001 - the beginning of the end

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O verão tinha começado como qualquer outro: quente, interminável e carregado de promessas que eu não sabia se queria cumprir. Minhas malas estavam arrumadas semanas antes, prontas para a viagem que me levaria à faculdade dos meus sonhos — ou melhor, da minha família. Eu deveria estar empolgada, mas a verdade é que eu não sentia nada. Nenhuma expectativa, nenhuma ansiedade. Só um vazio.

Assim que chegamos à casa de praia da nossa família, uma tradição que seguíamos todos os anos, o cheiro do mar invadiu o carro, misturando-se com o aroma de protetor solar e o doce da fruta madura que minha mãe havia trazido. A casa era velha, mas tinha um charme peculiar: as paredes brancas desgastadas pelo tempo, os móveis de madeira escura, e uma varanda ampla que dava vista para a praia. Cada canto carregava histórias dos verões passados, mas naquele momento, tudo parecia distante, como se a nostalgia se misturasse com a estranheza de um futuro incerto.

— Kiara, ajude-me com as malas! — minha mãe gritou, interrompendo meus pensamentos. Eu soltei um suspiro e sai do carro, respirando fundo o ar salgado que me cercava. A praia sempre foi meu lugar seguro, o único onde eu conseguia pensar com clareza. Mas, naquele verão, algo me dizia que as águas calmas à minha frente guardavam mais do que apenas tranquilidade. Havia uma inquietude no ar, como se o verão tivesse outros planos para mim.

Conforme ajudava minha mãe a descarregar as malas, notei que o céu estava tingido de laranja e rosa, refletindo a beleza do pôr do sol. Enquanto minha mãe conversava com meu pai sobre os preparativos para a primeira noite, uma risada distante chamou minha atenção. Olhei para a praia e vi um grupo de adolescentes, todos se divertindo, aproveitando os últimos momentos do dia. Foi então que o vi pela primeira vez.

Ele estava um pouco afastado do grupo, como se fosse o solitário em meio à multidão. O cabelo loiro estava desarrumado pelo vento, e ele tinha um corpo esguio e atlético, que denunciava a vida de praia que levava. A prancha de surf debaixo do braço parecia mais uma extensão de seu corpo. O jeito despreocupado com que se movia pela areia despertou algo dentro de mim — uma sensação que eu não conseguia definir. Era como se o tempo parasse naquele instante, e tudo o que eu podia fazer era observá-lo.

Eu nunca o tinha visto por ali antes, o que já era estranho, considerando que nossa família frequentava aquela praia desde sempre. Ele parecia pertencer àquele cenário de forma natural, como se o mar o chamasse todas as manhãs.

— Kiara, você está parada aí há séculos! Vamos, entre! — minha mãe gritou de novo, e eu me virei para responder, mas antes que pudesse dizer algo, o garoto lançou um olhar na minha direção. Nossos olhares se cruzaram por um breve momento, e eu senti um frio na barriga. O sorriso despreocupado que surgiu em seu rosto me deixou ainda mais intrigada. No fundo, eu sabia que aquele era o tipo de garoto que minha mãe me alertaria para ficar longe — livre demais, descontraído demais, diferente demais do meu mundo organizado e previsível. Ele era um mistério, e talvez fosse exatamente isso o que eu precisava naquele momento.

Quando finalmente entrei na casa, a sensação de estar presa em uma rotina se intensificou. Minha mãe estava organizando a cozinha e meu pai montava a churrasqueira no quintal. Decidi subir para meu quarto, um espaço que ainda guardava ecos de verões passados. A janela dava vista para a praia, e, enquanto me encostava na moldura, observei o mar refletindo os últimos raios de sol.

O som das ondas era familiar, e eu tentei me concentrar em recordar momentos bons, mas meus pensamentos voltavam ao garoto da praia. Lembrei-me do modo como ele parecia à vontade, como se estivesse exatamente onde queria estar. Por que eu não me sentia assim?

As horas passaram, e logo a noite tomou conta. O cheiro de carne grelhando se espalhava pela casa e os risos de meu pai e de minha mãe ecoavam pela varanda. Eu me recusei a descer. Era como se a ideia de interagir com a felicidade deles fosse muito intensa para mim naquele momento. O vazio que sentia se transformou em uma leve agonia, uma ansiedade que eu não conseguia explicar.

Finalmente, não pude mais ignorar os gritos de alegria que vinham do quintal. Desci as escadas relutantemente e encontrei uma mesa posta, cheia de pratos fumegantes. Meus pais estavam sentados, rindo e contando histórias sobre verões passados, e o clima era acolhedor, mas a sensação de estar desconectada ainda permanecia.

