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Inara Cairu.🪷

Inara: Pior que chorei, sim. — Soltei uma risada fraca e ela negou com a cabeça.

Júnior: Mas, e aí. Era o que esse teu bagulho?

Inara: O médico disse que pode ter sido uma intoxicação alimentar... — omiti o fato de eu poder estar com uma anemia de grau leve. Yara sabe que eu não sou muito de comer, apenas besteiras; e já me alertou muito sobre isso. Se eu falar, começa a perturbação na minha mente e eu continuo muito fraquinha, com dor na bunda. Sem tempo para conversas muito longas.

Yara: Ele passou algum remédio?

Inara: Só disse para eu evitar tomar água que não seja filtrada, ou seja, continuarei intoxicada. — Joguei uma piada para acabar com aquele clima hospitalar. Nenhum dos dois deu risada, cocei a garganta e continuei: — Só isso, gente! Tô ótima! — abri um sorriso forçado, exibindo todos os meus dentes, apertando meus olhos.

Yara: Alguma coisa você está escondendo... — falou desconfiada e eu direcionei meu olhar para ela, fingindo estar ofendida.

Júnior: Tá parecendo mermo, Inara. — Cruzou os seus braços. — Melhor tu dá o papo reto ou nos vai lá perguntar para o médico que te atendeu, se realmente foi só uma intoxicação alimentar.

Odeio eles.

Respirei fundo, mas mantive a minha postura.

Inara: Foi só intoxicação, cara! Você mesmo sabe que a água da favela está descendo com cor de barro. Eu não sou a primeira e nem a última a passar por isso. O médico estava contando que a filha dele teve febre tifoide, agora está lá internada no salgado filho. Eu ainda tive sorte de ter sido só uma intoxicação, imagina se eu tivesse lá internada?—Pesei na mente dos dois e eles pararam de me tontear.









Yara: Tá melhor, meu bem? — colocou só a cabeça para dentro do quarto, dei um sorrisinho fraco e concordei com a cabeça. Ela entrou por completo no quarto e sentou no meio da cama, colocando as minhas pernas em cima do colo dela. — Mamãe fez sopa de legumes para você. — Fiz uma careta para ela, que deu risada. — Escondi um chocolate para você, no fundo do freezer. — Falou baixo e eu sentei na cama e joguei meu corpo para frente, agarrando-a, enchendo seu rosto de beijos molhados.

Inara: Não sei o que eu faria, se não fosse por você. Não aguento mais tomar essa sopa de legumes. — Depois que cheguei em casa, contei que tive uma intoxicação alimentar. Minha mãe ficou doida.
Correu para a feira, voltou com um estoque de batata, cenoura, todo tipo de legume e verdura que se pode imaginar. Estou há uma semana almoçando e jantando sopa de legumes. Eu só queria comer um hambúrguer de cheddar da lanchonete da Carla. — Fiquei sabendo que hoje vai ter pagode, lá na treze. — Comentei, quando vi o banner no Instagram de um colega de escola.

Yara: Eu vi. Quer ir?

Inara: Será que eu já estou liberada? — brinquei com a minha situação e ela riu.

Yara: Acho que sim. Minha mãe já parou de fazer sopa de legumes.

Inara: Sério? — sorri animada. Ouvir aquilo era música para os meus ouvidos. — Ela está fazendo o que para o almoço? — Yara resmungou que não sabia, totalmente concentrada. Estiquei um pouco a cabeça para tentar ver, mas assim que ela percebeu, desligou o celular. — Há algum segredo? — Indaguei sarcástica e ela sorriu debochada.

Yara: É! — Guardou o celular no sutiã e deu dois tapinhas na minha coxa. — Bora, levanta! Vamos almoçar. — Tirou as minhas pernas de cima do seu colo, levantou e saiu do quarto. Peguei meu celular e fui logo atrás.

Assim que entrei na cozinha, fui recebido pelo cheiro maravilhoso de estrogonofe de Camarão. Fui acompanhando a fumacinha, indo ao encontro de uma mesa toda montada, refeição completa. Ainda tinha duas garfadas de coca — cola suada de tão geladas.

Sentei-me na cadeira ao lado da Yara, que já estava se servindo com uma colher cheia de estrogonofe. Minha mãe se virou para colocar os talhares na mesa, assim que me viu, veio na minha direção, fazendo o que ela fez essas semanas que se passaram. Medir se eu estava com febre.

Inara: Estou liberada, doutora? — Ela levou suas mãos uma em cada lado do meu rosto, levantou a minha cabeça e depositou um beijo na minha testa. Sussurrando coisas que eu não conseguia entender, com os olhos fechados.

Inarai.: Amém! — deu outro beijo na minha testa e se afastou, sorrindo.

Admiro muito essa mulher!

Minha mãe nasceu no Tupi-Guarani. Se casou com o meu pai. Brasileiro e carioca da Gema.

Diz ela, que ele fazia um trabalho de ações sociais com as crianças de lá. Assim que viu a minha mãe, se apaixonou e eles começaram a namorar escondido porque ele trabalhava lá e a minha mãe já tinha um casamento arranjado para ela.

Eles contam que, quando chegou o dia do casamento, minha mãe já tinha perdido a sua virgindade com meu pai. Os dois fugiram de lá, com a ajuda da minha vó, que antes humilhou muito ela, mas aceitou que aquele era seu destino.

Com isso, ela lhe deu a benção e deixou a minha mãe ir.

Veio para o Brasil, sem nada. Só com uma mala, meu pai, um sonho e duas meninas na barriga.

Naquela época, eles não tinham dinheiro para fazer ultrassom. Descobriram que a minha mãe estava grávida de gêmeas, porque antes da minha mãe conhecer meu pai, com o seu casamento já sendo arranjado. Minha vó disse que sonhou, que entregava duas meninas na mão da minha mãe e depois via ela ir embora com as duas meninas e um homem protetor ao seu lado.

Acho que foi por isso que a vovó não implicou tanto.

Ela sabe que o destino é inevitável.

Depois de muita luta, meu pai conseguiu um emprego de ajudante e a minha mãe de faxineira.
Mesmo com a barrigona e as complicações da gravidez.

Hoje, a minha mãe tem seu salão aqui no morro.
Não querendo ser modesta. Mas ninguém trança e coloca implante como ela; e ainda é esforçada. Sempre está tentando acompanhar os métodos que estão atualizados. Diariamente, buscando trazer um resultado de qualidade para as suas clientes.

Meu pai é pedreiro.

Hoje em dia, ele tem até os seus ajudantes. Várias pessoas brigam para o meu pai ir lá Ajudar. Seu Wilson é um pedreiro famoso aqui na favela.

Minha mãe morre de ciúmes.

Ela fica para morrer quando uma mulher vem pedir para ele ajudar em alguma coisa. Já colocou várias para correr. Yara e eu morremos de rir.

Ambos foram muito fortes e não foram reféns dos problemas que vieram. Apenas seguiram em frente.

Tenho um orgulho imenso desses dois.

São a minha referência de vida!

Wilson: Nossa paciente já recebeu alta? — chegou, me abraçando e eu sorri.

Inarai: Recebeu! Está liberada para ir ao pagode de hoje. — Meu pai soltou um "eita", direcionei meu olhar para a Yara e ela deu uma piscada para mim. Sorri e joguei um beijinho para ela.

Refém Where stories live. Discover now