007 - "and if?"

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Era um daqueles fins de tarde em que o calor parecia mais suave, e a brisa do mar acariciava nossos rostos como se o próprio verão estivesse nos convidando a relaxar. Estávamos todos sentados em volta de uma fogueira improvisada que John B tinha decidido montar no meio da praia, enquanto Sarah ria das piadas sem graça de Pope. Cléo, ao lado dele, apenas revirava os olhos, mas o sorriso no rosto dela entregava que estava se divertindo também.

JJ estava ao meu lado, o calor da fogueira iluminando seu rosto e fazendo os olhos dele brilharem de uma forma quase... perigosa. Ele tinha essa habilidade de fazer tudo parecer mais intenso do que era, e eu já começava a entender por que era tão difícil resistir a isso.

— Beleza, galera, vamos jogar algo pra passar o tempo — John B anunciou, do nada, com aquele sorriso travesso que era sempre um mau presságio.

— Você sempre inventa esses jogos idiotas, John B — Sarah reclamou, mas ela estava rindo, o que significava que não ia impedir.

— E qual é a sua proposta, gênio? — Cléo perguntou, cruzando os braços e olhando para ele com aquela expressão sarcástica de quem já sabia que a ideia seria uma grande besteira.

— Vamos jogar o jogo do "se" — John B declarou, como se tivesse acabado de inventar a roda.

— O jogo do "se"? — Pope perguntou, confuso. — Isso existe ou você acabou de inventar?

— Acabei de inventar, mas calma, vai ser divertido. — John B se ajeitou, claramente satisfeito com a atenção que estava recebendo. — Funciona assim: cada um faz uma pergunta começando com "E se", e a pessoa que responder tem que ser honesta. Tipo... "E se você tivesse que escolher entre viver na cidade ou na praia pra sempre?" Coisa simples. Mas pode complicar também, se a gente quiser.

— Tá, eu topo — JJ disse, parecendo interessado. — Mas acho que a Kiara devia começar.

Eu congelei por um segundo. Claro que ele me jogaria no fogo primeiro, né? Com aquele sorrisinho convencido no rosto.

— Certo, então… — Pensei por um momento, olhando ao redor para os rostos curiosos dos outros. — E se você pudesse voltar no tempo e mudar uma coisa sobre o seu passado, o que seria?

Um silêncio breve tomou conta da roda. Acho que eles esperavam algo mais leve. Pope foi o primeiro a responder.

— Eu teria começado a andar de skate mais cedo — disse, encolhendo os ombros. — Perdi muito tempo com medo de me quebrar.

Cléo riu. — Eu teria dito pro meu ex que ele não valia o esforço — comentou, arrancando risadas da gente.

— Eu mudaria o fato de que você me fez participar desse jogo ridículo — Sarah disse para John B, que revirou os olhos teatralmente, mas não parecia ofendido.

Então, todos os olhares se voltaram para JJ. Eu não sabia o que ele ia responder, mas o silêncio que se seguiu me fez perceber que ele estava realmente pensando na minha pergunta.

— Acho que eu teria me permitido sonhar um pouco mais quando era mais novo — ele disse, sua voz baixa, quase séria demais para o JJ que eu conhecia. — Eu meio que sempre fui o cara que não pensa muito no futuro, sabe? Mas olhando pra trás, talvez eu deveria ter tentado imaginar mais possibilidades, ao invés de só seguir o fluxo.

Eu não esperava essa resposta. Achei que ele diria algo mais casual, como os outros, mas havia algo profundo nas palavras dele. Antes que eu pudesse reagir, ele olhou para mim e deu um sorriso suave, aliviando o peso da conversa.

— Sua vez de responder, Kiara — ele disse, agora com o tom brincalhão de sempre.

— E se eu pudesse mudar algo? — perguntei, pensando alto. — Acho que eu teria dito mais "não". Para as expectativas dos outros, para as escolhas que não eram minhas. Eu teria feito mais coisas do meu jeito.

JJ sorriu, como se entendesse perfeitamente o que eu queria dizer. E talvez entendesse mesmo.

Depois disso, o jogo ficou mais leve, com perguntas absurdas como "E se você fosse um animal, qual seria?" ou "E se você ganhasse na loteria amanhã, o que faria com o dinheiro?". Mas havia algo no ar que tinha mudado desde a resposta de JJ. Uma tensão leve, quase imperceptível, mas estava lá.

Depois de algumas rodadas, JJ se levantou de repente.

— Vou buscar mais madeira pra fogueira — ele disse, dando uma olhada na pilha que estava se esgotando. — Kiara, me dá uma mão?

Fiz que sim com a cabeça, meio distraída, e me levantei para segui-lo. Deixamos o grupo na beira da fogueira e caminhamos em direção às árvores que ficavam logo atrás da praia. O som das ondas era mais forte ali, e a escuridão começava a cair de verdade, dando um tom mais íntimo àquela parte da praia.

Enquanto JJ recolhia alguns galhos secos, eu o observei por um momento, tentando entender o que exatamente estava passando pela minha cabeça. Ele parecia tão à vontade, mesmo nas coisas mais simples, como buscar madeira. Era frustrante o quanto ele me intrigava.

— Tá pensando muito de novo, né? — ele perguntou de repente, sem nem olhar para mim.

— O quê? — Fui pega de surpresa.

— Quando você faz essa cara, eu sei que você tá pensando demais — ele disse, rindo enquanto pegava mais um galho. — Relaxa, Kiara. Nem tudo precisa ser tão complicado.

Suspirei, meio exasperada. — É fácil pra você dizer isso. Você não tem um milhão de expectativas nas suas costas.

Ele parou o que estava fazendo e finalmente olhou para mim, os olhos fixos nos meus, sérios de novo. — Só porque eu não falo muito sobre isso, não significa que eu não tenha minhas próprias coisas pra lidar.

Eu fiquei quieta. Ele estava certo, claro. Só porque ele era despreocupado, não queria dizer que a vida dele era fácil.

— Olha, eu sei que você tá se pressionando com o futuro, faculdade, essas coisas — ele disse, agora mais suave. — Mas, às vezes, você só precisa deixar as coisas acontecerem. Você tá num verão incrível, com pessoas que se importam com você. Talvez seja hora de só... viver, sabe?

Era a simplicidade do jeito dele que me desarmava. Não havia uma solução mágica nos conselhos de JJ, mas havia uma verdade ali, algo que eu não conseguia ignorar.

— Você tá me dizendo pra deixar de ser controladora? — perguntei, sorrindo, tentando aliviá-lo um pouco.

— Tô dizendo pra ser mais você e menos o que esperam que você seja — ele respondeu, devolvendo o sorriso. — A Kiara que pula de pedras e joga jogos bobos com um bando de idiotas na praia. Essa Kiara é bem mais legal.

Eu ri, sacudindo a cabeça. — Talvez você tenha razão.

— Eu sempre tenho razão — ele brincou, antes de se virar e caminhar de volta para a fogueira. Mas havia algo naquele olhar, naquela conversa, que me deixou pensando.

À medida que a noite avançava e a fogueira continuava a iluminar nossos rostos, algo mudou entre nós. Não era nada grande, nada que fosse imediatamente perceptível. Mas eu podia sentir. Havia uma proximidade maior. Uma conexão mais profunda que não estava lá antes.

E, pela primeira vez em muito tempo, eu não estava tentando entender ou controlar isso. Eu só estava vivendo.

𝐄𝐍𝐃𝐋𝐄𝐒𝐒 𝐀𝐔𝐆𝐔𝐒𝐓 . . . ʲᶦᵃʳᵃOnde histórias criam vida. Descubra agora