16. Mudanças

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As semanas passavam, mas Niya não demonstrava nenhuma melhora. A cada dia, eu me preocupava mais. Parecia que ela estava travada num ciclo, presa entre a dor e a exaustão. Eu fazia o que podia para ficar ao lado dela. Longas horas ao lado da cama, tentando trazer alguma tranquilidade para ela... e, talvez, para mim também.

Naquela noite, eu estava sentado no chão ao lado dela, observando enquanto ela dormia com dificuldade. Sua respiração era irregular, mas ela parecia estar em um sono mais tranquilo do que o habitual. Então, ela se mexeu levemente, com um esforço visível, e abriu os olhos.

- Estou parecendo a última bolacha do pacote... toda quebrada, - ela disse com a voz rouca, e um sorriso fraco nos lábios.

Não consegui segurar a risada.

- Pelo menos as últimas bolachas do pacote são as melhores, - respondi, acariciando a palma da mão dela com cuidado. Ela suspirou, fechando os olhos por um momento.

- Minha asma tá atacando de novo... - disse, com a voz ainda mais fraca.

Rapidamente, peguei a bombinha de ar que sempre deixava perto e coloquei na boca dela.

- Vai, usa isso, - eu disse, tentando soar firme, mesmo que minha voz tremesse de preocupação. Ela usou o remédio, engolindo o ar com dificuldade, mas já parecia um pouco mais aliviada depois.

- Você vai melhorar, - falei, mais para mim mesmo do que para ela. - Só precisa de tempo.

Ela me olhou com aqueles olhos cansados, mas intensos.

- Newt, não alimenta falsa esperança em mim, por favor. - Sua voz saiu baixa, quase um sussurro. - Eu nem consigo me mexer direito. Não tem como melhorar assim.

Essas palavras me acertaram como uma faca, mas eu não podia deixar ela se entregar.

- Niya, não faz isso com você mesma, - murmurei, apertando levemente sua mão na minha. - Você é mais forte do que isso. Você já passou por tanta coisa. Não desiste agora.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, seus olhos brilhando com algo que eu não conseguia identificar. Por fim, ela assentiu devagar, ainda exausta.

- Vou tentar... - respondeu, quase como uma promessa, mas o cansaço na voz dela me deixou apreensivo.

Eu continuei ali, segurando a mão dela, desejando que fosse suficiente. Que eu fosse suficiente.

Eu continuei segurando a mão dela, sentindo o peso da situação em cada segundo que passava. O silêncio da noite parecia mais denso do que nunca, quebrado apenas pela respiração irregular de Niya e o som abafado de vozes no acampamento, lá fora. Eu queria dizer algo que fosse reconfortante, mas todas as palavras pareciam vazias. Ela precisava de mais do que promessas, e eu me sentia impotente por não poder dar a ela o que realmente precisava.

Depois de um tempo, os olhos de Niya começaram a se fechar novamente. A exaustão parecia puxá-la de volta, e eu só podia observar enquanto ela se entregava ao sono mais uma vez. Meu coração apertava ao vê-la assim, tão frágil, tão diferente da garota teimosa e impetuosa que eu conhecia.

- Você vai sair dessa, - murmurei, mesmo sabendo que ela provavelmente não podia ouvir. - Eu vou fazer tudo o que puder para te tirar daqui, Niya. Tudo.

Minha mente começou a vagar, pensando em todas as coisas que tínhamos enfrentado juntos até agora. Os cranks, as traições, o inferno do túnel... e agora isso. Ela tinha suportado tanto. Era injusto que, depois de tudo, ela ainda estivesse lutando só para respirar.

A barraca estava fria, mas eu não sentia vontade de me afastar para pegar algo para me cobrir. Ficar ali com ela era mais importante. Eu a observei enquanto ela dormia, notando como suas feições estavam mais tranquilas agora. Ainda assim, o cansaço estava gravado em cada linha do seu rosto.

Prova de Fogo: Sombra e Luz - NEWTOnde histórias criam vida. Descubra agora