04. desastres.

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Brenda nos guiou por mais um corredor, e eu não consegui esconder minha surpresa ao olhar ao redor. A construção parecia muito maior por dentro. O espaço era imenso, quase opressor, mas surpreendentemente bem organizado. Havia divisões que formavam salas improvisadas e áreas de convivência. Não era luxuoso, longe disso, mas tinha um senso de funcionalidade e propósito que eu não esperava.

A movimentação ao redor me pegou de surpresa. Havia muitos sobreviventes mais do que eu achava possível. Grupos de pessoas andavam de um lado para o outro, carregando caixas de suprimentos, armas improvisadas, ferramentas. O lugar parecia vivo, como uma colmeia em constante atividade. Todos tinham um objetivo, algo a fazer. Era impossível não sentir a urgência no ar.

O chão sob nossos pés era de concreto, áspero e frio. As paredes, feitas de pedra e metal, pareciam ter sido reforçadas. Isso aqui era uma fortaleza, feita para resistir. Eu vi tendas montadas em alguns cantos, onde as pessoas provavelmente dormiam. Mesas estavam cobertas de mapas e papéis, onde grupos menores discutiam o que parecia ser estratégias e planos de ação. Luzes fluorescentes pendiam do teto, piscando levemente, lançando sombras estranhas nos corredores, mas era o suficiente para iluminar o espaço.

- Quantas pessoas vivem aqui? - murmurei, mais para mim mesmo do que para os outros, ainda olhando ao redor, tentando absorver tudo. Era surreal. Essas pessoas eram como nós sobreviventes. Lutadores.

- Uma cidade inteira, parece, - Minho comentou ao meu lado, também observando o ambiente. - E eu achando que estávamos sozinhos nessa.

Brenda, à frente, liderava o caminho como se fosse dona do lugar. Não parecia se incomodar com os olhares que recebíamos das pessoas enquanto passávamos. Eu podia sentir o julgamento, a desconfiança. Não éramos só recém-chegados éramos estranhos, e ninguém sabia se éramos uma ameaça ou não. Mesmo assim, ninguém se aproximou para questionar nossa presença. O simples fato de Brenda estar conosco parecia nos proteger, pelo menos por enquanto.

Ela nos levou até uma área mais isolada, onde o barulho constante de passos e conversas diminuiu. As paredes ali pareciam mais reforçadas, mais seguras. Paramos diante de uma porta pesada de metal, com uma pequena janela quadrada no centro.

- Lá dentro, - Brenda falou, olhando por cima do ombro para nós antes de abrir a porta. - Melhor não fazer muitas perguntas de uma vez. Ele não gosta de ser incomodado.

Ela empurrou a porta, revelando um ambiente mais escuro, mais fechado. A luz era fraca, mas eu imediatamente percebi que não estávamos sozinhos. Sentado atrás de uma mesa cheia de documentos e mapas, estava um homem. Ele tinha ombros largos, uma postura firme, e seu rosto estava marcado pelo tempo e pela guerra. Seu olhar era intenso, cansado, mas ainda assim cheio de vida.

Quando ele nos olhou, senti o peso daquele olhar. Era como se ele estivesse nos analisando, tentando entender quem éramos e se valíamos a pena. Uma barba grisalha cobria seu rosto, e cicatrizes o marcavam. Eu podia imaginar as histórias por trás de cada uma delas.

- Esses são os garotos que você estava esperando? - Brenda cruzou os braços e inclinou a cabeça na direção dele.

O homem não disse nada por um longo tempo, apenas nos avaliou com olhos duros, antes de finalmente falar, sua voz grave e áspera.

- Você trouxe estranhos até aqui, Brenda. Espero que saiba o que está fazendo. - ele disse.

- Eles estavam procurando o Braço Direito. Achei que você gostaria de conhecê-los. - Ela deu de ombros, sem parecer preocupada.

O homem se levantou lentamente, ajeitando a postura enquanto nos estudava. Seus olhos passavam por cada um de nós, como se estivesse nos pesando, nos medindo.

Prova de Fogo: Sombra e Luz - NEWTOnde histórias criam vida. Descubra agora