020 - farewells

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O som das ondas era o único que preenchia o silêncio entre nós. O céu estava tingido de laranja e rosa, como se o sol estivesse lentamente se despedindo do verão, assim como nós. JJ estava ao meu lado, seus dedos brincando com a areia enquanto olhava para o horizonte, quieto, quase distante. Eu, por outro lado, tentava gravar cada detalhe daquele momento, sabendo que ele seria um dos últimos.

Desde o começo, sabíamos que o verão teria um fim. Esse breve intervalo entre o ensino médio e a faculdade era tudo o que tínhamos. Mas, claro, ninguém nos preparou para o que aconteceria quando os dias se tornassem uma contagem regressiva. E agora, cada vez que pensava em setembro, em ir embora, um vazio crescia dentro de mim.

Eu olhei para JJ, querendo dizer algo, qualquer coisa que pudesse parar o tempo. Mas as palavras ficaram presas na garganta, porque, por mais que eu quisesse, sabia que não importava o quanto desejasse: agosto sempre acabava. E nós? Talvez fôssemos só mais um amor de verão.

— O que está pensando? — a voz de JJ cortou o ar, tranquila como sempre, mas com um toque de curiosidade. Ele olhou para mim, mas ainda havia um ar distante nele, como se ele estivesse tentando processar o fato de que o tempo estava acabando.

— Que eu não quero que isso acabe — soltei, sem rodeios. Sinceridade parecia ser a única coisa que restava. Ele sorriu de canto, aquele sorriso meio irônico, meio charmoso, que sempre fazia meu coração disparar.

— Ninguém quer, Kie — ele suspirou, jogando um pouco de areia para longe. — Mas, ao mesmo tempo, a gente sempre soube que ia acabar.

Ele tinha razão, como sempre. Eu queria poder discutir, querer lutar contra o inevitável, mas... como você briga contra o fim do verão? Contra o tempo? Contra o que já estava decidido antes mesmo de começar?

— Vai ser estranho, sabe? — continuei. — Voltar pra casa, fingir que nada disso aconteceu, que nós não... — minha voz sumiu. Porque, de alguma forma, colocar aquilo em palavras tornava tudo ainda mais real. Mais doloroso.

— Ninguém disse que você precisa fingir — ele respondeu, os olhos brilhando com aquele jeito despreocupado que só ele tinha. Mas mesmo no meio da tranquilidade dele, havia uma vulnerabilidade ali, uma incerteza que ele raramente deixava transparecer.

Eu ri, sem humor. — E o que eu faço? Fico lembrando de você todo santo dia? Ou a gente finge que vai dar certo a distância, enquanto eu estou a quilômetros daqui e você está... — Não consegui terminar, porque o pensamento de JJ, de nós, separados, era como uma facada no peito.

Ele ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos no horizonte. E então, como se estivesse deliberando sobre o que dizer, virou-se completamente para mim. — Sabe o que eu acho? — ele começou, sua voz suave, quase sussurrada. — Eu acho que a gente tem mais do que só um amor de verão.

O quê? Meu coração parou por um segundo, enquanto eu tentava processar o que ele tinha acabado de dizer.

— Isso aqui — ele apontou para nós, para a praia ao nosso redor — não é só mais uma história de verão. Não é o tipo de coisa que você esquece. Mesmo que a gente esteja longe, Kie, eu não vou esquecer. E acho que você também não.

— E o que isso significa? — perguntei, minha voz quase um sussurro, com medo da resposta. Ele segurou meu rosto com uma das mãos, seus dedos quentes contra minha pele, me forçando a olhar diretamente em seus olhos.

— Significa que, por mais que agosto acabe, nós não precisamos acabar com ele.

Foi a coisa mais clichê que eu já ouvi, mas, vindo dele, fazia sentido. E, por um momento, acreditei que talvez, só talvez, ele estivesse certo. Talvez pudéssemos ser a exceção, a história que continua, mesmo quando o verão termina.

O vento suave da praia bagunçava meu cabelo, e ele soltou uma risadinha, afastando uma mecha dos meus olhos.

— Você realmente acha que pode funcionar? — perguntei, ainda incrédula.

— Eu acho que vale a pena tentar. — Ele me puxou para mais perto, e, naquele momento, tudo o que importava era a sensação de seus braços ao meu redor, a segurança que ele trazia, mesmo quando tudo ao nosso redor parecia prestes a desmoronar.

Ficamos assim por mais algum tempo, observando o sol se pôr lentamente, como se o mundo estivesse dando seu último adeus ao verão. E, quando a noite começou a cair, com a brisa ficando mais fria, JJ finalmente se levantou.

— Pronta para ir? — ele perguntou, mas seu olhar dizia outra coisa. Não havia como estar pronta para algo assim.

Eu balancei a cabeça, engolindo a emoção que ameaçava transbordar. Ele entrelaçou sua mão na minha, e caminhamos de volta para a festa, onde o resto do grupo nos esperava. Sarah, John B, Pope e Cleo estavam conversando, rindo de alguma piada interna, como sempre. O som deles era reconfortante, mas, ao mesmo tempo, me fazia perceber o quanto eu sentiria falta de tudo aquilo.

— Então, é agora? — Sarah perguntou, me abraçando apertado assim que nos aproximamos. Seus olhos brilhavam, mas havia uma tristeza ali. Todos sabiam o que estava por vir.

— É... acho que sim — murmurei, abraçando-a de volta. E, um a um, fui me despedindo do grupo. Pope e Cleo me deram abraços apertados, John B soltou uma piada boba para aliviar o clima, e então, finalmente, restou JJ.

— Então, essa é a parte em que você vai embora, mas promete que vai voltar, né? — ele disse, tentando soar casual, mas havia um peso em suas palavras.

— Prometo. — Foi tudo o que consegui dizer antes de ele me puxar para perto de novo, nossos lábios se encontrando em um beijo longo e lento, um beijo de despedida. Mas, ao mesmo tempo, um beijo de esperança.

Quando nos afastamos, o mundo ao redor parecia diferente. O verão tinha acabado, mas nós... ainda tínhamos uma chance.

E, de alguma forma, isso foi o suficiente.

𝐄𝐍𝐃𝐋𝐄𝐒𝐒 𝐀𝐔𝐆𝐔𝐒𝐓 . . . ʲᶦᵃʳᵃOnde histórias criam vida. Descubra agora