35.

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Na mesma hora, olhei bem para o rosto dela.

Davi: Tá de sacanagem, Inara?

Inara: Não, Davi. Eu não estou de sacanagem, não. Sabe por quê? Você estava super bem falando com a criança, entrou na sala, viu a enfermeira e ficou todo bobo. Acha que eu não vi o jeito que você encarou ela, não? Seus olhos até brilharam. Intuição de mulher não erra. Eu não cismo à toa. — Balançou a cabeça em negação e eu me segurei para não dar risada. Essa mulher é maluca, papo só.

Davi: Cara... — Cocei a cabeça. — Não é isso, não.

Inara: É o que então? Me fala! Porque eu não estou entendendo! — Falou nervosa, mexendo nas unhas grandes, pintadas de vermelho.

Davi: Nem eu sei. O olhar dela tem alguma coisa estranha. Um bagulho que mexe comigo. Eu não sei explicar...

Inara: Tenta!

Davi: Pô, tu não vai entender!

Inara: Claro! Você não está nem tentando...

O pior não é nem isso.

Estou tentando explicar, mas nem sei o que está acontecendo.

Não é a primeira vez...

Esses olhos já me perseguem desde a primeira vez que vi na Upa.

Davi: Tá ligada à minha mãe? — Começo a sentir uma coceira interna. Esse assunto me pega muito. Sempre que posso evito, mas eu só consigo explicar o que está acontecendo para ela dessa forma.

O que eu não faço por essa mulher?

Inara: Sim...

Davi: Pô, tu não entende, cara. Tu nunca viu ela pessoalmente. É difícil de explicar. Sem caô.

Inara: Davi. Se você se esforçar para me explicar. Eu realmente vou entender. Agora, se você não quer explicar. Tranquilo! Vou embora e cada um segue sua vida.

Davi: Calma aí... — Coço a cabeça com força, respiro fundo e vou até o meu guarda-roupa, abro e puxo uma caixa toda florida com um laço de cetim em cima. Sinto a minha perna bambear um pouco, mas fechei a porta do guarda-roupa e sentei de frente para ela na cama. Passo a mão pelo meu rosto, um pouco nervoso, e coloco a caixa em cima da minha perna, desfazendo o laço de cetim.

Abrir aquela caixa era como se eu tivesse trazendo todas as lembranças do meu passado de volta à tona.

E eu não queria fazer aquilo.


Vt

Desenrolei a seda que estava no meu bolso, joguei a maconha por cima, fechei ali no talentinho. Na outra ponta, eu apertei, acendi com o isqueiro e levei aquela maconha até a minha boca, depois soltei aquela fumaça para cima. Sentindo aquela brisa relaxar todo meu corpo.

É muita coisa na mente.

Neguinho chega aqui pensando que o crime é o creme.

Não é não, parceiro!

Cheguei aqui pequenininho, mas para eu me tornar grande, foi muita luta.

Só Deus sabe pelo que passei. As coisas que tive que fazer para chegar até aqui.

Respirei fundo, encarando a minha imagem no espelho.

Passei a escovinha no meu reflexo recém-cortado e guardei no armário do banheiro, joguei o restinho de maconha no lixo e abri a porta, dando de cara com um corpo pequeno, usando uma blusa do Flamengo, que cobria até as coxas dela.

Refém Where stories live. Discover now