Eu me caguei de medo. Já havia entrado em algumas lanchas antes, mas nenhuma delas fora pilotada por Yudi. Na minha concepção, ele era um piloto nada confiável, coisa de filme de comédia (com o título de "Aperte os Cintos o Piloto F1"). Eu só torcia para que aquele inimigo do antidoping estivesse sóbrio.
Para minha sorte estava. Em verdade, tinha de estar, em breve nos encontraríamos com boa parte de seus familiares. E, pela minha breve experiência com seus pais, eles não tolerariam um Yudi mais solto do que o normal, ainda mais na frente do resto da família.
Além do mais, era um excelente piloto. Até o tombo das ondas ficavam suaves, eram amenizados pelas suas habilidades por trás do timão. O que não se tornava mais ameno era o meu nervosismo.
Estava mais inquieta do que quando conhecera seus pais. Para piorar, não sabia ao certo se isso se devia à quantidade de pessoas no local, a natureza dessas pessoas ou o local em si.
Meu segundo evento como sua namorada calhou de ser uma social na praia. E começara errado desde a minha arrumação. Fora quase impossível me vestir a caráter e atender a todas as exigências da lista e as peças de roupa permitidas no apêndice do contrato. Como ser praiana e esconder coxas e braços?
As saídas de praia de madame comportada me foram de extrema valia. Eu me vestira como alguém com o triplo da minha idade? Sim. Mantivera um visual que seria aprovado pelos sogrões? Também. Considerava isso uma vitória? Talvez. Dependeria da recepção dos demais. Afinal, eu estava ali para agradar a todos (sem exceções).
Quando a lancha parou, ele fitou-me com um semblante confuso e perguntou:
— Tudo bem aí? Você tá meio estranha.
— Um pouco receosa — confessei. — Isso não é o mesmo que mentir só pros seus pais em um jantar íntimo.
Ele se aproximou e colocou suas mãos sobre meus ombros.
— Eu sei. As coisas escalaram um pouco rápido, né? Mas fique tranquila. Você vai tirar de letra.
— E se...
— Confio na sua capacidade — interrompeu-me. — Você devia fazer o mesmo.
— Ok, coach, você me convenceu. — Um sorriso discreto desabrochou em meu rosto e os nervos se acalmaram com um só pronunciamento dele, como num passe de mágica, como se tudo que eu precisasse para ficar bem fosse uma palavra sua.
Ele me estendeu uma mão, em um gesto de convite para que eu o seguisse e, assim, juntos saímos ao ar livre. Enquanto funcionários amarravam a embarcação no píer, ele me ajudou a descer como um perfeito cavalheiro, permitiu que eu mantivesse a elegância que a muito custo eu fingia ter.
Logo após uma entrada triunfal, com o máximo de postura e bons modos que conseguimos empenhar, fomos recepcionados por seus pais. Mostraram-se muitíssimo satisfeitos com a minha presença e, sem demora ou inibição, me separaram de Yudi.
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Luz Vermelha
Romance+18 | Tudo que Yudi Takahashi mais quer é curtir a vida como se não houvesse amanhã. Mas querer não é poder. A sua realidade exige outra coisa dele. Sua família exige outra coisa. Arranjar uma esposa está entre as muitas exigências "veladas" de seus...