"Olá, hoje eu te vi pela televisão
Mostrando ao seu povo aquela canção
Cativando todos com a sua voz
Cá entre nós, que linda vozNão sai espalhando, mas eu sou seu fã.."
Menor t.
Neusa: E eu te perdi de vista, mas vejo sua conquista... — Passou a mão pelo meu rosto, enquanto cantava a nossa música favorita.
Seu rosto, nunca me esquecerei.
Seus olhos fundos, pelas noites mal dormidas. Sua boca toda ressecada, esbranquiçada, com alguns machucados em volta, pelas doenças sexualmente transmissíveis que a minha mãe contraiu.
Assim que meu pai foi embora. Minha mãe fez de tudo para que eu pudesse comer, até começou a vender seu corpo em troca de um saco de arroz e meia dúzia de ovos.Infelizmente, ela conheceu o mundo das drogas.
Começou a deixar umas mulheres estranhas, frequentarem a nossa casa. Eu era muito novo, então eu não tinha "voz", mas sempre soube que aquelas mulheres não eram uma boa companhia para a minha mãe.
Vi perfeitamente no dia que uma delas, chegou com um saquinho com pó branco e ofereceu para a minha mãe em troca do mesmo saco de arroz que ela ganhou em troca do seu corpo. "Tão miserável quanto nós.". Mas, eu não a culpo. Cada um corre para o lado que pode. Minha mãe foi refém de um abandono, refém da fome, da escassez. Ela só podia contar com ela mermo.
Ezequiel: Estou te esperando. Continue sonhando, estou logo atrás. Buscando mais. — Sorri genuinamente, encostando meus lábios na sua bochecha toda enrugada. Ela não era velha não, mas estava ficando. — Te amo, coroa!
Neusa: Coroa teu rabo! — Falou de um jeito ríspido e eu dei risada. — Minha mais importante opinião. É o mais resumido agradecer. O mais curto refrão que pude fazer. Mas não vá se importar, se eu fizer ele assim. Cantando...
Ezequiel: Pois, teu canto também me deixou cantando.
Neusa: Quero te abraçar, quando amanhecer.
Ezequiel: Com orgulho no peito, poder dizer.
Neusa: Olá... — Encerramos rindo, quando a música acabou e começou "melhor eu ir". Já coloquei a minha mão sobre o meu peito e fechei os olhos.
Ezequiel: Essa machuca! Canta mãe. — Empurrei ela, brincando e ela riu. Iniciando mais uma cantoria.
Mãe, sempre que o Periclão cantar. Vou me lembrar de você...
Neusa: Tu canta, hein, moleque! Poderia investir nisso.
Ezequiel: Que nada, meu bagulho é futebol. — Levantei e comecei a fazer embaixadinha com uma bola invisível. — Vou ser pique, Neymar. Jogar lá no Santos. Vai ter até música com o meu nome, bota fé?
Neusa: Boto fé, filho. Tu só não pode fazer uma coisa. — Falou com a expressão séria.
Ezequiel: O quê?
Neusa: Usar esse moicano horrível que ele está agora.
— Desfez a expressão séria e deu risada. — Não, porque aquele moicano está horrível. Parece até um passarinho.Ezequiel: Coe. — Dei risada e balancei a minha cabeça em negação. — Tá maluco? Vou lançar melhor que aquele. Quando eu for jogador, vou lançar um roxão logo.— Minha mãe fez careta. — Vai ficar maneiro, pô. Será minha marca registrada no futebol.
YOU ARE READING
Refém
FanficInara é uma jovem, negra, de Naturalidade Tupi-Guarani, mas foi criada no Rio de Janeiro, na comunidade da Penha, na zona Norte. Ela é uma mulher que gosta de curtir a vida, estudar e sempre foi muito ética. Mas ela se vê perdida ao perceber que est...