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DULCE MARIA SAVIÑON

Oito anos atrás.

Mas eu fiquei mais inteligente, fiquei mais forte com o passar do tempo

Querido, eu me levantei dos mortos, faço isto o tempo todo

Tenho uma lista de nomes e o seu está em vermelho, sublinhado

(Look what you made me do – Taylor Swift)


Me deixa começar do começo...

Era uma vez, uma família. O papai, a mamãe e a filhinha.

Em um belo domingo de manhã – que pode muito bem ter sido uma terça-feira à noite, eu não me lembro – o papai saiu de casa e... nunca mais voltou.

Ele disse que estava saindo para comprar os cigarros que sua esposa tanto gostava.
Horas se passaram e essas horas se tornaram dias, que se tornaram semanas, que se tornaram meses e anos, e ele nunca mais voltou. Acontece que enquanto esse tempo passava, muita coisa acontecia. Principalmente as surras que aquela garotinha levava de sua mãe mentalmente instável.

E aquela garotinha era eu.

Não me lembro bem quando começou. Não sei se o primeiro golpe que tomei foi um tapa, um chute ou um soco. Mas os hematomas em meu corpo se tornaram algo tão frequentes que pareciam marcas de nascença que mudavam de lugar ao longo do tempo.

Também não me lembro quando deixei de me importar com a dor ou perdi a capacidade de chorar. Acho que foi depois de ouvir tantas vezes que a surra seria maior caso eu derramasse alguma lágrima, então eu nunca chorei. Nem mesmo quando fui trancada pra fora de casa durante uma tempestade estrondosa.

Acontece que mesmo que eu não chorasse, as surras continuavam longas demais. Até que um dia, quando tinha quatorze anos, uma professora da escola que eu frequentava viu algumas marcas em meus braços. Quando a assistente social foi chamada e falou comigo, eu contei a verdade.

Apesar de ter medo de ir para orfanato e, segundo minha mãe, precisar comer baratas, eu não achava que nada pudesse ser pior do que continuar naquela casa com Blanca Maria Espinosa Saviñon, então passei longas horas contando tudo o que eu havia passado com minha mãe.

No mesmo dia, fui enviada para um orfanato no centro de Los Angeles, onde descobri que além de uma agressora, ela também era uma puta mentirosa.
Depois que perdeu minha guarda, nunca mais levei um único tapa. Nunca fui trancada na chuva e nunca ouvi ameaças. Eu tinha onde dormir, o que comer e não sentia dor. Ah, e não comia barata nenhuma!

Mas nem tudo são bônus, não é mesmo?
Os ônus também vieram.

Eu precisava frequentar a escola e manter boas notas, além de toda semana perder meu tempo conversando com uma desconhecida que, na teoria, me ajudaria a entender os meus traumas. A terapia só me ajudou a entender que eu sou emocionalmente quebrada.

E isso fica ainda mais claro agora, enquanto assisto o vídeo do meu namorado fodendo outra mulher e não sinto um pouco de tristeza. Sinto apenas... raiva.

A escola que fui obrigada a frequentar era de elite que, para ficar bem-vista aos olhos da população, oferecia bolsas de estudo para algumas pessoas. Fui uma das sortudas, ou azaradas, a conseguir essa bolsa e me tornei um projeto de caridade.

Os alunos da Sain't Mikael Private School eram em sua maioria filhos de famosos, que fossem estrelas de cinema, ou diretores de Hollywood, e mesmo com a grande quantidade de pessoas acostumadas a serem o centro das atenções, adivinha quem foi a pessoa mais notada naquele lugar?

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