11. Ranço à Primeira Vista

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Os dias estavam se arrastando, um atrás do outro, sem qualquer sinal de respostas. A gente não sabia absolutamente nada, nem como funcionavam aqueles malditos portões. Brenda e Thomas saíam sempre em busca de informações pela cidade, como se tivessem um mapa invisível guiando eles. Já Jorge e Caçarola, aqueles dois, só apareciam à noite, cheios de histórias e teorias que não ajudavam em nada.

Minho, claro, não deixava passar uma chance. Todos os dias ele surgia com uma nova proposta para irmos ao centro da cidade. Ele achava que era lá que estava tudo, o ponto onde talvez tivéssemos respostas.

Também tinha aquele garoto novo... Aquele garoto, o que andava grudado com Niya agora, sempre aparecia para cortar nosso barato. Falava que o centro era o lugar mais perigoso de todos. Mas nunca explicava por quê.

E eu não conseguia parar de pensar: o que exatamente tinha no centro da cidade?

Enquanto observava de longe, aquele garoto parecia cada vez mais fora do lugar. Ele conversava com Niya, Thomas e Brenda, gesticulando com a confiança de quem parecia saber muito mais do que dizia. Algo nele me incomodava profundamente. Ele não tinha a desorientação que era tão comum a todos nós quando chegamos ali; ao contrário, parecia entender mais do que qualquer um. Isso me deixava com um gosto amargo de desconfiança.

Estava tão focado nele que nem percebi Minho se aproximando, mastigando um pedaço de pão com a mesma tranquilidade de sempre. Ele se inclinou ligeiramente para o lado, tentando entender o que eu observava com tanta intensidade.

- O que você tá encarando tanto? - perguntou, num tom que misturava curiosidade e diversão.

- Aquele garoto - murmurei, mantendo o olhar firme. - Não confio nele.

- Jayce? Ele só tá tentando ajudar, Newt. Para de paranoia. - Minho levantou uma sobrancelha, claramente achando graça.

- Sei lá, cara. Não confio em quem sabe demais, entende? O Jayce… ele age como se soubesse o que ninguém mais sabe. Esse tipo de gente sempre tem uma agenda oculta. - Me virei para ele, sem tirar o olhar do garoto.

- Sério? E a Niya, então? Ela sabe tudo sobre o deserto, e você confiou nela desde o primeiro segundo. Não faz muito sentido, né? - Minho soltou uma risada leve e me deu uma cotovelada de brincadeira.

Fiquei sem palavras, tentando inventar uma desculpa qualquer, algo que explicasse por que eu confiava na Niya e não nele. Mas antes que eu pudesse responder, Minho já estava dando de ombros, mastigando o pão com aquela expressão de quem tinha vencido a discussão com uma facilidade irritante.

- Relaxa, Newt. Às vezes, as pessoas só sabem demais porque precisam. Vai ver, é o caso dele também.

Mesmo com a conversa com Minho, a desconfiança continuava lá, latejando. Quando Brenda, Thomas, Niya e Jayce se aproximaram, cruzei os braços, mantendo o semblante fechado. Brenda olhou para mim, tentando quebrar o gelo com o plano que, aparentemente, Jayce havia sugerido.

- Jayce acha que deveríamos ir em um grupo de quatro até o centro. Ele disse que lá tem uma gangue que pode nos ajudar - ela explicou, lançando um olhar rápido para Jayce, como se buscasse sua confirmação.

- Achei que você disse que o centro era perigoso, Jayce. - Franzi o cenho e virei para ele.

- É, e realmente é. Mas com um grupo maior, temos mais segurança. Precisamos desses contatos, Newt. - Jayce deu um meio sorriso, como se já esperasse minha reação.

Olhei para Thomas, trocando um olhar que transmitia claramente minha opinião sobre essa ideia. Eu não confiava nem um pouco em Jayce, e Thomas sabia disso. Ele ponderou por um instante antes de tomar uma decisão.

Prova de Fogo: Sombra e Luz - NEWTOnde histórias criam vida. Descubra agora