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DULCE MARIA SAVIÑONDias atuais
Falei que não achava que pudesse doer mais do que já estava doendo.
Estava enganado.
Sentir Christopher dentro de mim e ouvi-lo dizer aquilo doeu mais do que eu imaginei ser possível. Mais do que achei ser suportável.
Enquanto acelero a moto, repasso os anos que dividimos um com o outro, me atentando ao máximo de detalhes possíveis, afinal, eu sou a única pessoa que pode se lembrar de tudo.
Lembro da primeira vez que nos vimos, da primeira vez que ele sorriu e da primeira vez que me chamou de Maria, mesmo que eu não tenha gostado tanto.
Me lembro do primeiro beijo, do primeiro toque e da primeira vez que minhas cicatrizes foram tocadas com carinho.
Recordo da primeira vez que eu fui defendida, da primeira vez que consegui dormir bem por me sentir em segurança, e da primeira vez em que estive em um tatame.
Me lembro de todas as primeiras vezes que vivi com Christopher e, junto com elas, me lembro das segundas e terceiras vezes, afinal, criamos nossa rotina nesses oito anos.
Era algo nosso. Nosso jeito, nossas ações, nossos sorrisos, nossas provocações.
Por oito anos, fomos Maria e Luís.
Até que... acabou.
Hoje, mesmo que eu continue pensando nele como Luís, lembrando de tudo o que fez com que ele se tornasse o centro do meu universo, pra ele, eu sou Dulce.
Para o homem que ficou no apartamento, eu não passo de uma desconhecida que tem tentado de todas as formas fazê-lo se lembrar de algo que foi arrancado de sua memória. Eu tenho tentado ao ponto de causar dor em nós dois.
E eu estou cansada de sentir dor.
Estou cansada de assisti-lo sentir dor.
Eu só... estou cansada.
Por isso, estou correndo. Porque preciso afastar essa sensação, afinal, Christopher pode não se lembrar da promessa que fez sobre voltar pra mim, mas eu me lembro de quando prometi que esperaria por ele.
Estou esperando.
Só não imaginei que essa espera tão parecida com uma sessão de tortura.
Sinto meu celular vibrar no bolso de trás da calça e, por mais que não queira falar com ninguém, jogo a moto para o acostamento e suspiro ao ver o nome de Link.
- E ai? - respondo, apoiando o capacete sobre o tanque.
- Mudança de planos.
Franzo o nariz.
- Odeio quando diz isso - suspiro. - O que houve?
- Nada de mais, mas acabamos de descobrir que o cartel que vocês iam invadir vai despachar uma encomenda hoje à tarde. Então estamos adiantando a missão.
Suspiro.
Nem mesmo me lembro qual a última invasão que fiz destinada a apreensão de drogas, mas provavelmente foi no meu primeiro mês no LAPD.
Não é uma missão difícil o suficiente para me distrair, além do que a adrenalina não vai subir o bastante para me animar, mas já que não tenho nada melhor pra fazer, respondo:
- Chego em vinte minutos.
- Vocês dois?
- Não. Não estou com Christopher.
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Amnésia
Любовные романыDizem que o amor é tranquilo e sereno, mas o que sinto por Maria é o oposto. Existem amores suaves, mas o nosso jamais foi assim. Conheci Dulce Maria há oito anos, e desde o início, tudo foi caos. O caos mais envolvente que já vivi, ao lado dessa m...