33.

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Davi lima.

X: Nada muito sério, Inara. Apenas gases no estômago. — Davi soltou uma risada nasal e eu olhei para ele bem séria. A médica sorriu sem mostrar os dentes e começou a digitar no computador. — Vou te passar um luftal. Borbulha um pouco, mas é normal. Preciso também que você mude um pouco da sua alimentação. Se não, esses gases podem evoluir para uma gastrite.

Inara: Tudo bem, doutora. Obrigada! — Sorri simpática. Ela se levantou, deu a volta, pegou dois papéis na impressora e voltou para sua mesa. — Vou precisar tomar algum remédio? — Indaguei, temendo pela injeção.

X: Só esse que acabei de te passar. — Respirei fundo aliviada, Davi negou com a cabeça e ficou me olhando como quem diz: "tu é muito dramática, garota.". Disfarcei que eu queria rir, olhando para frente e esperei a doutora me entregar os papéis. — Você quer que eu te passe um atestado?

Inara: Acho que não precisa.

X: Ok. Está aqui. — Me entregou os papéis. — Pega seu remédio ali na farmácia. Se eles não estiverem abertos, pelo horário. Vai à sala cinco e fala com a enfermeira Ana Lúcia que a doutora Sheila está pedindo luftal em gotas. — Balancei a minha cabeça em concordância e sorri simpática. Ela me desejou melhoras e eu saí, segurando a mão do Davi.

Davi: Na moral, garota. Tu é muito dramática, papo reto. — Falou assim que saímos da sala.

Inara: Mentira. Falei normal com você. Só disse estar sentindo dores fortes no estômago e falta de ar. O que não era mentira, eu realmente senti isso.

Davi: Não estou falando disso. Tu falou tranquilamente por telefone, mermo, tá. Mas quando cheguei aqui, parecia que você tinha sido diagnosticada com uma doença terminal e já estava pronta para enterrar. — Ri do exagero dele.

Inara: Mentira sua. — Falei rindo.

Davi: Mentira minha? — Apontou o dedo para si.— Eu cheguei aqui, tu estava jogada na cadeira. Falei contigo, tu só sabia chorar. Falando que ia morrer. Pediu para fazer ligação em grupo. Fazer blusa com teu nome...

Inara: Essa última parte é mentira! – Falei rindo.

Davi: Mas eu ia fazer mermo. Pegar uma foto tua bolada, meter duas asas de anjo e escrever "Inara Cairu. Deixará saudades na favela." É, vai na paz, irmão. Fica com Deus. Eu sei que um dia, eu vou te encontrar. Valeu, menor, espera eu chegar!—  Começou a cantar com a mão no peito e os olhos fechados. Olhei para o lado, vi as pessoas olhando para ele e cutuquei o mesmo.

Inara: Davi...

Davi: Que mundo é esse tão cruel que a gente vive? A covardia superando a pureza... — Cutuquei ele mais uma vez e ele começou a cantar mais alto.

Esse homem parece uma criança atentada às vezes. Depois, ele quer falar do Juninho.

Age igual.

Inara: Davi, para!

Davi: Oprimem... — Cantou bem baixinho e olhou para mim, encarei ele bem séria, mas não aguentei e comecei a rir.

Que homem idiota, cara.

Inara: Todo mundo olhando teu show. Vergonhoso. — Balancei a minha cabeça em negação e ele riu.

Davi: Sou gostoso, pô. Quem não olha?

Inara: Feioso! — Ele jogou um beijinho no ar para mim. —  Vem logo pegar meu remédio, Davi. —Puxei ele pelo braço.

Um menininho, loirinho, que estava sentado com a mãe, começou a rir. Davi virou para ele, com as sobrancelhas franzidas, e levantou o polegar, mandando um "jóia" para ele. O menino fez o mesmo gesto, fazendo a mãe dele rir.

Refém Where stories live. Discover now