03. Caminho sem fim.

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Caminhávamos pelo deserto, o calor começando a pesar sobre nós, mas o silêncio era ainda mais insuportável. Niya estava à frente, liderando o caminho, com passos firmes, como se soubesse exatamente para onde ir. Eu continuava desconfiado dela. Algo nela não me passava confiança talvez fosse o jeito impassível com que lidou com a situação de Winston, ou talvez fosse simplesmente o fato de estarmos, mais uma vez, nas mãos de alguém que não conhecíamos.

Olhei para Thomas e Minho. Nós nos entendíamos sem precisar de palavras. A situação estava delicada, e eu sabia que eles também estavam atentos a tudo. Thomas parecia mais aberto à ideia de confiar em Niya, mas Minho... ele tinha aquela expressão característica de "não estou gostando nada disso".

Tereza, no entanto, era a que mais demonstrava desconforto. Ela mal tirava os olhos de Niya, como se a qualquer momento fosse questionar mais alguma coisa. Não confiava nela, isso estava claro, e a tensão entre as duas era palpável. Cada vez que Niya dizia algo, Tereza reagia com desconfiança, mas, por enquanto, ela se mantinha em silêncio, talvez por perceber que todos estávamos tensos demais para mais discussões.

Caçarola, por outro lado, não disse uma palavra desde o som do tiro. O impacto da morte de Winston parecia tê-lo atingido profundamente. Ele mantinha a cabeça baixa, os olhos perdidos na areia enquanto caminhávamos, como se estivesse revivendo o momento repetidamente na mente.

Eu só conseguia pensar no quanto aquele deserto parecia infinito, e em como, com cada passo, estávamos nos afastando mais de qualquer segurança ou certeza. E no fundo, eu me perguntava: será que Niya realmente sabia para onde estávamos indo?

Caminhávamos em silêncio quando Thomas, sempre curioso, quebrou o gelo com uma pergunta direta.

- Como você sabe a localização do Braço Direito? - Ele perguntou, a voz carregada de cautela.

Niya nem parou de andar. Falou diretamente, sem hesitar.

- Meus pais falavam disso. - A resposta foi curta, mas deixava mais perguntas no ar.

Minho, do seu jeito sempre provocador, olhou de lado e perguntou com um sorriso irônico:

- Ah é? Você conhecia mesmo seus pais? — O sarcasmo escorria de cada palavra.

Niya parou subitamente, se virando para encará-lo com um olhar frio e avaliador, o tipo de olhar que faz a gente se sentir pequeno. Com um tom ácido, respondeu:

- Oh, se eu conhecia. - A ironia em sua voz era quase palpável, e antes que alguém pudesse questionar mais, ela voltou a caminhar como se nada tivesse acontecido.

- O que você quer dizer com isso? - Eu perguntei, confuso com a insinuação. Algo ali não fazia sentido.

Ela não respondeu, apenas continuou andando em silêncio, como se tivesse esquecido que estávamos ali. Tereza, impaciente, repetiu minha pergunta com mais firmeza.

- O que você quis dizer com isso? Como assim eles não estão do mesmo lado?

Niya se virou, os olhos carregados de desdém, e soltou um comentário frio e provocador:

- Você sempre é tão inconveniente assim? - O cenho de Tereza franziu imediatamente, o desconforto virando raiva contida.

Thomas, tentando acalmar a situação, interveio.

- Só queremos entender o que está acontecendo, Niya.

Niya soltou um suspiro impaciente e falou com desdém:

- Vocês não precisam saber sobre a minha vida ou a dos meus pais. Esse não é o objetivo. O acordo era eu levar vocês até as montanhas e só. - O tom dela era definitivo, como quem encerra a conversa sem dar espaço para mais questionamentos.

Prova de Fogo: Sombra e Luz - NEWTOnde histórias criam vida. Descubra agora