17. quebra-cabeças

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Dias depois, a atmosfera do acampamento era sufocante. Não apenas pela tensão crescente, mas pela dor de assistir Niya definhar mais a cada dia. O número de pessoas no acampamento havia dobrado; cada rosto refletia preocupação e vigilância. Todos estavam em alerta, mobilizados na busca pelo assassino de Dandara. A segurança tinha se tornado prioridade, mas mesmo assim, o medo parecia espreitar em cada canto.

Caminhei até Jorge, que estava ao lado de um jipe, revisando o motor com uma concentração que parecia mais uma tentativa de fugir da realidade. Não consegui me segurar por mais tempo.

- Alguma boa notícia? - perguntei, tentando manter a voz firme, mas meu tom traía a ansiedade. - Sobre a asma da Niya? Isso... isso vai ser passageiro, certo?

Jorge parou o que estava fazendo, limpando as mãos em um pano sujo de graxa antes de olhar para mim. Seu rosto tinha aquela expressão séria que eu já conhecia bem, o tipo que sempre precedia uma notícia que eu não queria ouvir.

- Thomas e Brenda estão com ela agora - ele disse, desviando o olhar por um momento. - Mas... Newt, não parece que vai ser passageiro. Pelo que estamos vendo, a asma dela pode ser permanente.

Permanente. A palavra me atingiu como um soco no estômago. Eu tentei engolir o nó que se formava na minha garganta, mas era inútil. Olhei para o chão, tentando processar o que aquilo significava. Niya já estava sofrendo tanto, e agora isso?

- Ela sabe? - perguntei, a voz quase um sussurro.

Jorge assentiu lentamente.

- Sim, Brenda contou. Mas você conhece Niya, ela está tentando ser forte. Mesmo assim, Newt... - Ele suspirou, parecendo escolher as palavras com cuidado. - Ela vai precisar de você mais do que nunca agora.

Olhei de volta para Jorge, minha mente ainda presa na notícia sobre Niya, mas havia outra coisa queimando em mim, algo que eu precisava saber.

- E sobre... sobre o desgraçado que matou a Dandara? - perguntei, tentando manter o tom firme. - Encontraram alguma pista?

Jorge balançou a cabeça lentamente, o rosto cansado e marcado pela frustração.

- Nada, Newt. Nem um rastro. - Ele soltou um suspiro, esfregando a nuca. - A gente reforçou as patrulhas, organizamos grupos de busca, mas parece que o maldito desapareceu no ar.

O nó na minha garganta apertou ainda mais. Era como se aquele encapuzado tivesse virado uma sombra, sempre um passo à frente.

- Isso não faz sentido, Jorge - retruquei, sentindo a raiva fervendo dentro de mim. - Ele não pode simplesmente sumir. Alguém deve ter visto alguma coisa.

Jorge apenas me encarou, o olhar firme, mas cheio de resignação.

- Eu sei, garoto. Todos sabemos. Mas estamos lidando com alguém esperto. Ou... - Ele hesitou por um momento, como se ponderasse se devia continuar. - Ou com alguém de dentro.

A ideia me fez estremecer. Alguém de dentro? Não era possível... não podia ser.

- Você acha que é um dos nossos? - Minha voz saiu baixa, quase incrédula.

- Não descarto nenhuma possibilidade, Newt. Mas, até termos algo concreto, estamos andando no escuro. - Jorge disse e deu de ombros, o olhar sério.

Eu fechei os punhos, tentando conter a frustração.

Enquanto Jorge se afastava, fiquei parado por um momento, observando o movimento ao meu redor. O acampamento estava mais cheio do que nunca, o que parecia oferecer algum tipo de segurança, mas, ao mesmo tempo, só tornava o ambiente mais tenso.

Prova de Fogo: Sombra e Luz - NEWTOnde histórias criam vida. Descubra agora