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Inara Cairu.🪷

As lágrimas rolavam pelo meu rosto descontroladamente

. A minha respiração estava acelerada, as minhas mãos trêmulas e a minha mente não conseguia assimilar o que estava acontecendo.

Ali na minha frente, o meu melhor amigo.

Júnior Oliveira.

Conheci ele no oitavo ano.

O tanto que eu brigava com esse menino, era algo surreal. Virava e mexia nos estávamos dando choque. Até porque ele era um cachorro.

Não teve uma amiga minha, que o Júnior não fez de palhacinha.

Mas sabe aquela amizade que é para ser? Passamos o oitavo e nono brigando. Chegou no primeiro ano do ensino médio. Eu crente que não ia dar de cara com ele, quem caiu justamente na minha sala? Ele mesmo.

Ali começamos a conversar, nós entendermos e eu simplesmente me apaixonei.

"Eu acho que a gente se apaixona pelos nossos amigos."

Júnior é um menino incrível. Ele me tratava como princesa, me protegia, cuidava de mim. Assim que a minha mãe bateu o olho nele, ela se apaixonou. Disse que a nossa amizade seria eterna. Inclusive minha mãe tentou ajudar muita avó do Júnior a arrumar um emprego, mas a dona Jeiza se recusava a tudo. Só queria saber de ser chefe de cozinha, mas já estava com muitas limitações que a impedia de ser.

Não foi uma surpresa para mim, sua vida terminar assim. É a consequência de quem entra no crime.

Mas mesmo assim o meu coração dói; e as lágrimas rolam.

Essa é a consequência de quem entra para o crime.

Você nunca sabe quando vai ser o seu último dia.






Larissa: Os batimentos dele! — Gritou desesperada e eu direcionei meu olhar para ela. — Voltaram! — Na hora, eu comecei a chorar de alívio. Yara se encontrava no canto da casa de ração, encostada na parede, encarando suas próprias mãos. Ela se recusava encarar o corpo do Júnior. Abri um sorriso de alívio em meio às lágrimas, mas logo em seguida a realidade veio. — Mas ele só vai conseguir viver se levarmos ele ao médico agora! Ele já perdeu muito sangue.

Inara: Não tem como sairmos com ele daqui, Larissa! Se a polícia ver, vão querer levar.

Larissa: Melhor preso do que morto!

Inara: Se levarem ele, não será para prender. — Infelizmente, aquela era nossa realidade. Entendo que as escolhas do Júnior não foram as melhores; aquela era a consequência do que ele escolheu, mas eu não ia entregar a vida do meu melhor amigo nas mãos de policiais, que com certeza matariam ele sem pestanejar.

Larissa : Eu não sei o que fazer... — Se lamentou, quase desistindo e eu respirei fundo, olhando para o Júnior. Seus olhos estavam fechados, seu corpo não demonstrava nenhum sinal de vida, apenas sua boca estava entreaberta com uma respiração mínima.

Antônio: Fecha os olhos dele e as portas da casa de ração, daqui a pouco a polícia aparece aqui e será pior para todos nós. Jogue esse menino lá fora logo!— Larissa e eu nós entre olhamos sem acreditar no que acabamos de ouvir. Como uma pessoa consegue tratar assim uma vida?! Como se não fosse nada.

Larissa: Claro que não, seu Antonio! Isso aqui é uma vida. Eu não vou jogar ele lá fora.— Se posicionou e eu respirei fundo aliviada. Eu sabia que Larissa não jogaria o corpo do Júnior para fora. Mesmo sendo muito nova, Larissa tinha uma mente muito madura e um coração genuíno.

Antônio: "É uma vida" — Ironizou e soltou uma risada fraca, balançando a cabeça em negação. — É uma vida que, na primeira oportunidade, tiraria a sua em troca de um fuzil! — Falou com desprezo.— Bandido bom é bandido morto! O que eu não posso é ficar aqui, vendo vocês dando uma de Grey's Anatomy para um traficante.

Inara: E o senhor está aqui ainda por quê? A casa de ração é da mãe da Larissa, que inclusive é financiada pelo bandidismo que o senhor tanto abomina. Acho muito hipocrisia da sua parte querer falar que "bandido bom é bandido morto" quando são eles que fazem a segurança da sua padaria. — Falei totalmente sem paciência, ele soltou mais uma risada carregada de deboche e ficou resmungando que bandido nenhum fazia a segurança da padaria dele. Pois bem! Assim que eu me encontrar com Davi, eu peço para ele cortar a segurança da padaria desse ridículo. Aí quero ver.

Larissa: Ignora ele! Foque aqui! — Direcionei meu olhar para ela, que nesse momento já estava sem sua blusa de malha cinza com a logo da casa de ração gravada. — O tiro foi no braço, já fiz um torniquete, tira a sua para colocarmos na barriga. É o que dá para fazer por enquanto. — Sem pensar duas vezes, tirei a minha blusa de manga preta e coloquei em cima do buraco de bala que se localizava na barriga dele. Empurrei um pouco e respirei fundo. Me aproximei um pouco do rosto do Júnior, sentindo sua respiração mínima e com alguns intervalos contra o meu rosto. — Como está?

Inara: Quase nada! — Me lamentei.

De repente vi Ezequiel correndo na minha direção, ofegante. Ele empunhava o fuzil e disparava para todos os lados. Os gritos na casa de ração
ficaram mais altos e os tiros do outro lado se intensificaram. Aquela cena era um pesadelo. Felizmente, Ezequiel conseguiu entrar na casa de ração. Assim que ele me viu, sua expressão foi de alívio. Ele direcionou seu olhar para o Júnior e coçou a cabeça. Intercalando o olhar entre mim e o Júnior.

Ezequiel: Eles vão ficar aí por um tempo, mas esse bagulho não foi de operação, não.

Inara: Como assim?

Ezequiel: Quando eu estava escondido no beco, eu ouvi. Eles vieram buscar alguém. Eu ouvi um papo lá torto de "enrolação" entendi nada. Só sei que eles não vieram para pegar bandido.

Yara: Então por que atiraram no Júnior? — Ela finalmente falou alguma coisa, após minutos calada.

Ezequiel: Para não fazer viagem em vão.

Inara: Os caras que viram a gente mandaram a gente ir para casa. Acho que era operação, sim. Todos fardados, de máscara...

Ezequiel: Pode até ser, mas um deles estava procurando alguém e não era bandido. O jeito com que eles estavam conversando. Parecia até que tinha um bagulho de mulher ali envolvido.

Yara: Nada a ver... — Falou, incomodada.

Inara: E ele? — Me referi ao Júnior, antes que Ezequiel falasse mais alguma coisa. — Se não o levar para o hospital, ele vai morrer!

Ezequiel: Tem uma enfermeira que resolve esses bagulhos. Só não sei como vamos tirar ele daqui.






Larissa Silva, 17 anos.

Larissa Silva, 17 anos

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