Enquanto comíamos, não pude deixar de notar que a atenção de meu pai estava voltada para um grupo de adolescentes na praia. Eles estavam se divertindo, jogando vôlei, e em meio a risadas e gritos, o garoto estava lá, claramente parte da diversão. Senti um impulso estranho de me juntar a eles, mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim estava presa no medo de me expor. O que eu diria a um garoto como ele?

Depois do jantar, minha mãe sugeriu que fizéssemos uma caminhada na praia. O céu estava agora pontilhado de estrelas, e a brisa do mar era refrescante. O som das ondas era quase hipnotizante, e eu estava perdida em meus pensamentos quando, de repente, ouvi uma risada familiar.

Quando me virei, vi ele se aproximando com um sorriso radiante. Ele estava sem a prancha, e seus amigos o seguiam, criando uma atmosfera de diversão ao redor dele. A tensão em meu peito aumentou. Eu não sabia o que dizer, mas a curiosidade e a adrenalina me impulsionaram a dar um passo à frente.

— Oi! Você é nova por aqui? — ele perguntou, o tom de sua voz era amigável e despreocupado.

— É... sim. Minha família vem aqui todos os anos, mas este é o meu primeiro verão só para relaxar antes da faculdade. — eu disse, tentando manter a voz firme.

— Faculdade? Legal! Eu ainda não sei o que fazer depois do ensino médio. Para mim, a praia é suficiente. — ele respondeu, olhando para o mar com uma expressão sonhadora.

— Você surfa? — perguntei, tentando mudar de assunto.

— Sim! Você deve experimentar. É incrível. Há um grupo de nós que vai surfar amanhã de manhã, se você quiser se juntar. — ele convidou, os olhos brilhando de empolgação.

Eu hesitei, uma onda de insegurança me atingindo. — Eu nunca surfei antes, — confessei. — e não sei se sou boa o suficiente para acompanhar vocês.

— Não se preocupe! A maioria de nós também é novato. É só para se divertir e tentar algumas ondas. Você deve tentar! O verão é feito para arriscar, certo? — ele sorriu, e o brilho nos olhos dele era contagiante.

Eu olhei para o mar, e por um momento, tudo parecia possível. — Talvez eu vá. — murmurei, sentindo a coragem brotar dentro de mim.

O resto da noite passou rapidamente, com risos e conversas flutuando ao redor. Ele se afastou do grupo para me incluir em suas histórias, e o mundo ao nosso redor parecia desaparecer. Em algum momento, eu me peguei rindo de algo que ele disse, uma risada que surgiu tão facilmente que eu mal reconheci como eu era capaz de me divertir.

Finalmente, quando o grupo começou a se dispersar, o garoto se virou para mim e disse: — Espero ver você amanhã de manhã, então? — A maneira como me olhou fez meu coração disparar.

— Sim, vou tentar! — respondi, sorrindo de volta.

— Perfeito! Nos encontraremos aqui na areia ao amanhecer. — ele disse antes de se juntar aos amigos e desaparecer na escuridão da noite.

Voltei para a casa com um sorriso no rosto e uma sensação leve no coração. O verão, com todos os seus desafios e incertezas, parecia um pouco mais brilhante. O vazio que me seguia foi momentaneamente substituído por uma chama de esperança, uma expectativa. Eu sabia que estava apenas no começo, mas algo em mim estava pronto para viver o que viria. O que poderia dar errado em um verão que prometia ser inesquecível?

Naquela noite, enquanto tentava dormir, meu coração ainda pulsava com a adrenalina da conversa. O rapaz era um mistério, e a ideia de desvendá-lo me intrigava. Eu não sabia se ele era só um amor passageiro de verão ou se havia algo mais profundo ali. Uma parte de mim queria protegê-lo de qualquer expectativa, enquanto a outra parte ansiava por mais. O que quer que fosse, eu estava disposta a descobrir.

Na manhã seguinte, o sol raiava através da janela do meu quarto, e o cheiro do mar me despertou. Levantei-me rapidamente, uma nova energia fluindo por mim. O dia prometia novas experiências e, quem sabe, um pouco de aventura.

𝐄𝐍𝐃𝐋𝐄𝐒𝐒 𝐀𝐔𝐆𝐔𝐒𝐓 . . . ʲᶦᵃʳᵃOnde histórias criam vida. Descubra agora