07. Gritos do além

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Os dias se arrastaram, e Niya não deu sinal de vida. Sinceramente? Não me importava mais. Se ela escolheu seguir sozinha pelo deserto, que fosse. Se os Cranks a encontrassem, seria o destino dela, e não algo que eu precisasse carregar. Minha paciência com ela tinha acabado, e ficar remoendo a escolha dela só ia me desgastar. No fim das contas, a vida no acampamento estava boa pelo menos, boa o suficiente para quem passou pelo que passamos.

Não era uma vida de luxo, mas tinha comida e abrigo. O enlatado sempre estava garantido, e eu nunca precisei me preocupar se ia ter algo para comer no final do dia. Era estranho, até. Não lembro a última vez que tivemos esse tipo de estabilidade, mesmo que fosse uma estabilidade mínima. O chão duro do acampamento era mais confortável do que parecia à primeira vista, e saber que estávamos relativamente seguros me dava uma sensação de paz... o que era raro pra mim.

Claro, nem tudo estava perfeito. Tereza, por exemplo, andava completamente distante. Aquela frieza dela nunca foi uma surpresa, mas, ultimamente, parecia que ela estava escondendo algo maior do que o normal. Thomas tentava justificar, dizendo que ela estava apenas abalada com tudo o que tinha acontecido, mas eu e Minho não éramos tão convencidos. Tereza sempre teve seus segredos, mas agora… era diferente.

Minho mencionava isso o tempo todo, e eu concordava com ele. Era difícil não perceber que algo estava errado. A confiança no grupo sempre foi o que nos manteve unidos, mas com Tereza se afastando mais a cada dia, eu começava a me perguntar se isso ainda existia entre nós. A sensação de que estávamos à beira de algo ruim, algo que eu ainda não conseguia entender completamente, me incomodava mais do que eu queria admitir.

Mas por enquanto, decidi não pensar muito nisso. Se Tereza estava escondendo algo, mais cedo ou mais tarde, isso viria à tona. E até lá, não havia muito o que fazer. O importante era que estávamos vivos e relativamente seguros. O acampamento nos proporcionava um tipo de conforto que eu não estava acostumado, mas que eu sabia que não duraria para sempre. Nada dura, especialmente em um mundo como o nosso.

Mesmo assim, era o mais perto de uma paz que conseguimos alcançar nos últimos tempos. Talvez fosse uma falsa sensação de segurança, mas eu estava disposto a aproveitá-la enquanto pudesse.

O sol já estava alto quando todos começaram suas tarefas habituais. A rotina no acampamento era mais organizada do que eu imaginava. Apesar de não ser confortável como uma casa, era o que tínhamos, e Vince fazia questão de manter tudo sob controle. Ele sempre insistia que mudar de localização com frequência era a melhor maneira de garantir nossa segurança e, com os Cranks e a CRUEL nos perseguindo, quem éramos nós para discutir?

Eu e Minho estávamos às voltas com as barracas. Tínhamos que desmontar tudo antes de seguir para a próxima parada. Cada um ali sabia o que precisava fazer, e as tarefas eram divididas sem muita discussão. A gente estava acostumado a se virar rápido, desmontando o acampamento em minutos, mas aquilo de sempre estar mudando começava a pesar um pouco. Eu sabia que Minho pensava o mesmo ele só não dizia nada.

- Essas mudanças constantes estão começando a me dar nos nervos, - Minho resmungou, enquanto enrolava uma das lonas de sua barraca com força exagerada.

- É, também não sou fã, - concordei, dobrando a minha própria barraca. - Mas, se é isso que nos mantém vivos, que seja.

Minho bufou, mas não respondeu. Não precisava. A gente sabia que estava falando a verdade. Com a CRUEL sempre à espreita, e os Cranks soltos por aí, era melhor não ficar muito tempo no mesmo lugar. Mesmo assim, isso não fazia a tarefa menos cansativa.

Vince e o restante do grupo estavam à frente, organizando o mapa e as rotas que iríamos seguir. Eles faziam questão de ter tudo planejado nos mínimos detalhes antes de cada deslocamento, o que, no fim, era algo que eu respeitava. O homem tinha uma presença forte, isso era inegável, e por mais que Niya tivesse deixado claro o desprezo por ele, não dava para negar que sua liderança mantinha o acampamento funcionando.

Prova de Fogo: Sombra e Luz - NEWTOnde histórias criam vida. Descubra agora