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Inara Cairu.🪷

Yara: Que cara é essa? — Respirei fundo e direcionei meu olhar a ela.

Inara: Olha... Vou te contar uma coisa, mas não pode sair daqui. Minha mãe não pode nem sonhar.

Yara: É tão sério assim?

Inara: Depende do seu ponto de vista... — levei meu dedo indicador até a minha boca, mordendo a pontinha da minha unha. Yara me olhou por alguns segundos e respirou fundo, me pedindo para contar.

Yara: Quê?— Aumentou seu tom de voz e eu me afastei um pouco, com o susto. — Inara, você é maluca?

Inara: Era uma criança, Yara. Você sabe muito bem como fico vendo covardia.

Yara: Lindo seu lado humano, Inara. De verdade! Mas você poderia ter se machucado. E se esse motorista te machuca? — Abri a boca para responder, mas ela me cortou. — Ou, pior. Se esse menino que você defendeu realmente fosse ladrão?

Inara: É, realmente. — Omito a parte de que ele realmente poderia ser um ladrão. Abri um sorriso forçado, mostrando todos os meus dentes, fechando um pouco os meus olhos e ela me encarou com um olhar de desconfiança.

Yara: Ele era ladrão, né, Inara? Pode falar.

Inara: Era uma criança, Yara. Se era um ladrão ou não, eu não sei. Sei que era uma criança.

Yara: Você que sabe, Inara. Acho que você já tem idade o suficiente para saber das coisas que você faz.
— Balanço a minha cabeça em concordância, resmungando um "tá" e ela sai do quarto. Respiro fundo, passo a mão nos meus cabelos, sentindo a textura dos meus cachos pequenininhos e macios.

Estou sentindo falta das minhas tranças.

Dito isso, pego meu celular, desbloqueio e mando uma mensagem para a minha mãe, marcando meu próximo cabelinho. Inclusive, teve uma época em que eu abusava da boa vontade da Dona Inarai. Queria trocar de trança conforme as cores das roupas que eu mais estava usando no momento. Parei, quando começaram a me apelidar de camaleoa; Davi, que me deu esse apelido, se juntou com Juninho para me atentar em todo baile em que eu aparecia com uma cor diferente de cabelo.

Só porque um tem pai calvo e sabe que seu futuro é ser calvo; e o outro pelo puro prazer de tirar a minha paz.

Se acha com aquele reflexo dele.


Camila Caccini.💄

O meu estômago doía, minhas mãos estavam trêmulas. Eu conseguia sentir as batidas do meu coração aceleradas como se estivesse uma escola de samba dentro do meu peito.

Toda vez era o mesmo, mas eu não sabia que chegaria ao fim.

Entreguei a minha vida a ele.

Tantas coisas ruins que escutei até de um melhor amigo dele muito próximo, falando que eu estava estragando a minha vida, mesmo assim não dei ouvidos, escutei apenas o meu coração, mas é como dizem, "o coração do homem é enganoso".

Sempre fui a mulher dos sonhos para o Davi.
Cuido de mim, mas sempre cuido da casa. Não sou uma mulher fútil. Dei a ele um filho lindo, cheio de saúde. A razão de nós estarmos juntos é ele.

Davi veio até mim fragilizado, mesmo que com a casca de menino marrento, andava com vários lanças perfumes no bolso, fazendo jogadinha para lá e para cá. Mas só eu sabia o que eu aturava em casa.

Suas crises de ansiedade, quando se lembrava dos pais.

Quantas vezes acordei assustada porque Davi estava paralisado na cama, com a respiração acelerada e, quando eu o acordava, ele só sabia chorar.

Passei por tudo isso em silêncio!

Quantas vezes fui dormir sozinha, porque Davi simplesmente não encostava em mim sem ser sexualmente.

Fiquei toda boba no churrasco do Júnior quando ele foi minimamente carinhoso comigo.

Mas não é nada que aconteça com frequência, não.

Tudo bem, eu entendo, nada pode superar um amor de infância. Mas, poxa! Eu cheguei. Estou aqui por ele, pela nossa família, nosso filho.

Por que ele fez isso comigo?

Camilla: Davi, você está jogando dez anos de casamento fora devido a uma garota que não quer nada com você! — Gritei. Eu estava fora de mim. Eu não conseguia acreditar que ele estava fazendo aquilo.

Davi simplesmente chegou em casa, do nada. Quando questionei o seu sumiço. Ele disse querer terminar.

Percebi como ele mudou comigo, depois que levou aquela maldita na UPA.

Davi: Não é por ela, Camilla. É por mim! — Soltei uma risada de deboche e revirei os olhos.

Camilla: Para de querer me tirar pra otária, Davi! Me respeite! Eu não sou uma criança. É óbvio que você está terminando comigo para depois correr atrás daquela piranha!— Falei sem pensar. Davi direcionou seu olhar para mim e soltou uma risada debochada.

Davi: Ela é a piranha, mas quem desceu para bandido e ainda pegou barriga foi você! — Abri a minha boca em total choque e ele riu. Ele não tinha um pingo de pena dos meus sentimentos. — Foi piranha e ainda foi piranha burra,  porque ainda engravidou. — Balançou a cabeça em negação, rindo e murmurou um "aiai, Camilla" no puro deboche.- Bora, sem mito papo, Camilla. Pega tuas coisas e vai embora.

Camilla: Eu não vou embora, Davi! Você não vai jogar fora tudo que eu passei e vivi por você. Não vai!— Gritei, estufando o peito.— Por que você mudou de ideia tão rápido? Mesmo com todas as nossas diferenças e adversidades. Você sempre quis ficar comigo. — Me lamentei.—Você ficou com ela, não foi?

Davi: E pra tu tava maneiro isso? Nem na mesma cama que você, eu dormia, Camilla. Pensa!

Camilla: Davi, eu te ajudava com as tuas crises de ansiedades, pensa na morte da tua mãe...

Davi: Aí tá vendo como tu é?! Tá querendo usar a morte da minha mãe como motivo para não terminar. Nunca te pedi ajuda, Camilla. Tu ajudou porque quis.

Camilla: Davi...

Davi: Eu não quero mais te escutar, não. Jae? Junta tuas coisas e rala. Fala para o Henrique que tua mãe passou mal, e você vai precisar ficar um tempo por lá cuidando dela.

Dios mio! Ele já tinha até o motivo da ida "ensaiado" Sinal que esse pensamento dele não é de agora.

Com isso, eu concluo: não confiem em pessoas, elas podem acordar a qualquer dia e dizer que não te amam mais, e simplesmente ir embora.

Refém Where stories live. Discover now