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Maraisa entrou em casa e avistou Pedro sentado no sofá, com o olhar distante. Ela não queria discutir naquela noite, então passou direto, fingindo não notar sua presença. Sentia-se exausta, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Precisava de um momento de paz.

Ela foi direto para o banheiro, onde tomou um banho rápido, tentando lavar não apenas o cansaço do corpo, mas também as confusões de sua mente. Ao sair do banho, vestiu uma roupa confortável e foi até a cozinha. Preparou algo simples para jantar, comeu sozinha, em silêncio, refletindo sobre tudo que havia acontecido nas últimas semanas — principalmente nas últimas 24 horas.

Depois de jantar, voltou para o quarto, tentando evitar qualquer tipo de interação com Pedro. Precisava de espaço. Mas sabia que não seria tão fácil assim. Pedro, como esperado, não demorou para aparecer. Ele entrou no quarto com aquele semblante que ela conhecia bem, pronto para começar uma discussão.

“Maraisa, podemos conversar?”, ele começou, o tom já indicava que não seria uma conversa tranquila.

Ela suspirou, sentando-se na beira da cama, tentando manter a calma. “Fala, Pedro”, disse com uma voz cansada, sem olhar diretamente para ele.

“Eu não sou bobo. Sei que tem algo errado entre nós faz tempo, mas você anda ainda mais distante. Chega tarde do trabalho, mal me olha... o que está acontecendo com você? Com a gente?”

Ela fechou os olhos por um instante, sentindo o peso daquelas palavras. Parte dela sabia que Pedro estava certo — as coisas entre eles não iam bem há muito tempo, mas agora pareciam estar piorando. O casamento já não tinha a mesma vida de antes, e o silêncio que agora os separava era sufocante.

“Pedro, eu... eu também não sei”, respondeu honestamente, sem forças para inventar desculpas. “Mas a gente sabe que isso aqui, o que a gente tem agora, não é mais um casamento de verdade.”

Pedro bufou, cruzando os braços. “Você acha que eu não percebo? Mas, mesmo assim, a gente tem que tentar. A gente não pode simplesmente deixar tudo ir embora. Nós já passamos por tanta coisa.”

Maraisa, ainda sentada na cama, olhou para ele por um momento. Parte dela queria acreditar que ainda havia uma chance de consertar tudo, mas a outra parte, a mais realista, sabia que já estava tudo desmoronando.

“Pedro, eu tentei. De verdade. Mas... não dá mais. Você e eu somos como estranhos vivendo na mesma casa. A gente não se entende mais, não tem mais... nada.” Ela fez uma pausa, engolindo a dor de admitir aquilo. “Eu não sei se isso tem conserto.”

Pedro olhou para ela, sua frustração evidente, mas também havia um traço de tristeza em seus olhos. “Então você está dizendo que quer desistir? Que é isso, acabou?”

Maraisa respirou fundo. Não tinha uma resposta pronta, mas sabia que as coisas não podiam continuar do jeito que estavam. Ela não conseguia mais fingir que tudo estava bem, e o vazio que sentia ao lado de Pedro parecia crescer cada vez mais.

"Eu não sei, Pedro. Mas eu preciso de espaço. Preciso pensar."

O silêncio que se seguiu era pesado, e Pedro, sem dizer mais nada, saiu do quarto, deixando Maraisa sozinha com seus pensamentos, cada vez mais confusos e dolorosos.

Pedro voltou ao quarto com passos firmes, seu rosto agora não mostrava mais a tristeza de antes, mas uma fúria crescente. Ele já estava exaltado, e antes mesmo de entrar, sua voz já era ouvida pelo corredor.

“Você acha que pode simplesmente me afastar assim, Maraisa? Que eu não percebo? O que você pensa que está fazendo? Achando que o culpado sou eu?”

Maraisa estava sentada na cama, os olhos pesados de cansaço. Não queria discutir, não tinha forças para brigar, mas Pedro parecia determinado a arrastar a conversa para uma guerra. Ela respirou fundo, tentando manter a calma, mas ele não lhe deu tempo de resposta.

“Você vive me culpando pelas coisas que acontecem entre a gente, mas não enxerga que você também faz isso tudo piorar! Não acha que eu vejo como você se distancia? Como você mal me olha quando chega em casa? E agora me vem com essa história de que está cansada? Cansada do quê, Maraisa? De mim?”

Ela fechou os olhos, esfregando as têmporas, sentindo a dor de cabeça se intensificar com cada palavra cortante dele. Quando abriu os olhos, viu que Pedro estava esperando uma resposta, mas o que mais a surpreendia era o quão distorcida era a visão que ele tinha da situação.

Sem se levantar, sem nem sequer olhar para ele diretamente, Maraisa soltou um suspiro pesado, e então, falou com uma voz baixa, mas firme: “Pedro, você foi o primeiro a acabar com o nosso casamento.”

Ele congelou por um segundo, claramente não esperando aquela resposta. A surpresa em seu rosto durou pouco, substituída por mais raiva.

“Eu? Eu fui o culpado? Como assim, Maraisa? Como você pode me dizer isso depois de tudo o que eu fiz por nós?”

Ela finalmente se levantou, agora encarando-o com firmeza. “Sim, Pedro. Você. Com suas saídas constantes, chegando tarde, com cheiro de perfume barato e... manchas de batom nas suas roupas. Dias que você nem se dava o trabalho de voltar pra casa. Como você tem a coragem de me questionar, sabendo tudo isso?”

Pedro ficou em silêncio por um instante, seu rosto ficou vermelho de raiva, mas ele parecia sem palavras. Maraisa aproveitou o momento e continuou.

“Você me traiu, não só fisicamente, mas emocionalmente. Eu te esperei, tentei consertar isso, tentei ignorar, mas a verdade é que você nunca esteve aqui. Você matou o que restava do nosso casamento com cada mentira, com cada noite fora. E agora você quer me culpar por me afastar?”

Ele não conseguia responder de imediato, o olhar perdido em algum ponto do quarto, como se estivesse absorvendo cada palavra. Por mais furioso que estivesse, havia uma verdade ali que ele não podia negar.

Maraisa, ainda com a voz firme, finalizou: “Eu estou cansada, Pedro. Cansada de fingir que isso ainda tem conserto, quando você já fez questão de destruir tudo.”

Pedro finalmente deu um passo para trás, visivelmente abalado. Ele tentou falar algo, mas as palavras não saíam. O silêncio que se seguiu era esmagador, e sem mais o que dizer, ele saiu do quarto, batendo a porta atrás de si com força.

Maraisa suspirou fundo, sentindo o peso do desabafo. Sabia que aquilo não resolveria tudo, mas finalmente tinha falado o que estava guardado há muito tempo.

Continua...

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