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Inara Cairu.

Júnior: Qual foi, Inara? Não quero ir, não, cara. — Ele resmungou, todo manhoso, enquanto eu puxava pelo braço em direção à UPA.

Revirei os meus olhos e dei um leve empurrão nas costas dele. Júnior deu uma cambaleada para frente, mas os meninos que estavam ali, ajudaram ele a ir até a UPA. Um de cada lado, sustentando, e ele com cara de bunda, resmungando que não precisava. Isso depois da encarada que ele me deu, por ter quase deixado ele cair de cara no chão.

A enfermeira passou todos os cuidados. Uma querida, inclusive. Foi extremamente simpática conosco. Ensinou direitinho os cuidados que Júnior teria que ter com a perna, durante quinze dias, se não sua perna seria gangrenada.

Tudo bem!

Júnior fingiu que prestou atenção, comprou todos os remédios, mas não passou na perna. Tirou os curativos em menos de três dias. Bebeu, fumou, fez de tudo que não podia fazer.

Resultado: aconteceu o que a médica nos alertou.

E o bonito nem falou nada. Hadassa, que estava em ligação, fofocando comigo e contou que foi na casa do Júnior, vê como ele estava. Chegou lá, encontrou ele fumando maconha e a perna sem os curativos, com o buraco aberto.

Na hora, eu me desesperei. Liguei, xingando-o de tudo quanto era o nome. Falei que, se ele não fosse à UPA, fizesse um curativo e resolvesse aquele problema. Eu mesmo ia levá-lo, nem que eu fosse arrastando ele pela perna machucada da subida até a descida da Penha.

Dito e feito!

Agora, cá estou eu, levando a criança para o UPA. Com dois meninos armados atrás de mim, igual a duas sombras.

Ideias do Davi para a minha proteção, após a invasão que teve. Mas assim que esse assunto passar, esses meninos vão parar de me seguir.

Odeio ser escoltada e eu já conversei com ele sobre isso.




Inara: Ele não cuidou da perna e infeccionou. Foi isso que aconteceu, doutora! — Falei nervosa com a mesma enfermeira que me deu injeção na vez que passei mal. Júnior estava sentado, apoiando a perna machucada em uma cadeira, com a maior cara de tédio. Volta e meia, ele soltava uma piada que eu estava parecendo a avó dele.

X: Não sou doutora, não. — Ela deu risada. — Ainda não! Em breve, quem sabe. — Abri um sorriso e balancei a minha cabeça em concordância. — Bom, vamos fazer novos curativos. Vou te passar um remédio para você tomar e outro para você passar. Uma pomadinha. — Júnior concordou com a cabeça. — Preciso que você não venha ingerir nenhuma bebida alcoólica. Evite uso de entorpecentes e coisas do tipo, até essa perna melhorar. — Direcionei meu olhar na direção dele com as minhas sobrancelhas arqueadas, resmungando um "viu" e ele revirou os olhos. — Após passar os quinze dias, você vem para os exames e acaba essa tortura. Só se cuidar direitinho.

Júnior: JAE, doutora. Sarneou.— Levantou o polegar para ela, mandando um "joia". A enfermeira sorriu, simpática, sem mostrar os dentes e saiu da sala. Aproveitei para chamar os meninos. Não consigo levar ele sozinha. Fora que os meus pensamentos intrusivos mandam eu dar um soco na perna machucada só pela teimosia desse garoto.

Senti meu celular vibrar no decote do meu body, puxei, vendo uma mensagem do Davi nas notificações do meu WhatsApp. Ele perguntou se estava tudo bem, respondi no mesmo momento que sim e ele disse que ia lá me buscar, para passarmos o dia juntos. Mandei apenas um "jóia" e ele só visualizou. Soltei uma risada nasal e guardei meu celular no body de novo, vendo os meninos ajudando Junior a descer, todo capengo, xoxo e principalmente manco.

Passei a mão na boca, segurando a risada.

Tadinhos.







Davi: Tu não sabe nem fazer pipoca. Tá de sacanagem. — Balançou a cabeça em negação e eu olhei para ele com cara de deboche. Davi estava com um pano de prato florido, pendurado no ombro. Sem blusa, só com um short de tactel preto. Sem as correntes grossas e as dedeiras. Só uma correntinha com a inicial da mãe dele. — Aí a merda que tu fez, cara. — Se referiu à pipoca queimada com caramelo e chocolate branco em cima. — Ficou o terror dos diabéticos, filho. — Deu risada.

Inara: Para, Davi...— Falei manhosa e ele riu, espetando a pipoca com o garfo e levando até a boca. Acompanhei seus movimentos até ele fazer careta e cuspir a pipoca na pia. Depois, ele encheu desesperadamente um copo de água da torneira e bebeu. — Está tão ruim assim? — Esperei ele encerrar o showzinho dele.

Davi: Ruim, ruim, não! Só não ficou igual a do tik tok lá. — Cismei que queria comer aquela pipoca com chocolate branco e m&m que está em alta no tik tok. Perturbei o Davi para fazer. Ele mandou um menino ir buscar as coisas no mercado. Seguimos a receita certinha, no final, ficou horrível. Que ódio, gente.

Inara: Af. — Falei desapontada. -- Tentamos pelos menos. — Fiz um biquinho, olhando para a pipoca toda horrível no pote transparente. Davi deu risada e se aproximou.

Davi: Fica assim, não... —Colocou sua mão em cada lado do meu rosto e levantou, na direção do seu, juntando nossos lábios em um selinho demorado, que em poucos segundos se tornou um beijo lento e muito gostoso. O que esse homem beija bem, não está escrito.

Em poucos segundos, a pipoca nem era mais importante.

Meu foco estava nele.

Davi: Agora a gente pode pedir para o menor buscar a pipoca lá? — Cruzou os seus braços e eu tampei meu rosto, enquanto dava várias risadas, mas era de nervoso. Ele deu essa ideia de início, quando vim falar da pipoca, mas eu queria fazer do nosso jeitinho, a caseira. Enfim, a minha teimosia.

Inara: Agora, pode, né? — Ele riu, balançando a cabeça em negação e saiu da cozinha com o celular na mão. Aproveitei para pegar as coisas ali para limpar. Odeio comer, enquanto as coisas estão bagunçadas.

Henrique: Tá fazendo o que aqui?— Se projetou atrás de mim. Virei a minha cabeça na direção em que ele estava. A semelhança que ele tem com a Camilla é de outro mundo. Do Davi, ele só puxou o cabelo. Sempre no reflexo ou corte do jaca. Ele me olhava com uma expressão que eu não sabia decifrar se era de desdém ou ironia.

Refém Where stories live. Discover now