O CACHORRO

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— Que merda, Marília! Você podia ter enviado isso por mensagem. — Cassandra ficou irritada quando viu que a delegada ia reproduzir um vídeo.

A mulher franziu o cenho.

— Fica quieta, Cassandra. Observa. — A mulher clicou no "tocar" e colocou a imagem em tela cheia.

Cassandra reconheceu a rua no primeiro segundo quando a viu. A imagem era um pouco ruim em definição, e estava escura, mas ela conhecia a rua onde morava como a palma de sua própria mão. Ela mesma, Cassandra, apareceu na imagem da câmera de segurança, entrando na própria residência. Marília acelerou o vídeo e depois voltou para a velocidade normal.

Cassandra viu o carro estacionando na frente do portão de Marínia. Era uma camionete preta, cara, sem placa, com tração nas quatro rodas. Alta, de cor brilhante, não fosca. Um homem desceu do lado do passageiro, era Vigílio. A porta do lado do motorista foi aberta e, depois de longos segundos, desceu uma pessoa de porte mediano, vestindo roupa toda preta e escondendo o rosto com uma máscara preta. A máscara cobria tudo, menos boca e queixo.

A pessoa caminhou até onde Vigílio estava parado, aguardando de braços abertos. Ambos se abraçaram na calçada e se beijaram. A pessoa encapuzada disse algo no ouvido de Vigílio enquanto massageava suas partes íntimas por cima do tecido da roupa. Ele sorriu, saliente, e revirou os olhos. Houve uma despedida com mais beijos curtos e carícias. Vigílio franziu o cenho para o portão. Abriu de repente, parecendo estar com raiva. O cachorro saiu da casa, contudo, ao invés de correr até a esquina e voltar, ficou latindo e rosnando para a figura mascarada. Eles brigaram com o cachorro, aparentemente tentando calar o animal, que só ficou mais agressivo e ameaçador. A figura de preto deu um bote e agarrou o cão pelo pescoço, segurando de uma forma certeira e firme. A pessoa apertou forte enquanto Fubá se debatia entre suas mãos. Ela estrangulava o pobre cachorro caramelo.

Vigílio colocou as duas mãos na cabeça, desesperado. A figura fez um gesto com o dedo indicador ereto na frente dos lábios, para ele calar a boca. O pobre animal foi largado no chão, com seu corpo amolecido, já sem vida.

O assassino abriu a porta da camionete, do lado do passageiro e tirou um facão de dentro do veículo. Deu dois passos até Fubá e cortou o pescoço do bicho.

O estômago de Cassandra se revirou diante de tamanha atrocidade. Estava perplexa e enojada com a frieza dos dois.

Vigílio tapou a boca, assustado, enquanto a pessoa brandiu o facão para ele. O jovem se afastou um passo para trás. Parecia um tipo de ameaça.

A pessoa caminhou em passadas rápidas, entrou na camionete e foi embora.

— O maldito. — Cassandra disse enquanto lidava com o asco. — Tenho pena da mãe dele.

— Como você não acordou com todo esse fuzuê bem na porta da sua casa? — Marília questionou.

— Ah, pronto. Agora eu não posso ter o sono pesado. — Cassandra retrucou, impaciente.

— Vou chamar ele aqui para esclarecer a situação. — Marília avisou.

— Eu quero acompanhar. Principalmente porque eu quero saber quem é essa pessoa inimiga dos animais. Acho que ele disse meia verdade e essa é a tal namorada que ele "recebeu". — Cassandra suspirou.

Só conseguia pensar em como Marínia iria se sentir.

— Aonde você vai agora? — A delegada indagou.

— Acompanhar o velório do Sebastião. — Cassandra pretendia trocar de roupa, pois aquela devia estar circulando pelas redes sociais, em vídeos feitos mais cedo.

Assassinato no Parque Brito (postando)Onde histórias criam vida. Descubra agora