Eu afagava um desconhecido. Sua cabeça estava em meu colo e eu acariciava seu cabelo enquanto ele me contava seus problemas. Seria mais barato procurar uma psicóloga, sempre pensava.
Essa não era necessariamente uma reclamação. Estes eram meus melhores clientes, só queriam um pouco de atenção e carinho e não o conseguiam do jeito tradicional. Não tinham capacidade alguma de interagir com uma mulher sem arruinarem suas chances de conseguir algo a mais, fosse isso um segundo encontro ou mesmo uma simples companhia a longo prazo.
Também não eram desses tipos que destilavam ódio por conta de seus fracassos no amor, mas secretamente idolatravam mulheres e só queriam essa atenção especial. Eram só homens não muito habilidosos socialmente.
Ainda assim, eu não deixava de me perguntar: como é que eu vim parar aqui? A resposta eu sabia muito bem.
Aos 17 anos, fugi de casa apenas com a roupa do corpo e me refugiei na casa de uma amiga numa cidade a cerca de 400Km de distância da minha. Morei de favor por um ano. E, nesse meio tempo, sobrevivi como diarista, suando a camisa em casas de famílias.
Aos 18 anos, cansada da remuneração baixa e da minha jornada extensa de trabalho, resolvi me mudar para a capital e entrar no mundo das acompanhantes de luxo pela promessa do "dinheiro fácil", sem pensar nas consequências.
Hoje, aos 21 anos, eu enfiaria um sapato na boca de qualquer pessoa que falasse "dinheiro fácil" perto de mim. Naquele momento, sim, eu estava faturando sem fazer um pingo de esforço. Antes disso, havia passado por outros perrengues.
Ainda muito inocente, com a mentalidade de uma ingênua menina de interior, entrei para a intitulada "agência de modelos" do senhor Gilberto Bragança, a Damas das Águas, que não agenciava modelos coisa alguma.
Quando me dei conta de onde e no que eu havia me metido, já era tarde demais para desistir. Eu estava dentro de um bolo de papelão, tamanho gigante, indo ao encontro de algum homem potencialmente asqueroso e bem mais velho do que eu.
Eu nunca fiquei tão grata por ter errado feio na suposição quanto naquela noite. Yudi parecia um desses cantores que arrasta multidões de meninas e mulheres para lotar seus shows. A visão dele era bela. Sua voz, aveludada. Até mesmo sua pele era um deleite para os sentidos.
Eu cheguei ao ponto de me esquecer de que não devia revelar meu nome de verdade a qualquer cliente (em hipótese alguma). Ao invés de Nilo, alcunha recém-adotada por mim, acabei deixando escapulir o meu nome de batismo.
Eu cheguei ao ponto de o beijar — de novo indo de encontro às orientações recebidas —, de adorar beijá-lo inclusive. Também cheguei a um ponto crucial: o ponto no qual eu devia começar meu trabalho.
Apesar de nunca ter visto um homem nu na vida, não me inibi tanto quando foi chegada a hora de despi-lo. Tirar a roupa dele foi a parte fácil. Revelar outra camada de sua beleza nunca seria algo penoso. O problema foi a recíproca.
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Luz Vermelha
Romance+18 | Tudo que Yudi Takahashi mais quer é curtir a vida como se não houvesse amanhã. Mas querer não é poder. A sua realidade exige outra coisa dele. Sua família exige outra coisa. Arranjar uma esposa está entre as muitas exigências "veladas" de seus...