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— Santana acaba de avisar que Rogério parece estar armando um plano de fuga. Não temos certeza, ainda. — Marília entrou na sala enquanto jogava a informação no colo de Cassandra. A investigadora suspirou enquanto a colega completava: — Precisamos detê-lo.

A mente de Cassandra voou entre os pensamentos e possibilidades. Havia uma linha de raciocínio na qual se apegou por alguns minutos e começou a acreditar que o começo do fim dessa investigação poderia estar ali. Para ela, a culpada pelo assassinato de Sebastião era Virgínia. O problema era que não podia simplesmente especular. Então, a saída seria pressionar aqueles que estavam próximos da mulher. Todavia, eles não falariam tão facilmente, não eram ignorantes, por isso era preciso encontrar o ponto fraco, onde uma pequena pressão resultaria na explosão de informações.

— Não! — Cassandra reagiu, se pondo de pé rapidamente e estendendo as palmas das mãos em sinal de objeção.

— Não...? — Marília ergueu as sobrancelhas, confusa.

— Entre em contato com a civil do Pará, pois eu tenho quase certeza de que ele está indo para lá. — A investigadora pediu com certa afobação.

— Por favor, seja mais clara ao expor suas ideias, pois não posso simplesmente fazer algo por intuição. — Marília cruzou os braços na frente do tórax.

— Bem, pelos depoimentos que temos, eu acredito que Inezita era de Santarém, no Pará, e que Rogério está dentro de algum esquema criminoso e vai buscar refúgio. Devemos seguí-lo e deixar ele nos levar até a fonte. — Cassandra explicou.

Marília fez um bico, franziu o cenho e torceu os lábios para o canto do rosto antes de dizer:

— Isso é loucura. É um tiro no escuro.

— Eu sei... mas eu sinto... — Cassandra tentou argumentar sem lógica.

— Sentir não é suficiente. — Marília suspirou e massageou as têmporas.

— Então me dispense da investigação e eu vou por conta própria. Eu sei que o caminho é por aí. — A investigadora persistiu.

— Isso está muito distante de tudo o que temos. Você está se fiando no depoimento de um gigolô, Cassandra. Isso não é muito profissional. — Marília tentou apelar para a razão de Cassandra, mesmo sabendo que ela ia para outra direção.

Contudo, Cassandra não estava disposta a ceder. Sua certeza encontrava embasamento ainda maior quando lembrava que estava sendo perseguida de alguma maneira. Isso não poderia significar menos do que uma investigação bem feita, que incomodava alguém.

— Dois dias, Marília. Só dois dias e cooperamos com a civil do Pará. Se eu não encontrar nada, não vai fazer diferença. Estamos com as testemunhas. — Cassandra implorou. — Temos uma equipe inteira no caso, eu não vou fazer tanta falta assim no estágio em que estamos agora. A maior parte do trabalho nesse momento é o de colher depoimentos.

— Cassandra... — Marília, mais uma vez, massageou as têmporas com as pontas dos dedos, em movimentos circulares, e suspirou com força, expulsando o ar de seus pulmões com claros sinais de exaustão. — Tudo bem... Ainda assim é um risco enorme que estou assumindo por você, porque o certo era fazer ele ficar aqui para ser interrogado.

Uma luz se acendeu na mente de Cassandra.

— Você está certa. Tão certa que acho que devemos pedir a cooperação dele e somente depois deixar ele ir. Isso vai deixar ele mais à vontade para fazer merda. — Afirmou, cheia de certeza.

— Olha... Nem sei o que dizer. — Marília estava desconcertada diante da mudança de planos.

— Apenas fique feliz. Dessa forma fica meio a meio: o certo e o que a minha intuição manda fazer. E você ainda vai ter argumentos. — Cassandra sorriu amarelo.

Marília deu um tapa na própria testa e revirou os olhos.

— Você venceu. Espero que traga algo dessa aventura. — Apontou o indicador de forma ameaçadora para o rosto de Cassandra.

— Vou trazer, Marília. — Ela sorriu genuinamente. — Tenho certeza de que sim.

*****

— Ela ainda não foi para a casa onde reside? — A figura admirava seus próprios olhos refletidos no retrovisor. Sempre vaidosa.

— Ainda não, mas eu sei que em breve...

— Sem mais desculpas para a incompetência de vocês. Eu quero Cassandra fora do caminho. — A voz subiu de tom aos poucos, enquanto ganhava nuances de irritação.

— Não é tão simples. Ela não tem medo e é da civil. — A pessoa do outro lado da linha sabia que não teria escolha a não ser dar um fim em Cassandra, mesmo assim tentava postergar.

— Acho engraçado como vocês fazem parecer tão difícil se livrar de uma investigadora. Sabem o que é difícil? Passar as mercadorias de vocês pela fronteira. E eu reclamo? Não. Porque eu, ao contrário de vocês, sou competente. Então eu não quero mais ouvir desculpas. — A voz soou ameaçadora.

A chamada foi encerrada e o aparelho foi descartado através da janela, para dentro do rio.

Outro aparelho foi captado de dentro de uma bolsa de couro com design exclusivo. Uma chamada foi efetuada.

— Oi, querida... Cancele o jato. Sim... Vou de carro até Goiânia e de lá eu pego o avião. Apesar de ser mais demorado, acho que quero me aventurar por esses dias. — Sorriu com seus lábios cheios de preenchimento.

A voz do outro lado da linha fez a conferência das informações.

— Isso... Aguardo retorno sobre tudo. Essa temporada de descanso vai me fazer bem. Eu só encontro problemas por aqui.

Assassinato no Parque Brito (postando)Onde histórias criam vida. Descubra agora