Capítulo 80 - O Fardo da Perfeição

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Antes das guerras e do sangue derramado, antes dos templos construídos em sua honra, havia um tempo de confusão na mente de Atena. Ela não nasceu como os outros deuses. Não havia mãe para abraçá-la ou acalentar suas primeiras dores. Ela veio ao mundo adulta, completamente armada, nascida diretamente dos pensamentos de Zeus, uma extensão de seu corpo. Seus olhos, ao se abrirem pela primeira vez, viram o céu claro e os olhos severos de seu pai. Mas, todo mundo conhece essa história, a deusa sábia que surgiu da mente de Zeus, pronta para a batalha. Mas o que ninguém sabia, o que Atena nunca permitiu que ninguém visse, era o vazio que ela carregava. Havia algo oco em seu peito, um silêncio profundo que tornava sua armadura mais pesada a cada passo que dava. Enquanto todos os outros deuses tinham origens complexas, ela era apenas uma extensão dos pensamentos de Zeus

Assim que nasceu, Zeus não lhe deu descanso. Ele exigiu que ela se tornasse mais do que apenas a deusa da sabedoria. Ele queria uma guerreira perfeita. Ele via Atena como uma extensão de si mesmo ou, na verdade, alguém melhor que si mesmo. Se ela conseguisse misturar a razão e força, estratégia e brutalidade, ele tinha certeza que ela ia se tornar a melhor líder do panteão grego

Algum tempo depois

Certa vez, enquanto ainda estava jovem como deusa, Atena foi enviada para ajudar uma cidade que estava sob ameaça constante de invasores bárbaros. Zeus não a mandou para apenas defender o povo, mas para fazer algo maior: criar uma estratégia que eliminasse a ameaça de uma vez por todas. Era um teste de suas habilidades. Zeus queria ver se sua filha conseguia ser implacável e estratégica, como ele esperava

Chegando à cidade, Atena passou dias observando. Ela analisou o terreno, estudou os inimigos, e, mais importante, observou o povo que deveria proteger. O medo deles era tangível. Eles não eram guerreiros treinados, mas simples agricultores, pescadores e artesãos. E mesmo assim, eles depositavam toda a sua esperança em Atena, acreditando que ela os salvaria. A deusa percebeu que, para cumprir o desejo de Zeus, precisaria ser implacável. Ela arquitetou um plano infalível: uma armadilha mortal que atrairia os bárbaros para uma emboscada. Mas havia um custo. Ela precisaria usar os próprios moradores como isca. Sabia que muitos morreriam, mas o sacrifício garantiria a vitória definitiva. Os bárbaros seriam dizimados, e a ameaça nunca mais retornaria

Nos momentos finais antes do ataque, uma jovem mulher da cidade, chamada Alkippe, aproximou-se de Atena. Ela estava entre os aldeões que Atena havia selecionado para servir de isca. Com olhos firmes, mas apavorados, Alkippe pediu à deusa para reconsiderar - Nós confiamos em você, Atena - disse ela - Por favor, não nos abandone à morte -

Por um breve momento, Atena sentiu o conflito dentro de si. Ela poderia encontrar outra maneira? Poderia proteger essas pessoas sem sacrificar tantas vidas? Mas então, a voz de Zeus ressoou em sua mente - "Uma verdadeira líder não hesita. Ela faz o que é necessário para vencer" - Atena sabia que hesitação significava fraqueza aos olhos de seu pai. E ela não podia permitir isso

O plano seguiu como ela havia traçado. Os bárbaros foram atraídos para a emboscada, e a batalha foi rápida e sangrenta. Os inimigos foram aniquilados, assim como muitos dos aldeões que haviam servido de isca. A cidade foi salva, mas o preço era evidente. Quando Atena retornou à cidade, ela viu o olhar nos olhos dos sobreviventes. Havia gratidão, sim, mas também havia algo mais: medo. Eles não viam mais Atena como sua protetora. Eles viam uma deusa que estava disposta a sacrificar suas vidas em nome da vitória. Zeus, é claro, estava satisfeito. Ele elogiou Atena por sua estratégia impecável, por sua força ao tomar decisões difíceis - Você fez o que era necessário, filha. Isso é o que faz de você uma líder verdadeira - ele disse. Mas as palavras de seu pai, em vez de lhe trazerem conforto, apenas reforçaram o vazio dentro dela

Com o passar do tempo, Atena começou a suprimir suas emoções, fechando-se para qualquer conexão que pudesse enfraquecê-la aos olhos de Zeus. Ela se tornou a deusa que ele queria: fria. Sempre com uma estratégia perfeita em mente. Mas por trás dessa máscara, o conflito continuava

Anos depois

Atena tornou-se a deusa temida e respeitada por todos e agora milênios depois, Atena ainda carrega essa cicatriz invisível

De volta para a arena

Atena estava no corredor da entrada da arena, a pouca luz refletindo em sua armadura. Seu rosto estava sereno, mas seus olhos fixos no vazio à sua frente revelavam a intensidade do momento. O som dos trovões e das aclamações vindos do lado de fora era abafado pelas paredes grossas, mas mesmo assim, ela podia sentir a vibração no chão, o frenesim da multidão que aguardava ansiosamente o próximo confronto. Ela fechou os olhos por um breve momento, respirando fundo - Senhoras e senhores! - a voz de Koe ecoou pela arena com um estrondo, trazendo-a de volta ao presente - A próxima batalha será uma disputa lendária, digna dos deuses e das eras! Apresentamos a invencível deusa da sabedoria, a implacável e destemida! A protetora de Atenas... - A multidão explodiu em aplausos ensurdecedores, o chão parecia tremer com a excitação - ATHENAA!! - Atena podia sentir a energia pulsando no ar, ela deslizou a mão pela lança em seu lado, sentindo o metal frio contra a palma

- Chegou a hora - ela murmurou para si mesma, com uma leve inclinação de cabeça. Sua mente voltou brevemente ao passado, àquela aldeia que havia sacrificado pela vitória, àquelas vidas que haviam sido ceifadas em nome da estratégia. Mas isso era o que Zeus queria dela. E hoje, o que todos ali esperavam não era uma deusa compassiva, mas uma guerreira imparáve

lo portão a sua frente a sua frente, começou a se abrir lentamente, deixando entrar um feixe de luz intensa. Atena respirou fundo novamente, endireitando os ombros. Seu rosto assumiu a expressão séria e fria que ela havia aprendido a dominar ao longo dos milênios. Com passos firmes, ela começou a caminhar para fora, para a arena. O som dos aplausos e dos gritos aumentou conforme sua figura emergiu da escuridão. A luz do sol refletiu em sua armadura e em seu elmo, lançando reflexos que ofuscaram os olhos da multidão

Atena ergueu sua lança acima da cabeça, seu escudo brilhando como um símbolo de poder e a multidão explodiu em uma nova onda de aclamação. Ela não sorriu. Não piscou. Seus olhos estavam fixos no portão da adversária

A deusa da sabedoria estava pronta

Fim do capítulo

Crepúsculo dos Deuses: O Último DesafioOnde histórias criam vida. Descubra agora