem ou algo suspeito foi revelado. Com cautela, me aproximei da mesa, sem tirar os olhos dele. Teria que agir no primeiro movimento.
- Não tenho...o luxo de gostar de algo específico.
- Isso não quer dizer que você não seja humana. A falta de privilégios não pode tirar de você a sua essência.
- Pra você é fácil dizer... - murmurei, e era verdade. Ele estava numa casa boa, vestindo um terno, e se seu emprego exigia um, com certeza era um trabalho importante. Se ele já teve uma vida como a minha, teve tempo o suficiente para reestabelecer sua vida financeira e mental, recuperando todos os gostos e sonhos que a rua tira.
Ele não se sentiu ofendido, apenas fez o ar sair de seu nariz como uma espécie de risada curta enquanto se concentrava na comida. O silêncio se fez presente por pouco tempo, já que, no minuto seguinte, ele olhou para o relógio, virou o café de uma fez só e saiu apressado com uma torrada na mão, enquanto a outra se preocupava em segurar a alça da maleta.
- Preciso ir. Se precisar sair, tem uma chave extra no vaso do lado de fora, debaixo de uma pedrinha. Se o estômago roncar, tem comida na geladeira, mas pode pedir algo diferente no folheto pendurado e colocar na minha conta, só não pede o restaurante inteiro, por favor. Tem ataduras no banheiro, caso precisar trocar as suas.
Enquanto guardava as instruções, meu choque foi aumentando.
- Você nem me conhece! Como pode confiar numa estranha que tava sendo perseguida noite passada?
Ele parou toda a agitação, me olhando como se eu fosse um fenômeno curioso.
- Você precisa de ajuda, e não tenho medo de ajudar.
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Dance with me - Kai
FanfictionYoon Eve, mais conhecida como Nita, é uma moradora de rua. Por meio do seu parceiro de dança e da salsa, sua herança de família, ela luta para sobreviver todos os dias, até que essa luta por sua vida se torna urgente. Nessa mudança brusca e com sua...