EM SEGUIDA

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Cassandra observou Rogério durante toda a duração do voo e não teve nota a tomar sobre seu comportamento. Era um homem tão tranquilo e comum quanto poderia ser. Ao mesmo tempo em que a investigadora agradecia por isso e por não ter acontecido uma nova abordagem, pensava em como desenvolver aquele contato dali em diante. Precisava parecer natural. O que fazer em seguida?

A mulher puxou o ar com muita intensidade enquanto o avião pousava nas deslumbrantes terras paraenses. Precisava de uma estratégia para não perder Rogério de vista, de modo que ele não desconfiasse de si, mas também não descobrisse mais do que deveria.

— Então, vai ficar em qual hotel? — Ele questionou enquanto desembarcavam.

Era a sorte sorrindo para ela.

— Uai, nem vai ser em hotel... Eu aluguei uma casa. — Cassandra passou a mão pelo cabelo e sorriu para ele.

— Eu também! — Rogério riu. — E qual é a sua programação turística?

— Bom... eu pensei em apenas... andar por aí e conhecer. Deixar a cidade me surpreender. — Cassandra suspirou e deixou o olhar se perder por alguns instantes. — Conhecer o lugar sem um roteiro.

— Ousada demais. — Rogério balançou a cabeça em negativa enquanto ainda

— Tem que ver no que dá, não é? Se planejar demais vira estresse. — Cassandra soava muito convincente.

— É. Só não te convido para se hospedar comigo porque não permitem nem que alguém durma junto, mas podemos trocar os números e combinar algo. — Rogério ofereceu. Sua justificativa não soou sincera aos ouvidos da mulher.

O coração dela Cassandra deu um salto no peito quando viu a oportunidade de ter o contato dele.

— Atravessou metade do país e pegou uma hospedagem que não deixa levar nem um cangote para cheirar? Aí não; aí fica ruim. — Ela jogou verde. Era, de fato, estranho.

— Ah! Eu posso ir para um motel. É até mais seguro. — Rogério respondeu e sacou o celular. — Seu número? E nome? Eu ainda não sei...

Cassandra deu o número de descarte e mentiu o nome. Conversaram mais um tanto enquanto tentavam encontrar um carro de aluguel, e, entre dicas, Rogério finalmente deixou escapar o endereço de sua hospedagem.

A investigadora respirou aliviada quando ele entrou no carro e partiu. Quase teve um ataque cardíaco quando percebeu dois policiais uniformizados se aproximando através de sua visão periférica, mas eles pararam, e disfarçaram.

Quando Rogério saiu do campo de visão, os agentes completaram o percurso até ela.

— Cassandra? — A mulher perguntou com um sorriso. Era baixa, de cabelos e olhos castanhos, pele parda e com uma pinta no queixo.

— Sim? — Cassandra respondeu.

— Eu sou Cynara, e esse é meu colega Jadson. — Apontou para o homem também baixo em relação à estatura de Cassandra. Era preto, de olhos e cabelos castanhos. Ele acenou com um gesto de cabeça.— Seja bem-vinda à Santarém.

— Agradeço muito, Cynara e Jadson. Então... — Cassandra se viu um pouco perdida por um instante. Deveria chamar um carro por aplicativo?

— Vamos até o departamento? Queremos te deixar a par de tudo o que está acontecendo. — Cynara convidou em tom sério. O trabalho urgia e não parava.

— Claro! — Cassandra concordou. Queria resolver o mais rápido possível. — Sabem quem era aquele?

— Não. — Jadson e Cynara responderam em uníssono..

— Era Rogério. — Cassandra elucidou. — Estou precisamente no rastro dele por envolvimento no caso que estamos investigando.

— Os dados da operação de vocês cruzaram com uma investigação nossa. — Jadson finalmente falou enquanto entravam no carro. — Estamos atrás de pistas há alguns meses, mas quando começamos a ir mais a fundo dentro de tudo, percebemos que esbarramos em uma grande rede criminosa, que movimenta milhões de dólares. — Ele introduziu.

— Tráfico? — Cassandra presumiu. Em seu íntimo já desconfiava disso.

— Sim. Tráfico humano. — Jadson respondeu.

Pelo espelho retrovisor o homem viu a expressão surpresa de Cassandra. Ela não esperava por aquilo, por mais que tivesse intuído que havia algo grande.

— Você não sabia? — Jadson estava realmente surpreso.

— Não. Estou aqui porque temos uma vítima de homicídio e as investigações levam a crer que ela era daqui. Lá em Goiás o nome dela era Inezita Barroszo. — Cassandra adiantou o assunto.

Cynara pegou seu aparelho celular e mostrou uma foto para Cassandra. Era de uma moça na frente de uma residência humilde, sem reboco, segurando um bebê nos braços. Foi quase impossível reconhecer Inezita, pois seu rosto havia mudado muito até ser a esposa de Sebastião. Aquela da foto, vestida em calça jeans, blusa de malha de alças finas, chinelos de dedo, com cabelos castanhos e cheios de frizz, era apenas uma lembrança da loura empoleirada sobre saltos que Cassandra tinha conhecido.

— Sim, é ela. Por último ela estava assim... — Foi a vez de Cassandra mostrar uma foto em seu aparelho e quem ficou surpresa foi Cynara.

— Quem é a criança nos braços dela?

Assassinato no Parque Brito (postando)Onde histórias criam vida. Descubra agora