Kate
1 ano e alguns meses antes.
— Você não precisa ter essa criança, Kate. Vamos resolver isso. — diz Sarina, com sua voz suave, tentando amenizar a notícia chocante que colocaram em minhas mãos.
— Vai ficar tudo bem, Kate. Você nem vai se lembrar que está carregando… um bastardo. — Dessa vez é a minha mãe.
Fecho e abro os olhos quando escuto o que ela diz. De alguma forma, sinto um bolo se formar em minha garganta, e uma angústia me toma. Penso em tudo que passei, penso na dor que senti, penso nas crises que tive em cada segundo que estive sóbria. Eu desejei morrer, eu desejei que meu coração parasse de bater, para que eu não precisasse relembrar aquilo de novo, e de novo.
Mas agora, enquanto acaricio minha barriga e sinto a vida crescendo ali dentro, é como se de alguma forma meu coração sentisse paz. Não é repulsa que sinto, muito menos raiva, eu sinto paz, como se de repente algo começasse a fazer sentido de novo. Como se a minha vida fizesse sentido de novo.
Pela primeira vez em muito tempo permito que minhas palavras saiam da boca:
— Quanto tempo? — murmuro baixinho, completamente perdida no tempo. Desde que tudo aconteceu, eu já não sei mais as horas, se é dia ou noite, ou quantas semanas ou meses se passaram.
— Três meses, Kate. — É Emma quem responde.
Sinto que irei desmoronar, mas de repente, é como se eu fosse tomada por uma força que desconhecia.
Tenho total consciência de como essa criança foi concebida, tenho total consciência de que este bebê é filho de um monstro, e isso é a pior coisa que poderia acontecer com alguém. Mas uma alma como a minha não pode ser ferida mais do que já está. E é provável que eu nunca volte a ser a mesma pessoa que um dia eu fui.
Estou manchada, manchada pelo sofrimento, manchada pela dor, manchada pela maldade das pessoas, isso não vai mudar, mesmo que essa criança morra.
Mas ao contrário disso, eu não me sentiria melhor se optasse em seguir o plano de Sarina, eu morreria junto, pois não há nada dentro de mim, não há vida correndo em minhas veias, a não ser ela. E isso é tão doloroso que quando percebo estou lutando para impedir que uma lágrima caia.
— Eu vou ter o bebê… — digo em voz alta, e talvez eu me arrependa disso algum dia, mas decido fazer o que meu coração está pedindo agora. Eu vou permitir que essa criança viva, talvez assim eu volte a viver também.
***
Dias atuais
Kate
Termino de servir o jantar e também coloco comida para o Spot perto do balcão da cozinha. Pego o prato que estava sobre o balcão e começo a comer ali mesmo, curtindo a plenitude e a solidão de morar sozinha.
Spot come sua ração abanando o rabinho, e eu sorrio, vendo o quanto o cãozinho está feliz. Pego um pedacinho de carne grelhada e jogo para ele.
Após terminar o jantar, coloco a louça na lavadora e volto a caminhar pela minha nova residência, admirando o quanto cada detalhe é encantador, parecido com uma casinha de bonecas. A cozinha é revestida com azulejos azuis de uma tonalidade bem clara, com um designer antigo. Os móveis seguem o mesmo estilo vintage.
A sala possui papel de parede cor de rosa claro, também em estilo vintage e as cortinas brancas transparentes cobrem as janelas de vidro que dão acesso ao jardim de rosas, agora adormecido pela neve.
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MEU FEDERAL ( Spin-off do Best-seller PECADOR)
RomanceSINOPSE: ELE ERA MUITO MAIS VELHO ELA QUERIA UM BEBÊ A vida da ex noviça Kate é um verdadeiro pesadelo. Ela deseja desesperadamente recuperar o bebê que teve após um abuso, e que foi arrancado de seus braços . Mas ao conhecer Andrew, o pai de sua...